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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar. Carlos Drummond de Andrade






Nessa noite, além da curva...

O que nos espera, amada minha, além da curva
Nessa noite de tormenta que é a vida?
Vem!Aperta forte a minha mão, esta canção
É um caminho sem chegada e sem partida.

Amada minha, eu não sei nada deste mundo
Ando no escuro desde o dia em que eu cresci
Escrevo frases pra vencer o meu silêncio
E depois penso que não sei porque escrevi.

Difícil que entendas este ser que não se entende
Mas não te peço nada mais que o teu calor
Eu sou tão frágil como um sonho sem final
Como uma gota de sereno frente ao sol

E quando, às vezes, eu pareço ser mais forte
É porque busco enfrentar todos meus medos
Há muito tempo que aprendi que o universo
É bem maior que esse pouco que eu compreendo

O que se esconde, amada minha, atrás da porta
Dessa casa em escombros que é a vida?
Vem!Põe o teu braço no meu braço, esta canção
Busca aplacar esses fantasmas que me habitam.

Amada minha, eu só conheço este momento
Todo o meu tempo cabe inteiro num segundo
Mas não preciso nada mais que o teu sorriso
Pois somos um - e sendo um - somos o mundo


Martim César


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo. Com o lápis em torno da mão e me dou uma luva e se faço chover, com dois riscos tenho um guarda chuva. Toquinho




O primeiro poema

O menino apanha a pena
Primeira vez frente ao papel
E o seu limite é apenas
O sonho... do chão ao céu

Em cada frase ele acalma
Algum fantasma interior
Não é a mente. É a alma
Que dá ao verso o valor

De onde virá o seu dom
(a estranha e antiga magia)
Fúria de luz e de som
Que faz da tinta poesia?

Vai ser Drummond ou Pessoa
Vai ser Neruda ou Quintana
Esse menino que voa
Além da fronteira humana?

Depois... ao findar a poesia
Em êxtase, olha sua mão
Igual a Deus - quem diria?
Tem o poder da criação

Mas já uma ideia cruza
E em sua mente se grava
Há que ter pressa! - a musa
Ditou-lhe outra palavra...

Martim César





quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Si Dios mira por los pobres... puede que sí, puede que no... pero una cosa te aseguro: que él almuerza en la mesa del patrón! Atahualpa Yupanqui




Tempos e templos

Ó mãe...
Eu vi uma criança carregando outra
E juro não entendo tanta vida solta
É tanta religião e tá faltando Deus

Ó mãe...
Imaginei a vida um pouco diferente
A gente era, enfim, igual a toda gente
A fome uma palavra que o mundo esqueceu.

Ó mãe...
Me explica o que não cabe no meu pensamento
Pessoas mais pessoas rezando nos templos
Mas fora, na calçada, lavam suas mãos.

Ó mãe...
Eu sei que talvez seja só um desvario
Mas já não me emocionam discursos vazios...
Que mostrem em seus atos se são mesmo cristãos!


Ó mãe... 
Não venham que é mais fácil seguir a corrente
Por algo o ser humano tem na sua mente
A força de escolher o destino a seguir.

Ó mãe...
Despertar não é o mesmo que estar desperto
Há tantos que não veem de olhos abertos
Que pode somar mais quem sabe dividir.

Ó mãe...
Eu vi uma criança carregando outra
E juro não entendo tanta vida solta
É tanta religião e tá faltando Deus”


Martim César