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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Afinal, chegou o dia! Sancho Pança vibra e pensa no seu descanso merecido, na sua justa recompensa... a sua ilha tão sonhada hoje é mais do que miragem.




O cavaleiro derrotado

 

 

Talvez o tempo, que tudo envolve em densas brumas

Possa esquecer o que escreveram tantas plumas

E apague a dor de ver-se os sonhos destruídos.

 

 

Fidalgo errante, ontem vencedor de mil batalhas

Hoje o que resta? Só o descanso ou as mortalhas

A inglória sina que é o espólio dos vencidos.

 

 

Efêmera é a conquista e toda glória passageira

Mas a derrota... perdura sempre a vida inteira

Ainda que pouco hoje te reste por viver.

 

 

Prefiro a morte – hás de dizer – prefiro a morte!

Já que os Deuses não te deram melhor sorte

E à tua amada... tu honrarás até morrer.

 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Qual a de El Cid – Dom Quixote, hoje é a tua fama porque provaste a formosura sem igual da tua dama e ainda perdoaste a quem venceste no combate.




Arremetem os cavaleiros, uma, duas, três vezes. Na última, estrepitosamente – lança ,escudo, elmo rolando - cai Dom Quixote derrotado. Blanca Luna se aproxima do vencido e lhe apontando com a lança em seu pescoço lhe diz:

Blanca Luna:
_Vencido sois cavaleiro e se não confessais as condições do nosso desafio terei que matar-vos.


Quixote:
_ Dulcinéia del Toboso é a mais bela e virtuosa mulher deste mundo e eu o mais desgraçado cavaleiro de toda a Terra. Jamais turvarei a imagem da minha amada. Pode me tirar a a vida, cavaleiro, já que a honra já me tiraste.

Blanca Luna:
_ Isso certamente eu não farei. Viva! Viva com sua devoção à formosura de sua senhora Dulcinéia. Eu me contentarei com que o grande Dom Quixote se retire para sua terra como havíamos combinado antes, respeitando assim os mandamentos da cavalaria andante.

Quixote (levantando-se com dificuldade)
_ Aqui se acabam as aventuras de Dom Quixote de La Mancha. Desde hoje e para sempre, os caminhos de Espanha não mais verão cruzar o Cavaleiro da Triste Figura.

Dom Quixote vai saindo derrotado, arrastando a espada, secundado por Sancho que leva a bacia (escudo).


(música de fundo)


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Os bardos cantarão tua façanha aos quatro ventos e nos sete mares... nas tabernas... nos conventos... hão de narrar cada nuance desse embate.




A ilha de Sancho Pança

 

Afinal, chegou o dia! Sancho Pança vibra e pensa

No seu descanso merecido, na sua justa recompensa

A sua ilha tão sonhada hoje é mais do que miragem.

 

 

Servos, terras e riquezas... eis aqui seu governante

Que é justo por ser sábio e que é sábio por andante

Pois nas agruras do caminho fez a sua aprendizagem.

 

 

Porém estranho é o destino (ainda mais a alma humana)

E entre a paz da sua guarida e a aventura mais insana

O escudeiro já não sabe qual a sorte preferida...

 

 

Há que seguir! Pensa e pondera Sancho Pança...

Há que seguir! Manter acesa a chama da esperança

Pois, afinal, não será ela a razão da própria vida?

 

 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nem os cruzados na guerra santa contra os mouros, nem os romanos com suas glórias, com seus louros fariam frente ao valor da tua destreza.


Os cavaleiros buscam ocupar seu lugar para a confrontação. Enquanto isso os respectivos escudeiros entabulam o seguinte diálogo.

Escudeiro Narigón:
_ Saiba irmão, que é costume dos combatentes de Andaluzia não ficarem ociosos, de braços cruzados, enquanto seus amos se enfrentam. Digo isso para que se prepare porque teremos que combater também.

Sancho (contemporizando):
_ Pode acontecer isso na sua terra, companheiro, porém aqui, nós, os escudeiros andantes de la Mancha e adjacências, enquanto os nossos senhores peleiam, nos dedicamos a uma boa conversa, com comida e bebida, o que resulta ser menos perigoso e muito mais proveitoso para a saúde de um cristão.

Narigón (brabo):
_ Mas isso vai contra todas as regras cavaleirescas. Termos que lutar, nem que seja por meia hora!

Sancho(gritando e depois amaciando a voz):
_ Isso é que não, caramba! Ainda mais que não temos razão alguma para isso. E se acaso estou rompendo alguma das regras da cavalaria, prefiro de bom grado... pagar uma multa!

Narigón:
_ Irmão! Se queres razão para despertar a tua cólera, antes que comecemos a peleia, eu te darei dois ou três encontrões te jogando ao chão. Creio que isto será o suficiente.

Sancho(brabo):
_ Bem, nesse caso, antes que tentes fazer isso, eu vou te partir a cabeça com cinco ou seis pauladas te deixando inconsciente, evitando assim que me batas e me dês alguma razão pra brigar contigo.

Narigón (assustado):
_ Bem... contra tão forte argumento me parece melhor seguir a tua ideia e que confraternizemos, então, com comida e bebida, enquanto assistimos o combate.

Sancho(concordando com a cabeça):
_ Isso me alegra muito... melhor é um luxo, pior... é um desastre! 

 


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Quando agora te recolhes ao descanso que mereces e os humildes te reclamam e as donzelas fazem preces... toda a Espanha se pergunta, de Catalunha à Andaluzia...







O cavaleiro vitorioso 
 

Os séculos vindouros hão de saber da tua vitória
 
Pois outra igual jamais houve em toda a historia
 
Nem haverá outra maior que a tua proeza.
 
 

Nem os cruzados na guerra santa contra os mouros 
 
Nem os romanos com suas glórias, com seus louros 
 
Fariam frente ao valor da tua destreza.  
 

Os bardos cantarão tua façanha aos quatro ventos
 
E nos sete mares... nas tabernas... nos conventos... 
 
Hão de narrar cada nuance desse embate.  
 

Qual a de El Cid - Dom Quixote, hoje é a tua fama
 
Porque provaste a formosura sem igual da tua dama 
 
E ainda perdoaste a quem venceste no combate.
 
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

E se afirmarem que viu-se derrotado em seu intento, que eram apenas moinhos impulsionados pelo vento há de ser pela magia que iludiu também a Cervantes!


II Cena

(Cavaleiro da Blanca Luna/Sanção Carrasco,escudeiro Narigón, Sancho, Quixote)

Onde se conta a última batalha do Cavaleiro da Triste Figura

Quixote e Sancho estão escorados sob uma árvore descansando. Ouve-se os roncos dos dois. Ao sentir o ruído de cavalos se aproximando Dom Quixote se levanta e tenta acordar Sancho.

Quixote (pondo a mão sobre a fronte para enxergar melhor):
_ Desperta Sancho, vem alguém. Sinto cheiro a aventuras.

Sancho (espreguiçando-se ruidosamente):
_ Da minha parte seria melhor sentir cheiro a um bom churrasco... de ovelha de preferência... ah! Que saudade...

Quixote:
_ Pelo porte e pelas armas que carrega deve ser um cavaleiro andante. Ainda mais que um escudeiro lhe segue.

Aproxima-se o Cavaleiro da Blanca Luna ( que é o próprio Sansão Carrasco disfarçado) acompanhado por seu escudeiro Narigón. Blanca Luna traz o elmo posto e seu companheiro tem como característica um nariz descomunal.

Blanca Luna:
_ Narigón...Narigón... Onde estás? (Os dois se confundem e não conseguem se enxergar um atrás do outro) Pára... pára... estás me deixando tonto.
- Apeia amigo e busca um lugar com sombra para que descansemos. Enquanto isso eu farei uma oração para a minha mui amada Cassildéia de Vandalia.
Depois de uma breve pausa: _“ Oh, minha Cassildéia A mais formosa e ingrata de todo o universo. Por que consentes em que eu me consuma em contínuos e ásperos trabalhos e peregrinações? Não basta fazer confessar que és a mais bela de todo o mundo a todos os cavaleiros que já derrotei? Cavaleiros de Navarra, de León, de Castela e de.... (virando-se para Dom Quixote)La Mancha!

Quixote (falando rispidamente):
_ Isso não é verdade, senhor!

Blanca Luna:
_Como se atreve a duvidar das minhas palavras, senhor...senhor...?

Quixote:
_ Quixote. Dom Quixote de La Mancha, Cavaleiro da Triste Figura, luz e espelho da cavalaria espanhola.


Blanca Luna:
_ Eu sou o Cavaleiro da Blanca Luna e em sua busca andava insigne fidalgo. Muito escutei falar de suas façanhas e venho a desafiá-lo para lhe provar que minha amada Cassildéia de Vandália é mais formosa que sua senhora, Dulcinéia del Toboso.

Quixote:
_ Isso nunca! Saiba que a formosura da minha amada Dulcinéia não encontra par em todo o mundo.

Blanca Luna:
_ Duvido muito... mas então Dom Quixote, somente teremos uma forma de chegar a um veredicto sobre essa controvérsia. Eu o desafio e se, por ventura, eu saia vencedor, imponho de antemão minhas condições... porém se acaso venha a ser eu o derrotado, aceitarei de bom grado suas determinações.

Quixote:
_ Aceito o seu desafio. Imponho como minha única e inapelável condição que, caso seja eu o vitorioso e não o mate, vá render homenagem à incomparável senhora Dulcinéia del Toboso.

Blanca Luna:
_Assim farei Dom Quixote . No entanto, se eu o venço, além de reconhecer a Cassildéia de Vandália como a mais formosa, não quero outra satisfação que a de que deixe suas armas e se abstenha de buscar aventuras, retirando-se para sua terra e assim voltando a cuidar da sua fazenda.

Quixote:
_ Assim eu juro, com minha palavra de cavaleiro. Às armas...

Blanca Luna:
_ Às armas, então!


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Os séculos que virão hão de lembrar sempre do dia em que o heroico cavaleiro, com destreza e galhardia enfrentou o mais feroz e mais temível dos gigantes


Ama:
_ E essa não foi a pior. E a história dos moinhos de vento?

Sansão:
_ Moinhos? Mas que moinhos?

Ama:
_ Nosso vizinho Sancho, a quem Dom Alonso insiste em chamar de seu fiel escudeiro, trouxe o meu senhor todo estropiado depois que o pobre caiu do cavalo ao ser golpeado por um aspa de moinho.

Sansão:
_ Então foi um acidente...

Ama:
_ Por Deus! Segundo o Sancho, Dom Alonso disse que os moinhos eram gigantes e se atracou com eles. Foi um desastre... agora faz como duas semanas que está de cama.

Sobrinha:
_ O pior é que o meu tio dá mostras de querer reiniciar suas loucas aventuras. Nas vezes anteriores voltou quase morto. Eu temo que na próxima aconteça algo mais grave ainda.

Ama:
_ Deus meu! Que Nossa Senhora nos livre e guarde! (golpeando três vezes a madeira)

Enquanto a sobrinha fala o que adiante se narra, Dom Quixote aparece em roupas de dormir e escuta com o semblante espantado

Sobrinha:
_ Não há dúvida que o meu tio está completamente obcecado por essas fábulas e mentiras de cavaleiros andantes que leu nos livros.

Quixote em tom alto:
_ Fábulas e mentiras? Pelo Deus que nos governa! Se não fosses minha sobrinha não te perdoaria tanta insolência. Apesar de tudo o que disseste eu terei que seguir o meu caminho. O mundo e as aventuras me esperam!... além, é claro, do amor de Dulcinéia. Não posso me esquivar do meu destino de cavaleiro.

Sobrinha:
_ Será que terei que me queixar ao Rei?

Sansão:
_ Acalme-se senhorita! (Se dirige a Dom Quixote e diz:) _ Senhor Dom Quixote de la Mancha. Muito ouvi falar das suas façanhas... elas inclusive já ultrapassaram as fronteiras manchegas e quiçá de toda Espanha.

Quixote (com satisfação):
_ Verdade?

Sansão:
_ Saiba vossa mercê que o admiro muito e lhe rogo que prossiga em seu batalhar. Que gigantes e feiticeiros existem muitos, e sem sua lança nos combates, por certo nossa pátria se tornaria indefesa!

(Estão todos petrificados pelo que ouviram do bacharel)

Quixote:
_ Enfim alguém que tem cérebro nesta casa! Saiba sábio e valoroso jovem, que já estou quase pronto para enfrentar as ferozes e desiguais batalhas vindouras. Preparem-se vilões e tiranos do mundo que Dom Quixote de La Mancha voltará em breve!

(Dizendo isto se recolhe para o seu quarto)

Padre:
_ Mas... o que disseste? Ficaste louco também?

Sansão:
_ Não, senhores! Concebi um plano. Um plano que definitivamente vai fazer Dom Alonso voltar à realidade.

Sobrinha:
_ E que plano é esse?

Sansão:
_ Em breve saberão...”A Deus rezando mas com o porrete dando”.








terça-feira, 20 de novembro de 2012

Que lhe importa se a magia de um malvado feiticeiro, com seus ardis, desvirtue o olhar do mundo inteiro para que ninguém veja nada mais do que moinhos?

III Ato
Realidade
I Cena

(Ama, sobrinha, padre, barbeiro, Sansão Carrasco, D. Quixote)


Onde se apresenta o Bacharel Sansão Carrasco à família de Dom Alonso, além de algumas conversações dignas de serem registradas.

Sala de estar da casa de Dom Alonso. A ama faz limpeza, a sobrinha borda. Golpeiam a porta.

Sobrinha:
_ Devem ser nossos amigos.

Ama:
_ Podem entrar!

Entra o padre secundado pelo barbeiro como no II ato e mais atrás o bacharel Sansão Carrasco. A ama e a sobrinha beijam a mão do padre respeitosamente e saúdam ao barbeiro. O padre lhes apresenta o bacharel.

Padre:
_ Senhoras, apresento-lhes o bacharel Sansão Carrasco, de Salamanca, filho de um amigo meu, profundo conhecedor das histórias de cavalaria, ademais de exímio espadachim. Ele está muito interessado no caso de Dom Alonso.

Ama e sobrinha saúdam o bacharel

Sobrinha:
_ Oxalá possa nos ajudar, senhor, por que já estamos perdendo as esperanças.

Sansão:
_Tenho escutado várias histórias sobre o seu tio. Poderia me contar o que há de verdadeiro em tudo isso?

Sobrinha:
_Na verdade eu lhe digo, senhor Sansão, que o meu tio se envolveu em tantas loucuras que eu passaria horas para contá-las. Agora anda com uma bacia na cabeça que diz ser um tal Elmo de Mambrino.

Sansão:
_ O encantado elmo que Reinaldo de Montalban tomou do mouro Dardinel dal Monte em uma famosa obra de cavalaria.

Sobrinha:
_ Mas senhor Sansão, eu vi e lhe asseguro que não passa de uma bacia de barbeiro.

Sansão:
_ Claro, senhorita , eu lhe falei do que Dom Alonso acredita que é.

Barbeiro:
_ Na aldeia falam de una história de prisioneiros...

Ama:
_ Por Deus! Toda Espanha já sabe...

Sansão:
_ É... mas me contem o que aconteceu...

Barbeiro:
_ Dom Alonso ou Dom Quixote, que sei eu, encontra uma dúzia de condenados escoltados pela milícia real. Ao vê-los acorrentados lhe deu na teia que deveria libertá-los, e acredite que com sua loucura conseguiu amotiná-los com o que puseram pra correr os soldados do Rei.

Padre:
_ E dizem que depois de libertá-los exigiu que fossem até Toboso para prestar homenagem a sua Donzela Dulcinéia. Vejam só que disparate!

Sansão:
_ E eles foram?

Padre:
_Que nada! Os prisioneiros lhe deram uma surra, isso sim... uma sumanta tão grande que por pouco não o mataram .


(continua)