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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...



Lá no Cerro do Quilombo


Olha o Cerro do Quilombo,
Olha o cerro.
Quanta história não escrita
Desse tempo
Olha a fuga da charqueada
O saladeiro
Quanto vale a liberdade?
Povo negro

Olorum didê, saruê
Olorum didê
Cada pedra da cidade
Tem teu sangue
Cada grama desses campos
Teu sofrê
Olorum didê, saruê...


Corre da senzala, corre!
Se feitô te pega, morre!...

Corre da charqueada, corre
Se sinhô te pega, morre!...

Corre das estâncias, corre!
Se patrão te pega, morre!...


Olorum didê, saruê...


Vai sê tudo igual um dia... ainda vai sê
Raça índia, branca, negra... ainda vai sê
Mas enquanto esse dia ainda não chega
Vai pro Cerro do Quilombo... vai vivê!

Martim César


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Têm dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... Chico Buarque



Desígnios


Não que eu quisesse desfazer o dito
E dizer que o escrito num poema feito
Sangrando meu peito fosse sem razão

Não que eu falasse em perder o norte
Temendo essa sorte que tive contigo
Procurando abrigo longe da ilusão

Não que eu fizesse um novo caminho
Para andar sozinho esquivando a dor
Por temer que a flor me ferisse um dia

Não que eu sonhasse acordar o tempo
Em que o sentimento já não fosse mais
Que um dia de paz, tarde em calmaria...



Mas a vida às vezes tem os seus desígnios
Nos esconde signos, não nos mostra a curva
E em noites turvas nos atira ao chão

Mas a vida às vezes chega sem cuidado
Nos pega cansados, copo derramando
E é sempre quando vence a solidão

E é sempre quando, gota transbordando
Flor despetalando, a dor nos esperando
Amor naufragando, nasce uma canção.


                                                                                                                Martim César

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Califórnia da Canção 2014 - Uruguaiana



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O homem dentro do espelho

                            O homem dentro do espelho

                            É tão parecido ao de fora
                            Nos traços graves de velho
                            Nas mesmas rugas de agora

                            Porém o velho de dentro
                            É só o inevitável destino
                            Esperando a roda do tempo
                            Mudar o olhar do menino

                            Antes era o avô que morava
                            Nessa imagem refletida
                            Depois partiu, criou asas
                            Sem volta e sem despedida

                            Um dia o pai, feito um quadro,
                            Dentro do espelho fez casa
                            Até, também, ser levado
                            No tempo que a tudo abrasa
                           
                            Ficou o menino, distante
                            De sonhos claros, repleto
                            No outro mundo de antes
                            No alegre rosto dos netos
                  
                            Nunca pude compreendê-lo
                            Aceitá-lo é o meu destino
          O velho dentro do espelho
                            Já se esqueceu do menino

Para assistir a música:

www.youtube.com/watch?v=20Y1Djnc-pY

                            

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa. Ariano Suassuna



Mambembe rei, Suassuna


Um Quixote nordestino, duas pedras na algibeira
Criador e criatura de guimarânicas solidões
Enveredando por rosas; euclidiando nos sertões
Por Dulcineia, na garupa, a cultura brasileira!



Rei mambembe de párias, saltimbancos e bufões
Por castelo um poema de Inácio da Catingueira
Palavra dizendo ôxente; português como bandeira
Contra os moinhos alheios: teatro, versos, canções!



Sem a gaita de João Grilo, calou-se sua rouca voz
Mas seu legado resiste - pedra de um reino infinito -
Armorial arte de um povo; por meio, princípio e fim.



Senhora compadecida, dai-lhe um recado por nós
Mesmo que Chicó diga que fica o dito por não dito
Dito é certo que está! Eu não sei... só sei que foi assim!



Martim César