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terça-feira, 16 de julho de 2013

O homem faz os relógios, mas jamais domina o tempo...




Método infalível para deter o tempo

Um dia eu acreditei ter encontrado o segredo
para deter o tempo,
De colocar uma ferramenta na engrenagem do tempo.
Uma palanca que detivesse essa locomotiva invisível.

Na verdade, munido de pinças de poesia,
Eu, delicadamente, capturei o tecido do tempo
E o coloquei em um cofre. Depois chaveei.

Do cofre eu peguei a chave.
E a chave eu atirei no fundo do oceano
(no fundo mais fundo das fossas Marianas)
Lá onde até os peixes possuem lanternas
para enxergarem seus focinhos.

O cofre eu coloquei em um baú. Chaveei.
Do baú eu peguei a chave.
E a chave eu levei para o cimo do Aconcágua,
E enterrei sob uma pedra
Lá onde nem os condores pousam por ser
muito alto e rarefeito.

O baú eu coloquei numa arca. Chaveei.
Desta vez com dois cadeados superpostos.
Da arca eu peguei as chaves.
E as chaves eu levei uma para cada pólo.
E as enterrei sob o gelo, durante a noite
(que lá dura seis meses).

Só então eu pude respirar tranquilo.

Mas então me dei conta
Que levara tanto tempo para deter o tempo
que já nada adiantava.

Até por que
desde um espelho que refletia a arca
onde estava o baú
onde estava o cofre

O tempo,
Sorrindo, enrugado e superior,
abanava a cabeça negativamente,
assim como zombando
                  da minha humana presunção.



Martim César 

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