III
Cena
Onde
se conta do recrutamento de Sancho Pança
como
escudeiro pelo valente Manchego Dom
Quixote de La Mancha
(Dom Quixote,
Sancho Pança)
Sancho:
_
Licençaaaa...! Liçençaaaaa! Vossa mercê me chamou?
Dom
Quixote:
_
Sim,
amigo Sancho! Vou te propor algo que mudará para sempre o destino da
tua pobre e obscura existência.
Sancho(
Coçando a cabeça): _
Pobre sim... mas escura? (faz
um muxoxo)
Não é tanto assim... minha mulher é medrosa e bota tanta vela
pelos cantos que aquilo mais parece uma encruzilhada em noite de
sexta-feira...deusolivre! É luz pra todo o lado... tenho que me
cuidar pra não queimar a barriga... cruz, credo!
Dom
Quixote:
_ Eu falei obscura... obscura, Sancho. De sem graça... sem cor...
sem luz...
Sancho:
_ Mas é o que lhe falei, senhor... luz tem... só que é de velas...
Dom
Quixote (meneia a cabeça negativamente): Tá
bem... quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece...
Sancho:
_
Mas, Dom Alonso... o que me propõe vossa mercê?
Dom Quixote:
_
Dom Alonso, não! Dom Quixote de La Mancha, grande cavaleiro andante,
matador de magos e gigantes, protetor de Donzelas e viúvas
desamparadas, e que nesta augusta e memorável oportunidade te
convida para ser meu honorável e fiel escudeiro.
Sancho:
_
Me perdôe, vossa mercê... mas escudeiro??? Como assim?
Dom
Quixote:
_
Escudeiro, Sancho. Aquele
que acompanha os cavaleiros andantes, guarda e vela por suas armas e
que ao final dos ferozes e heroicos combates tem direito aos despojos
dos vencidos. Acaso nunca ouviste falar de El Cid, Bernardo di
Carpio, Amadis de Gaula. Ou nunca sequer leste algo sobre eles?
Sancho:
_
Veja Vossa mercê...
ademais
de nunca haver saído da volta
dos meus tomates, galinhas e porcos, saiba senhor Cavaleiro Andante,
que eu nunca aprendi a ler e escrever e por isso não sou versado
nessas regras da profissão cavaleiresca.
Dom
Quixote:
_
Não te preocupes, Sancho. Quase nada terás que fazer. Somente me
acompanhar e ser testemunha das grandes e memoriosas façanhas que
irei protagonizar.
Sancho:
_
Me perdôe de novo, Vossa mercê. Eu lhe agradeço muito pelo
convite, mas eu não estou mesmo acostumado aos usos e costumes de
escuderia dos cavaleiros andantes e para mim “mais vale um toma
agora que dois te darei depois”, por isso prefiro ficar com minhas
coisas e a minha família.
Dom
Quixote: ( Já um tanto alterado)
_
Não posso acreditar, Sancho! O que eu te proponho seria um motivo de
orgulho e glória para qualquer pessoa da tua condição. E além
disso eu te asseguro que em menos de uma semana, minhas vitórias
serão tantas que vou te tornar governador de alguma ilha. Que isto
de fazer governadores, condes, marqueses, de algum vale, ilha ou
província a seus escudeiros é costume muito usado pelos cavaleiros
andantes... Talvez até te conquiste um reino!
Sancho
(pensativo, coçando o queixo, depois a barriga):
_
Reino? Quer dizer que dessa maneira, se eu fosse rei por algum
milagre desses que vossa mercê me fala, a minha mulher viria a ser
rainha e meus filhos infantes?!
Dom
Quixote:
_
Pois... quem duvida?
Sancho:
(demonstrando incredulidade)
_
Eu duvido! Porque
tenho pra mim que ainda que Deus chovesse reinos sobre a terra,
nenhum assentaria bem sobre a cabeça de Teresa Pança. Que mulher
mais desafortunada!
Dom
Quixote:
_
Não apequenes tanto teu ânimo, amigo Sancho, que venhas a te
contentar com ser menos que um prefeito.
Sancho
(novamente pensativo):
_
Pensando bem... ilhas, províncias, reinos... não vou desanimar, meu
senhor. E ainda mais tendo tão principal e importante amo em Vossa
mercê que saberá, por certo, me dar tudo aquilo que me venha bem e
que eu possa carregar.
Dom
Quixote:
_Vamos,
então, meu escudeiro.
Sancho:
_
Vamos, meu senhor!
Partem
ambos para as próximas aventuras ( música de fundo)
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