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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Por ti que eras ninguém e, no entanto, tudo eras (pois foste a terra que sustentou as vãs quimeras) nasceu a lenda do Cavaleiro da Triste Figura...

III Cena
Onde se conta do recrutamento de Sancho Pança como escudeiro pelo valente Manchego Dom Quixote de La Mancha
(Dom Quixote, Sancho Pança)

Sancho:
_ Licençaaaa...! Liçençaaaaa! Vossa mercê me chamou?

Dom Quixote:
_ Sim, amigo Sancho! Vou te propor algo que mudará para sempre o destino da tua pobre e obscura existência.

Sancho( Coçando a cabeça): _ Pobre sim... mas escura? (faz um muxoxo) Não é tanto assim... minha mulher é medrosa e bota tanta vela pelos cantos que aquilo mais parece uma encruzilhada em noite de sexta-feira...deusolivre! É luz pra todo o lado... tenho que me cuidar pra não queimar a barriga... cruz, credo!

Dom Quixote: _ Eu falei obscura... obscura, Sancho. De sem graça... sem cor... sem luz...

Sancho: _ Mas é o que lhe falei, senhor... luz tem... só que é de velas...

Dom Quixote (meneia a cabeça negativamente): Tá bem... quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece...

Sancho:
_ Mas, Dom Alonso... o que me propõe vossa mercê?

Dom Quixote:

_ Dom Alonso, não! Dom Quixote de La Mancha, grande cavaleiro andante, matador de magos e gigantes, protetor de Donzelas e viúvas desamparadas, e que nesta augusta e memorável oportunidade te convida para ser meu honorável e fiel escudeiro.

Sancho:
_ Me perdôe, vossa mercê... mas escudeiro??? Como assim?

Dom Quixote:
_ Escudeiro, Sancho. Aquele que acompanha os cavaleiros andantes, guarda e vela por suas armas e que ao final dos ferozes e heroicos combates tem direito aos despojos dos vencidos. Acaso nunca ouviste falar de El Cid, Bernardo di Carpio, Amadis de Gaula. Ou nunca sequer leste algo sobre eles?

Sancho:
_ Veja Vossa mercê... ademais de nunca haver saído da volta dos meus tomates, galinhas e porcos, saiba senhor Cavaleiro Andante, que eu nunca aprendi a ler e escrever e por isso não sou versado nessas regras da profissão cavaleiresca.

Dom Quixote:
_ Não te preocupes, Sancho. Quase nada terás que fazer. Somente me acompanhar e ser testemunha das grandes e memoriosas façanhas que irei protagonizar.

Sancho:
_ Me perdôe de novo, Vossa mercê. Eu lhe agradeço muito pelo convite, mas eu não estou mesmo acostumado aos usos e costumes de escuderia dos cavaleiros andantes e para mim “mais vale um toma agora que dois te darei depois”, por isso prefiro ficar com minhas coisas e a minha família.

Dom Quixote: ( Já um tanto alterado)
_ Não posso acreditar, Sancho! O que eu te proponho seria um motivo de orgulho e glória para qualquer pessoa da tua condição. E além disso eu te asseguro que em menos de uma semana, minhas vitórias serão tantas que vou te tornar governador de alguma ilha. Que isto de fazer governadores, condes, marqueses, de algum vale, ilha ou província a seus escudeiros é costume muito usado pelos cavaleiros andantes... Talvez até te conquiste um reino!

Sancho (pensativo, coçando o queixo, depois a barriga):
_ Reino? Quer dizer que dessa maneira, se eu fosse rei por algum milagre desses que vossa mercê me fala, a minha mulher viria a ser rainha e meus filhos infantes?!

Dom Quixote:
_ Pois... quem duvida?

Sancho: (demonstrando incredulidade)
_ Eu duvido! Porque tenho pra mim que ainda que Deus chovesse reinos sobre a terra, nenhum assentaria bem sobre a cabeça de Teresa Pança. Que mulher mais desafortunada!

Dom Quixote:
_ Não apequenes tanto teu ânimo, amigo Sancho, que venhas a te contentar com ser menos que um prefeito.

Sancho (novamente pensativo):
_ Pensando bem... ilhas, províncias, reinos... não vou desanimar, meu senhor. E ainda mais tendo tão principal e importante amo em Vossa mercê que saberá, por certo, me dar tudo aquilo que me venha bem e que eu possa carregar.

Dom Quixote:
_Vamos, então, meu escudeiro.

Sancho:
_ Vamos, meu senhor!

Partem ambos para as próximas aventuras ( música de fundo)


Fim do I Ato

 


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