www.martimcesar.com.br

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O poeta é um fingidor. Finge tanto, e tão completamente, que finge que é trabalho, a poesia que faz durante o expediente. Jorge Missaggia






Disfarce

Morre a poesia...
Como haveria de sobreviver?
Em meio a carimbos e notas de expediente,
Calculadoras e prendedores de papel.
Envolta em artigos cotidianos,
Hierárquicas convenções.

Morre a poesia...
Como haveria de sobreviver?
Consumida por horários e legislações,
Normas e registros burocráticos.
Asfixiada por ruídos de impressão,
Estalos de máquinas copiadoras.

Morre a poesia...
Em uma folha amassada
Suicidada na lixeira do escritório.

Mas a poesia...
- a dissimulada e eterna poesia –
De uma gaveta entreaberta,
Desde um livro do Quintana,
Pisca o olho e me sorri.
Depois pede que guarde seu segredo,
E faz que morre novamente.

Martim César

Nenhum comentário:

Postar um comentário