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terça-feira, 30 de julho de 2013

Letra da música que tirou segundo lugar em Cruz Alta - Prêmio Capitão Rodrigo



No olhar da última carreta

Chega de longe o rangido, muito antes da carreta
Que recém lá no horizonte, assoma em cima de um cerro
É a mesma cena de ontem que hoje transcorre lenta
E que – talvez - por antiga, ficou timbrada no tempo

Madeira e eixo gemendo na dor do passo que avança
Na cruz que os bois carregam, forçando o rumo na canga...
O santa-fé despenteado que contra o vento balança
Afrouxa mas não se cansa enquanto desce a barranca

A bombacha arremangada... a alpargata dura e gasta...
Da herança escassa da lida que hoje nomás termina
Dessas urgências de agora essa visagem se afasta
Só o seu recuerdo se arrasta pela memória sulina

A carreta some na estrada, no lento passo dos bois
Pressente o fim da jornada, seu tempo há muito se foi...
Mas quem ouvir seus antigos entenderá o que eu falo
Nas rodas dessas carretas cruzou a história do pago!

Retoma despacio o rumo... há que subir o repecho!...
(talvez faltem mais carretas pra ter paciência no mundo)
Por vezes um lamaçal se enfrenta ao peso dos eixos
Mas só lhe retarda o trecho, jamais lhe para um peludo!

Se hoje são só lembranças - deste presente – distantes...
Se não se ouvem rangidos, nem há mais rastros na estrada
Não pensem, estes de agora, que o tempo que segue adiante
Apaga o que veio antes e a tudo transforma em nada.

Diego Muller/Martim César



terça-feira, 23 de julho de 2013

Depois da curva da estrada, tem um pé de araçá... Renato Teixeira



Dois mil

A casa em que eu nasci tinha o número dois mil.

Não tenho uma boa memória,
mas disso eu recordo bem.

Dois mil...
Essa data, na minha mente de criança,
estava muito, muito distante.

Dois mil... distante demais.

Porém um dia, esse ano chegou.

Chegou e eu nem percebi.

Chegou e passou voando,
como costumam passar os anos.

E hoje, já passados tantos anos,
eu volto a ter a mesma sensação...

Dois mil...

O ano dois mil...

Já está muito, muito distante.


Martim César 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar. Zé Ramalho



O país das palavras perdidas

Não tenho muitos dons, 
Mas um eu acredito que tenho:
O de resgatar palavras quase esquecidas.

Por exemplo, a palavra 'mermando'.
No campo,
Quando dizem que a chuva está diminuindo,
Falam 'a chuva está mermando'.

Lá, quando dizem que o dinheiro está rareando,
Falam 'o dinheiro está mermando'.

Diminuindo ou rareando também servem,
Mas para coisas distintas.
Uma palavra de cada vez.

Para ambas as frases, serve a palavra 'mermando'.

Além de tudo, penso eu, 
Que é uma palavra muito mais poética.

Nesse outro país, o das palavras perdidas,
Existem milhares de palavras.

Esquecidas, apagadas, quase extintas.

Porém,
Basta alguém juntar as letras mágicas e nomeá-las,
Que elas se despertam e viajam até nós,
                                 e nem necessitam passaporte.

Parece até que sempre estiveram entre nós.

Não me acreditam?

Digam, então, a palavra 'escampar'.




Martim César

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Entre a poesia e a realidade, estamos nós, os sonhadores.




Uma ave chamada Quimera

O que eu queria?

O que eu queria de verdade
Hoje em dia...
É que a minha obra fosse tempestade
E que a minha vida fosse calmaria.


Martim César

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Soy sólo un pájaro perdido que vuelve desde el más allá a confundirse con un cielo que nunca más podré recuperar. Astor Piazolla/Mario Trejo



Pássaros de mesma plumagem


Tenho um amigo que disse
                que tinha um amigo que dizia
                      que os pássaros de mesma plumagem
                                               procuram voar juntos.

E que isso vale,
                     justamente para os amigos.

Não conhecia a frase, mas concordei no ato.

Boêmios, poetas, músicos e 
                               filósofos de botequim concordam.

Hoje esse amigo que tinha um amigo que dizia isso,
Tem um amigo que sempre repete essa frase.

É fato.

Os pássaros de mesma plumagem procuram voar                               juntos.




Martim César

quarta-feira, 17 de julho de 2013

E o futuro, é uma astronave que tentamos pilotar... Toquinho



A máquina de preparar o futuro

Na minha rua havia um senhor
que preparava o futuro.

Sempre que eu passava, ele estava ali
Montando uma estranha máquina.

Para que serve, perguntei.

Para preparar o futuro, contestou.

Num lado se coloca moedas de presente,
No outro colhe-se tesouros de futuro.

Ah!Entendi...

(Mas na verdade eu não entendia não)

E funciona?

Ainda não, mas vai funcionar um dia.

Legal!

Um dia, depois de muito tempo,
Eu voltei a passar em frente àquela casa.

Ele não estava mais.
Nem ele, nem aquela estranha engenhoca.

Fiquei pensando...

Será que ele já estava no futuro?

Ou será que de tanto se preocupar com o futuro
Havia se esquecido de viver no presente?

Nunca saberei.

Apertei com força a moeda que eu tinha no meu bolso.



Martim César

terça-feira, 16 de julho de 2013

O homem faz os relógios, mas jamais domina o tempo...




Método infalível para deter o tempo

Um dia eu acreditei ter encontrado o segredo
para deter o tempo,
De colocar uma ferramenta na engrenagem do tempo.
Uma palanca que detivesse essa locomotiva invisível.

Na verdade, munido de pinças de poesia,
Eu, delicadamente, capturei o tecido do tempo
E o coloquei em um cofre. Depois chaveei.

Do cofre eu peguei a chave.
E a chave eu atirei no fundo do oceano
(no fundo mais fundo das fossas Marianas)
Lá onde até os peixes possuem lanternas
para enxergarem seus focinhos.

O cofre eu coloquei em um baú. Chaveei.
Do baú eu peguei a chave.
E a chave eu levei para o cimo do Aconcágua,
E enterrei sob uma pedra
Lá onde nem os condores pousam por ser
muito alto e rarefeito.

O baú eu coloquei numa arca. Chaveei.
Desta vez com dois cadeados superpostos.
Da arca eu peguei as chaves.
E as chaves eu levei uma para cada pólo.
E as enterrei sob o gelo, durante a noite
(que lá dura seis meses).

Só então eu pude respirar tranquilo.

Mas então me dei conta
Que levara tanto tempo para deter o tempo
que já nada adiantava.

Até por que
desde um espelho que refletia a arca
onde estava o baú
onde estava o cofre

O tempo,
Sorrindo, enrugado e superior,
abanava a cabeça negativamente,
assim como zombando
                  da minha humana presunção.



Martim César 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

La infancia es la verdadera patria del hombre - Rainer Maria Rilke



Aluamento

Eu tinha um aluamento
Daqueles de não desaluar tão cedo.
Foi quando a mãe viu
Que eu tava com aquela tromba de elefante
E perguntou:
Que foi isso menino, que aluamento é esse?
Dormiste com os pés destapados?

Resmunguei.
Era por que a Mariazinha me disse que gostava
mais do Ribamar do que de mim...
Ara!
Mas eu não podia dizer... iriam caçoar!

Lembrei, então, do mormaço do meio dia,
Daquele solaço enquanto eu roubava jabuticaba...
Daquele solão batendo na minha moleira.

Não, mãe... foi insolamento!

Insolação, filho! Insolação.

Ufa! Respirei aliviado,
Ela não iria mais mangar de mim.

Pois é, mãe... a minha aluação é por causa
                                                 do insolamento!




Martim César

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando. Manoel de Barros





Raiz e asas

Arvorizei-me um dia,
Brotaram-me raízes rumo ao chão.
Mas eu segui batendo asas.

Arvorizei-me um dia,
Minhas raízes ficaram cada vez maiores,
Ainda que invisíveis.
 
Tu não as vês, mas estão aí...
É que hoje eu trago a minha terra
                                              sob os pés.






       Martim César

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Se este for um dia comum na Terra o ser humano irá destruir 115.000 m2 de Floresta, criará 72.000 m2 de deserto, eliminará 40 espécies... David Orr (1992)



Terra que te quero viva

A chuva que escorre no solo
Já não rega e carrega
O chão que não gera
Para o fundo dos rios
E os rios assoreados
Transbordam recados
Anunciando a chegada
De um tempo sombrio

Ao redor das cidades
As montanhas de lixo
Juntam homens e bichos
Revirando a miséria
Onde vejo um menino
Perguntando aos entulhos
Se é este o futuro
Que queremos pra terra

Terra, de alma cansada
Morrendo calada
Aos olhos da fome
Terra, senhora dos frutos
Pagando os tributos
Da ganância do homem...
Aos olhos da fome!

Quem só pensa no agora
Mata o chão com certeza
E a sua pobre riqueza
É que aperta o gatilho
Quem só pensa nos lucros
Sem olhar para o lado
Vai deixar de legado
Um deserto aos seus filhos

Silêncio na terra ao braço que berra
E mata nos matos o verde da vida
Uma trégua na guerra impiedosa que encerra
Em suas mãos o amanhã de uma herança exaurida”



Martim César                   

terça-feira, 9 de julho de 2013

O poeta é um caranguejo que escapou do balde...




Avis rara

Um bicho raro é o poeta... um fóssil vivo
Um dinossauro a ser extinto no futuro
Cuja ossada será exposta e – redivivo –
Dirão ter sido um farol frente ao escuro

Mas no presente é tão só um morto-vivo
Tido por doido, sempre aéreo e obscuro
Quando se mostra libertário é um nocivo
Quando faz versos por amor é um imaturo

Feito cigarra que não planta, nem produz
É um grande inútil o poeta... um infeliz
Que se crê (valha-me Deus!) um ser de luz

Vive de sonhos... a voar... sem ter raiz...
Melhor faria preso às varas de uma cruz
Posto que nada acrescenta à balança do país!



Martim César

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Que veinte años no es nada.... Gardel/Le Pera



Uma canção sobre a saudade

Talvez um dia distante
Daqui a vinte anos quem sabe
Não seja mais importante
Alguém falar de saudade

Porque a saudade envelhece
Igual a qualquer sentimento
Mesmo quando nos parece
Não se importar com o tempo

Já foi um querer imenso
Que nem cabia na gente
Mas foi morrendo em silêncio
E se apagou de repente

A saudade é mesmo assim
Um punhal feito de vento
Que parece não ter fim
Golpeando a alma por dentro

Mas um dia vai embora
Sem dar adeus na partida
Pois reconhece a sua hora
De deixar seguir a vida

E depois de muito tempo
De vinte anos... quem sabe?
Nos nasce outro sentimento

A saudade de ter saudade.


Martim César

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O que é o tempo?Se não me perguntarem eu sei, se me perguntarem, já não sei mais. Santo Agostinho




O poema que eu esqueci

Eu ontem fiz um poema
Pra ofertar ao meu amor
Mas como foi de memória
Quando eu dormi se apagou

Hoje quis ver se lembrava
Dos versos que eu tinha feito
Nem mesmo com reza brava
Já se apagou... não tem jeito!

Só recordo que eu deixava
Debaixo da tua janela
Uma flor toda encarnada
Que eu roubei da primavera

Só recordo que eu cantava
Como fosse um passarinho
E tu então me convidavas
Pra irmos juntos no caminho

Tu e eu, nós... e mais nada
Pra não mais sermos sozinhos!

Eu fiz ontem esses versos
Que eu tirei do coração
Mas guardei só de palavra
No papel não gravei não

Ainda noite era obra-prima
Manhazinha se desfaz...
Meu poema tão bonito
Se apagou... pra nunca mais!

Martim César





quarta-feira, 3 de julho de 2013

Festival de Música Popular de Canguçu

 Foi realizado na tarde do último sábado (29 de junho) a triagem do XVII FECANPOP - Festival Canguçu da Canção Popular. A atividade teve início as 14 horas e estendeu-se até as 21 horas, sendo realizada nas dependências da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Juventude e Mulheres.

Com mais de 80 músicas inscritas, com participantes de Canguçu, Palmeira das Missões, Guaporé, Itaqui, São Lourenço do Sul, Pelotas, Dom Pedrito, Bagé, Pedro Osório, Piratini, Rio Grande, Arroio Grande, Porto Alegre e Balneário Camburiú-SC, os avaliadores escolheram as 15 participantes que se apresentarão no sábado (03 de agosto) no Festival.

O corpo de avaliadores desta edição é composto por Martim Cesar Gonçalves, poeta de Jaguarão, Paulo Timm, compositor/melodista de Jaguarão, Daniel Zanotelli, arranjador de Pelotas, Pedro Munhoz, canta-autor, poeta e melodista de Barra do Ribeiro e Marco Gottinari, canta-autor, poeta e melodista da Maciel/Pelotas.

Segue abaixo a relação das músicas classificadas em ordem alfabética, bem como, seus autores, ritmos e respectivas cidades.

Classificadas:
1 - Antiga Canção de Rio
Letra: João Sampaio
Melodia: Robledo Martins e Márcio Scheer
Ritmo: Canção
Cidade: Itaqui e Guaporé

2 - As Dores do Campo
Letra/Melodia: Miguel Borba
Ritmo: Milonga Canção
Cidade: Canguçu

3 - Bestas
Letra: Marília Floôr
Melodia: Ricardo Petrucci
Ritmo: Balada
Cidade: Pelotas

4 - Biografia
Letra/Melodia: Juliano Guerra
Ritmo: MPB
Cidade: Canguçu

5 - Bossária
Letra/Melodia: Julio Casarin
Ritmo: Bossa Nova
Cidade: Canguçu

6 - Canção de Barro
Letra: Marília Floôr
Melodia: Marco Antônio Alves
Ritmo: Toada
Cidade: Pelotas

7 - Chove
Letra/Melodia: Raineri Spohr
Ritmo: Mazurca
Cidade: Dom Pedrito

8 - Comportamento Predatório
Letra/Melodia: Marquinho Brasil
Ritmo: MPB
Cidade: Pelotas

9 - De Bença
Letra: Marília Floôr
Melodia: Ricardo Petrucci
Ritmo: Baião
Cidade: Pelotas

10 - Eu Canto pra Canguçu
Letra/Melodia: Éderson da Fonseca Vargas
Ritmo: Trova
Cidade: Canguçu

11 - Escritura do Amor
Letra: Igor Cougo
Melodia: Igor Cougo e Bruno Tamboreno
Ritmo: Blues
Cidade: Porto Alegre

12 - Lira do Amor Distante
Letra: Sidney Bretanha
Melodia: Sandro Campello
Ritmo: Canção
Cidade: Arroio Grande

13 - Mas a Vida Segue
Letra/Melodia: Solano Ferreira
Ritmo: Rock
Cidade: Pelotas

14 - O que vai Sobrar
Letra/Melodia: Solano Ferreira
Ritmo: Rock
Cidade: Pelotas

15 - Rocks Rurais
Letra: Jeferson Soares de Almeida
Melodia: Leonardo Vitienzo
Ritmo: Rock, MPB, Progressivo, Folk
Cidade: Canguçu

Suplentes:
1 - Canções, Canções - Canção
Letra/Melodia: Sulimar Rass
Cidade: Pelotas

2 - Quintal das Ilusões - Blue Jazz
Letra: Henry Lopes
Melodia: Andriego Garcia Von Laer
Cidade: Piratini e Canguçu


Salientamos ainda que fica aberto, a partir de hoje (03 de julho), o prazo de recurso de cinco (05) dias úteis contra o não ineditismo de alguma obra, destacando que o ineditismo se refere a exploração/comercialização em grande escala de CDs/DVDs de alguma dessas obras, ou a mesma ter obtido premiação em algum outro festival.

A XVII edição do FECANPOP acontece nos dias 03 e 04 de agosto, no Cine Teatro Municipal 27 de Junho Professor Antônio Joaquim Bento - Canguçu/RS, com a apresentação das 15 músicas classificadas no sábado e as 10 finalistas no domingo, com show de abertura de Pedro Munhoz e Trio (autor da música "Canção da Terra" - tema da novela da Globo "Flor do Caribe") e de encerramento show "Acordar" com Marco Gottinari (autor da música "Carrossel" - campeã da XVI edição do FECANPOP).

Qualquer dúvidas e/ou mais informações, podem ser obtidas com a Comissão Organizadora, pelos seguintes e-mails: alan.redu@cangucu.rs.gov.br; italo.dorneles@cangucu.rs.gov.br; cultura.turismo@cangucu.rs.gov.br.


Comissão Organizadora

Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Juventude e Mulheres

terça-feira, 2 de julho de 2013

Lo más terrible se aprende enseguida y lo hermoso nos cuesta la vida. Silvio Rodriguez



Lutas inglórias


Hoje eu venho te falar de muitas guerras
De outras terras que estão bem mais além
Mas não quero relembrar todo esse sangue
E sim dizer de um tempo novo que já vem

Pois tudo o que passou abriu caminho
Entre os espinhos para o aroma de uma flor
É a própria vida nos mostrando que o amanhã
Nasce da escolha desse dia que se foi

É o rumo claro, o que não tem preço que pague
A nossa verdade que nos vale aonde for
É o compromisso de fazer valer o tempo
Seguir em frente defendendo o nosso dom

É a nossa parte na estranha arte de sonhar
Não se deixar levar na força da corrente
Porque mais vale é cantar, mesmo pra poucos
Com a liberdade de dizer o que se sente

Lutas inglórias como as muitas que perdemos
Lutas inglórias como tantas que já tive
Mas que não pesam na consciência, são memórias
Que hoje bem sabem o valor de sermos livres!!!



Martim César