Vinte
anos
Hoje,
ao me despertar, encontrei no espelho
a
imagem do que eu era vinte anos atrás.
Tomei
um susto! E coloca susto nisso!
Um
susto bom, devo dizer. Mas susto igual.
Não
podia ser! Mas era!
Ali
estava eu... uns vinte anos mais jovem.
Igual
àquelas fotos que há muito tempo estão
dormindo
pelos álbuns que eu não vejo mais.
Eu-re-ka!
Como podia ter acontecido isso?!
Fiquei
matutando um pouco. Só um pouco!
Não
muito! Um pouquinho só.
Pois
eu não tinha muito tempo a perder...
O
tempo urge... e ruge... e muge...
mas
não é uma vaca!
(essa
última parte é brincadeira e primeira é frase feita.
Frase
feita... dessas para impressionar, mas que às vezes,
ou
quase sempre, têm o efeito contrário.
Mas
deixemos de conjecturas).
E
se o encanto se desfizesse logo?
Se
os vinte anos já vividos voltassem agora,
todos
contidos em um só segundo?
Não...
eu não podia perder tempo.
Saí
em desabalada carreira...
(coisas
da juventude, eu acho)
em
direção aos meus amigos de sempre.
Fui
contar a eles o que tinha sucedido comigo.
A
boa nova. A maravilhosa notícia...
É
vero!... eu parecia o mítico Ponce de León
encontrando
a fonte da eterna juventude.
Sim...
não sei de que maneira, mas eu,
uns
cinco séculos depois, a encontrara.
Fui
ter com os meus amigos então,
e
que felicidade não teriam eles...
Eu
ali, esfuziante, esbaforido, vinte anos mais jovem.
Mas
para surpresa minha...
(e
dessa vez não foi susto)
Para
surpresa minha
eles
não gostaram muito do que aconteceu.
Primeiro
se surpreenderam, claro.
Deram-me
os merecidos parabéns.
Disseram
que comemorariam comigo.
Porém,
depois, foram se afastando aos poucos.
Talvez
por que não combinassem muito com eles,
as
minhas atitudes um tanto, digamos, juvenis.
Mas,
tudo bem... eu atribuí isso a uma certa inveja.
Não
uma inveja grande, afinal, eram meus amigos,
porém,
sim, uma certa pequena inveja.
Certas
visões um tanto ultrapassadas. Antiquadas.
Uns
achaques de veteranos.
Tive
um pouco de pena deles. Fazer o quê?
Vamos
em frente, pensei.
Fui
procurar a minha turma,
(deveria
haver uma turma que fosse minha)
os
que tinham idade e anseios iguais aos meus.
Porque
agora eu tinha muitos anseios...
Sim...
qual o quê? agora eu tinha anseios de juventude.
A
vida toda por viver. O infinito à minha frente.
O
horizonte além do horizonte tinha um outro horizonte.
Foi quando eu descobri que não tinha turma.
Ninguém
me reconhecia!
Tive,
então, que começar uma nova turma.
Apresentar-me.
No
começo até que fui bem...
Afinal,
os jovens se entendem.
Algo
de rebeldia conjunta.
Inconformidade.
Arroubos da juventude.
Eu
estava indo bem... e tinha experiência.
Só
que depois... depois... devo confessar...
Nem
minha conversa agradava aos meus contemporâneos,
Nem
a conversa deles me agradava.
Nós
definitivamente não tínhamos sintonia.
Aquelas
conversas de bar que tanto me entusiasmavam
com
a minha turma de sempre,
simplesmente
não funcionavam aqui.
Eu
falavra grego... eles chinês. Ou pior: cantonês.
Desisti,
então... melhor andar sozinho.
Afinal,
tenho o mais importante:
a
minha juventude.
Contudo,
depois de um tempo, a solidão
começou
a me incomodar.
Depois
de um tempo... porém que tempo?
Lembrei
que tinham se passado vinte anos.
Uma
cruzada frente ao espelho e vupt!
Lá
se foram vinte anos.
Vinte
anos... onde estavam esses vinte anos?
Voltei
para casa então.
Que
dia esse! Eu mais jovem vinte anos.
Tinha
que comemorar de alguma forma.
Não
é todo dia que se regride vinte anos.
Vinte
anos...
Foi
quando voltei ao espelho.
Outro
susto!
Estava
de novo eu... mais velho vinte anos.
Melhor
dizendo... estava eu atualmente. Eu!
Era
para ficar triste.
Era
para ficar profundamente triste.
Triste...
Mas
que nada!
Saí
para a rua imediatamente.
Correndo
em desabalada carreira.
(claro
que desta vez o coração saía pela boca.
Afinal,
eu já não estava com vinte anos a menos.
E
como faz diferença...
Mas
não.... acho que corri mais depressa que antes).
Encontrei
meus amigos.
Fomos,
então, para o bar de sempre.
Viva!
Aleluia! Arriba!
Ah!Essa
vida é mesmo muito estranha.
Coisa
boa poder andar junto, no tempo e no espaço,
com
os amigos de sempre,
com
os afetos de sempre,
com
as alegrias e tristezas de sempre...
Creio que descobri o segredo do tempo passar.
Depois dessa, só eu rejuvenescer vinte anos...
sozinho...
sozinho... nunca mais!!!
Martim
César
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