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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes". Machado de Assis




Olhar vago de mulher num quadro antigo

(1878)



No olhar distante, a memória de um tempo que passou
Vida que ficou, entre a moldura do retrato, eternizada
Retinas vagas que se assomam da janela de outro mundo
Imagem que diz tanto e, no entanto, para tantos não diz nada


A história de um romance que morreu sem ter nascido
Tempo esquecido em que o charque comandava este lugar
A moça a sonhar, no seu balcão, com seu poeta preferido
E ele – moço – ainda iludido, com o poder do verbo amar


Na casa grande, aquela noite de verão, houve uma festa
Onde uma orquestra embalava a leveza de alguns pares
E de repente o amor – que não conhece leis ou regras -
Revelou-se nessa entrega que só percebem dois olhares


Porém a distância invisível que separa os sobrenomes
Invenção dos homens para se crerem mais acima dos demais
Fez com que a moça não pudesse escolher o seu destino
E o amor menino se perdeu, num breve adeus de nunca mais


Hoje quem olha essas paredes onde o passado ainda resiste
Sente que existe algum segredo que no seu peito quer abrigo
Pois não compreende o porquê de (sem querer) saber-se triste
Ao ver-se preso no olhar vago de mulher num quadro antigo


Martim César

2 comentários:

  1. Que lindo Martin! Mais um texto que nos banha a alma! Abração! Analva

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  2. Realmente, a cada texto do Martim, percebemos a riqueza e sutileza vindo deste poeta! Saludo amigo, Paulinho

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