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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Una moneda, por favor...



          Calle Soledad


Tengo un pantalón roto
Y una canción
        Una guitarra con rasguños
        Y un corazón
        Que perdí en una noche
        Cuando salí
        A buscar lo que ya estaba
        Dentro de mí
        Laberintos del amor...

        Tengo una mirada oscura
        De papel carbón
        Unos zapatos ya gastados
        De andar al sol
        Y un alma que no para
        De andar por ahí
        A cruzar la madrugada
        Buscando por ti
        Sin darme razón...

        Es la calle Soledad
        Donde va el amor
        A reírse de quien sueña
        Robarle una flor

        Es la calle Soledad
        Hágame el favor
        De dejar una moneda
        Gracias, mi señor

        Una calle sin salida
        Rumbo al dolor
        Es la calle Soledad
        Donde va el amor.


                                                Martim César

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Penso, logo resisto

Cementerio De Elefantes O Bosque De Elefantes

Tela: Bosque de elefantes - Oscar Dominguez

Cemitério de elefantes

Às vezes penso que escrevo
Com a tola pretensão de deixar rastros
Para o futuro.
E cada vez que penso nisso, eu me pergunto:
Para quê?
Mesmo que essas pegadas escritas
Conseguissem sobreviver à intempérie
de um mundo cada vez menos atento
a essas digressões, a esses devaneios,
O futuro – esse Deus implacável -
Pertence a um tempo em que eu
Certamente não estarei mais aqui.
E já nada importará!
Qual seria, então, a lógica desse ato insano?

E sempre que penso assim, obtenho
A mesma e misteriosa resposta:

Sou o ínfimo elo de uma corrente,
Que não me cabe vislumbrar de todo.

Igual ao cachorro que esconde o osso
Para os dias de escassez,
Mesmo quando essa escassez já não existe.
Ele recorda, sem saber, os dias
De uma antiga e esquecida glaciação,
Quando assim era preciso.

Qual o elefante que sabe o lugar
Onde deve ser o seu final,
Mesmo sem nunca ter lá estado.
Ele recorda onde é, sem saber como.

Somos parte de uma engrenagem
Chamada vida.
Mesmo quando já não estivermos
Vivos.
Por isso,
Com toda essa tolice de escrever
Para um futuro ausente,
Ainda assim,
Quando perguntado – como Suassuna –
Se temo a morte...

A minha resposta é exatamente igual à dele:
Não! Não temo!
Temo, isto sim, que ela chegue a mim
No meio de um poema em que eu
Estiver ali, sem saber por que, escrevendo,
justificando a minha vida.

Martim César





terça-feira, 21 de julho de 2015

Um avô chamado Darwin - Martim César




Um avô chamado Darwin

            Naquela manhã de milhões de anos atrás, em pleno coração da África, um distante avô de Charles Darwin comprovou a teoria da evolução das espécies, antes mesmo dela ter sido criada por seu famoso neto. Ao erguer-se sobre as patas traseiras, provocou alguns efeitos não muito fáceis de analisar. A faculdade de poder olhar para a infinidade do céu, que a partir de então o tornaria diferente das demais espécies, daria origem à propensão humana de questionar o universo que o cercava. Havia muitas perguntas para fazer; poucas respostas para dar. Algumas explicações tardariam uma infinidade de gerações; outras, talvez, jamais fossem respondidas. Esse pequeno gesto - que seria repetido doravante sucessivamente a cada amanhecer - engendrou a mutação que o faria dominar o minúsculo grão de areia que habitava, e que viria, posteriormente, a ser chamado de Terra. Ao sustentar-se na vertical, percebeu a estranha ociosidade dos membros dianteiros. As mãos estavam soltas no ar. Quando chegou o meio dia, sol a pino, esse avô utilizou aquela nova condição para fabricar os seus primeiros instrumentos. O seu cérebro, agora provocado, desafiado, obrigado a dar função para as mãos, começou a crescer. Quando a tarde já estava se aproximando do final e a sempre perigosa escuridão se acercava, aprendeu a dominar o fogo. Chegou a noite e depois veio o dia e depois veio outro dia. E outro dia depois do outro dia. Infinitamente. Assim, foi aperfeiçoando seus instrumentos. Uma estranha necessidade de deixar um rastro para o futuro também foi afastando esse ser dos demais. Pintou nas cavernas. Esculpiu na pedra e moldou o barro. Dessa forma inventou a arte. Buscando a necessária sobrevivência da espécie foi preciso ensinar o que aprendera aos seus descendentes e, com isso, engendrou a cultura. Primeiro com os gestos, depois com a palavra e mais adiante com a escrita. Depois nasceu outro dia e, embora fosse igual aos dias que o antecederam, ele - o homem - já não era o mesmo. Carregava consigo a bagagem de conhecimentos adquiridos em sucessivas gerações. E assim o avô chegou ao neto, e os milhões de anos que os separavam não foram mais do que os segundos que se leva ao lermos algumas palavras em uma folha de papel. Vidas humanas cruzando como em uma corrida de revezamento. Os que chegaram antes: ensinando; os que vieram depois: aprendendo. O avô tornou-se o neto e o neto tornou-se o avô. Que é o avô de outro neto. E assim sucessivamente até chegar aqui. Neste exato instante. Que agora já passou.

Martim César