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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Meu primeiro livro...

Fotografia de Alencar Coelho sobre tótem 'Sangre Ameríndia' do escultor Cléber Carvalho

Quando os índios invadiram a Europa

Quando os índios invadiram a Europa
“- Como ousavam?”- Se indagaram os brancos reis
Se não tinham mais que armas antiquadas
Se em seus barcos não cabiam mais que três
Se nem sabiam que o dinheiro era preciso
Se não se guiavam nem por regras, nem por leis
Se não exploravam nem o solo, nem os rios
Se não falavam nem o básico de inglês
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Quando os índios invadiram a Europa
Todos riram: padres, nobres e plebeus
Se esses loucos não sabiam nem guerrear
E se o faziam, não lutavam por um Deus
Se só comiam o que a terra oferecia
Se não cercavam os domínios que eram seus
Se não sabiam transformar a natureza
Como podiam comparar-se aos Europeus?
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Mas eles tinham seus poderes invisíveis
E foram, aos poucos, destruindo as cidades
Plantando árvores no lugar dos edifícios
Desnudando as pessoas, chocando a sociedade
Criando um novo mundo onde todos eram livres
E em cada voz só se escutava uma verdade
Onde não havia nem mais ricos, nem mais pobres
Onde se viu o que era, enfim, a igualdade
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Sim, eles tinham seus poderes misteriosos
Seus espíritos da floresta, seus remédios naturais
Os conselhos dos mais velhos, a coragem dos seus bravos
E essa força sobre-humana dos que lutam pela paz
E desde então já não se pôde destruir por destruir
Já não se pôde exterminar ou enjaular os animais
Já não se pôde poluir o céu e as águas
E a terra fez-se pura como há muito tempo atrás
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Quando os índios invadiram a Europa
Já não mais se soube o que era lucro ou prejuízo
Pois a prata e o ouro só lhes serviam como enfeites
E o dinheiro, estranhamente, nunca mais se fez preciso
Agora, depois que os índios invadiram a Europa
Os senhores do mundo já não zombam com seus risos
E a vida corre, livre e bela, sem ter pressa
Pois desde então estamos aqui:
........................................................... no paraíso!

Martim César
(poema vencedor do concurso Rua dos Cataventos, da sociedade Mario Quintana de poesia)

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