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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Temos nosso própiro tempo... não temos tempo a perder. Renato Russo



Vinte anos

Hoje, ao me despertar, encontrei no espelho
a imagem do que eu era vinte anos atrás.
Tomei um susto! E coloca susto nisso!
Um susto bom, devo dizer. Mas susto igual.
Não podia ser! Mas era!
Ali estava eu... uns vinte anos mais jovem.
Igual àquelas fotos que há muito tempo estão
dormindo pelos álbuns que eu não vejo mais.

Eu-re-ka! Como podia ter acontecido isso?!
Fiquei matutando um pouco. Só um pouco!
Não muito! Um pouquinho só.
Pois eu não tinha muito tempo a perder...
O tempo urge... e ruge... e muge...
mas não é uma vaca!
(essa última parte é brincadeira e primeira é frase feita.
Frase feita... dessas para impressionar, mas que às vezes,
ou quase sempre, têm o efeito contrário.
Mas deixemos de conjecturas).

E se o encanto se desfizesse logo?
Se os vinte anos já vividos voltassem agora,
todos contidos em um só segundo?
Não... eu não podia perder tempo.
Saí em desabalada carreira...
(coisas da juventude, eu acho)
em direção aos meus amigos de sempre.
Fui contar a eles o que tinha sucedido comigo.
A boa nova. A maravilhosa notícia...
É vero!... eu parecia o mítico Ponce de León
encontrando a fonte da eterna juventude.
Sim... não sei de que maneira, mas eu,
uns cinco séculos depois, a encontrara.
Fui ter com os meus amigos então,
e que felicidade não teriam eles...
Eu ali, esfuziante, esbaforido, vinte anos mais jovem.

Mas para surpresa minha...
(e dessa vez não foi susto)
Para surpresa minha
eles não gostaram muito do que aconteceu.
Primeiro se surpreenderam, claro.
Deram-me os merecidos parabéns.
Disseram que comemorariam comigo.
Porém, depois, foram se afastando aos poucos.
Talvez por que não combinassem muito com eles,
as minhas atitudes um tanto, digamos, juvenis.
Mas, tudo bem... eu atribuí isso a uma certa inveja.
Não uma inveja grande, afinal, eram meus amigos,
porém, sim, uma certa pequena inveja.
Certas visões um tanto ultrapassadas. Antiquadas.
Uns achaques de veteranos.
Tive um pouco de pena deles. Fazer o quê?

Vamos em frente, pensei.
Fui procurar a minha turma,
(deveria haver uma turma que fosse minha)
os que tinham idade e anseios iguais aos meus.
Porque agora eu tinha muitos anseios...
Sim... qual o quê? agora eu tinha anseios de juventude.
A vida toda por viver. O infinito à minha frente.
O horizonte além do horizonte tinha um outro horizonte.

Foi quando eu descobri que não tinha turma.
Ninguém me reconhecia!
Tive, então, que começar uma nova turma.
Apresentar-me.
No começo até que fui bem...
Afinal, os jovens se entendem.
Algo de rebeldia conjunta.
Inconformidade. Arroubos da juventude.
Eu estava indo bem... e tinha experiência.
Só que depois... depois... devo confessar...
Nem minha conversa agradava aos meus contemporâneos,
Nem a conversa deles me agradava.
Nós definitivamente não tínhamos sintonia.
Aquelas conversas de bar que tanto me entusiasmavam
com a minha turma de sempre,
simplesmente não funcionavam aqui.
Eu falavra grego... eles chinês. Ou pior: cantonês.

Desisti, então... melhor andar sozinho.
Afinal, tenho o mais importante:
a minha juventude.
Contudo, depois de um tempo, a solidão
começou a me incomodar.
Depois de um tempo... porém que tempo?
Lembrei que tinham se passado vinte anos.
Uma cruzada frente ao espelho e vupt!
Lá se foram vinte anos.
Vinte anos... onde estavam esses vinte anos?

Voltei para casa então.
Que dia esse! Eu mais jovem vinte anos.
Tinha que comemorar de alguma forma.
Não é todo dia que se regride vinte anos.
Vinte anos...

Foi quando voltei ao espelho.
Outro susto!
Estava de novo eu... mais velho vinte anos.
Melhor dizendo... estava eu atualmente. Eu!
Era para ficar triste.
Era para ficar profundamente triste.
Triste...
Mas que nada!

Saí para a rua imediatamente.
Correndo em desabalada carreira.
(claro que desta vez o coração saía pela boca.
Afinal, eu já não estava com vinte anos a menos.
E como faz diferença...
Mas não.... acho que corri mais depressa que antes).

Encontrei meus amigos.
Fomos, então, para o bar de sempre.
Viva! Aleluia! Arriba!
Ah!Essa vida é mesmo muito estranha.
Coisa boa poder andar junto, no tempo e no espaço,
com os amigos de sempre,
com os afetos de sempre,
com as alegrias e tristezas de sempre...

Creio que descobri o segredo do tempo passar.
Depois dessa, só eu rejuvenescer vinte anos... 
                           sozinho... sozinho... nunca mais!!!


Martim César

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