Os poetas estão
mortos
Reunião
de cúpula dos senhores da guerra.
O
generalíssimo fala:
“ -
Finalmente os poetas estão mortos.
Não
restou nenhum habitante desse reino de ilusões.
Podemos
seguir para a segunda fase da nossa conquista.
Reitero:
- Os poetas estão mortos... todos eles.”
Porém,
no final da mesa (aquelas mesas gigantescas) alguém grita:
“-
Mas e a poesia, como haveremos de matar a poesia?”
O
generalíssimo olha com furor para o seu inquiridor
(um
reles general de divisão, recém promovido)
E
contesta:
“-
Se os poetas estão mortos, logicamente a poesia também está morta.
-
Mas senhor... eu ainda recordo várias poesias... isso não quer
dizer que a poesia não morreu?
-
Já trataremos disso.”
Olha
para os outros comandantes. Alguns graduados com medalhas adornando
suas fardas militares.
“-
Fuzilem-no”.
Sob
protestos o infeliz general é carregado, vendado e fuzilado.
“Agora
sim a poesia está morta.”
Ninguém
se atreve a contestar.
Contudo,
misteriosamente, nos dias que se seguem, todos os presentes àquela
reunião de cúpula começam a se suicidar.
O
generalíssimo não se suicida, mas enlouquece. Também ele acaba
tentando o ato extremo, mas lhe falta a coragem necessária.
Assim
perde o mando e é, por fim, internado em um manicômio.
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Dizem
os cronistas que ele anda hoje em dia pelos corredores a recitar
incansavelmente alguns versos de Neruda.
Martim
César
Otimo
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