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sexta-feira, 30 de março de 2012

Filhos criados que se foram para o povo, tentar a sorte feito novos retirantes...


 


Dedo de prosa


Vê... Deolinda
O teu minino cresceu
Tão moço se foi ainda
Por esse mundo de Deus
Agora chega letrado
Não se parece a nóis, não
Escuita esse palavriado
Bunito feito oração

Vê... Deolinda
Passô a vida de apuro
Tu que foste a mais linda
De tudo em vorta, te juro
Agora óia o teu filho
Cresceu, já é home feito
E tem esse mesmo brilho
Que um dia teve teu jeito

Mas Deolinda... te digo
Têm coisas que nunca sei
Que vai sabê um mendigo
Pra quem todo mundo é rei?
Só que esse moço podia
Nos visitá vez em quando
E dar só essa alegria
A quem só vive esperando

Sei, Deolinda... é o destino
De quem é muito ocupado
Eu deixo em paz nosso filho
Que Deus ajude o coitado!
Velho tem essas manias
De andá cobrando lembrança
Ele há de vir qualquer dia
Antes que morra a esperança.

Martim César

quinta-feira, 29 de março de 2012

Quem viu, duvida que viu. Quem pensa que viu, não viu. Aparício Silva Rillo




A viúva de Quinteros

Ninguém sabe o paradeiro
Da viúva de Quinteros
Que se foi sem deixar rastros
Que partiu pra nunca mais...

Restou um rancho deserto
Olhando pra o campo aberto
E já esquecido por Deus
E mil causos na memória
Que tentam contar a história
Como de fato ocorreu

Mas ao certo ninguém sabe
Qual o seu fim ninguém responde
Se morreu, onde está o corpo?
Se partiu, se foi pra onde?

Viu seu marido e seu filho
Partirem na leva um dia...
Mas por que não retornaram
Se tantos sobreviveram?
Onde estão os prisioneiros
Da batalha de Quinteros?

Ninguém sabe o paradeiro
Da viúva de Quinteros
Que se foi sem deixar rastros
Que partiu pra nunca mais...

Na ponta rubra da lança
Uma tesoura de esquila
Adorna o peito sangrado
De outro Blanco assassinado
E junto ao corpo estendido
Sempre um lenço colorado...

O mesmo lenço encarnado
Que se extraviou em Quinteros
E que reclama em silêncio
A morte dos prisioneiros

Morreram muitos depois
E todos de igual maneira
E viram um lenço rubro
Ao lado da esquiladeira
E – sempre - em seus enterros
A mesma mulher de negro

Mas ao certo ninguém sabe... 



Martim César

(Baseado em outra personagem imortal do escritor Aldyr Schlee)