No
olhar da última carreta
Chega
de longe o rangido, muito antes da carreta
Que
recém lá no horizonte, assoma em cima de um cerro
É
a mesma cena de ontem que hoje transcorre lenta
E
que – talvez - por antiga, ficou timbrada no tempo
Madeira
e eixo gemendo
na dor do passo que avança
Na
cruz que os bois carregam, forçando o rumo na canga...
O
santa-fé despenteado que contra o vento balança
Afrouxa
mas não se cansa enquanto desce a barranca
A
bombacha arremangada... a alpargata dura e gasta...
Da
herança escassa da lida que hoje nomás termina
Dessas
urgências de agora essa visagem se afasta
Só
o seu recuerdo se arrasta pela memória sulina
A
carreta some na estrada, no lento passo dos bois
Pressente
o fim da jornada, seu tempo há muito se foi...
Mas
quem ouvir seus antigos entenderá o que eu falo
Nas
rodas dessas carretas cruzou a história do pago!
(talvez
faltem mais carretas pra ter paciência no mundo)
Por
vezes um lamaçal se enfrenta ao peso dos eixos
Mas
só lhe retarda o trecho, jamais lhe para um peludo!
Se
hoje são só lembranças - deste presente – distantes...
Se
não se ouvem rangidos, nem há mais rastros na estrada
Não
pensem, estes de agora, que o tempo que segue adiante
Apaga
o que veio antes e a tudo transforma em nada.
Diego
Muller/Martim César
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