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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Penso, logo resisto

Cementerio De Elefantes O Bosque De Elefantes

Tela: Bosque de elefantes - Oscar Dominguez

Cemitério de elefantes

Às vezes penso que escrevo
Com a tola pretensão de deixar rastros
Para o futuro.
E cada vez que penso nisso, eu me pergunto:
Para quê?
Mesmo que essas pegadas escritas
Conseguissem sobreviver à intempérie
de um mundo cada vez menos atento
a essas digressões, a esses devaneios,
O futuro – esse Deus implacável -
Pertence a um tempo em que eu
Certamente não estarei mais aqui.
E já nada importará!
Qual seria, então, a lógica desse ato insano?

E sempre que penso assim, obtenho
A mesma e misteriosa resposta:

Sou o ínfimo elo de uma corrente,
Que não me cabe vislumbrar de todo.

Igual ao cachorro que esconde o osso
Para os dias de escassez,
Mesmo quando essa escassez já não existe.
Ele recorda, sem saber, os dias
De uma antiga e esquecida glaciação,
Quando assim era preciso.

Qual o elefante que sabe o lugar
Onde deve ser o seu final,
Mesmo sem nunca ter lá estado.
Ele recorda onde é, sem saber como.

Somos parte de uma engrenagem
Chamada vida.
Mesmo quando já não estivermos
Vivos.
Por isso,
Com toda essa tolice de escrever
Para um futuro ausente,
Ainda assim,
Quando perguntado – como Suassuna –
Se temo a morte...

A minha resposta é exatamente igual à dele:
Não! Não temo!
Temo, isto sim, que ela chegue a mim
No meio de um poema em que eu
Estiver ali, sem saber por que, escrevendo,
justificando a minha vida.

Martim César





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