www.martimcesar.com.br

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse amontoado de espelhos rompidos. Jorge Luís Borges

Primeiro exílio

Lembro que era inverno e que uma chuva fina e muito fria caiu por dias e dias.
A casa nos haviam oferecido para que aproveitássemos nosso exílio de amantes recém libertados.
Lembro que havia muito calor dentro de nós. Muito. Pois nossos abraços e carícias nos aqueciam.
(Foi quando, creio, o perfume da tua pele se instalou para sempre nas minhas narinas. Desde então
eu posso reconhecê-lo, mesmo sem te ver).
Lembro que aquele povoado estava, então, quase totalmente desabitado. Tão diferente das épocas de verão. Porém, que importava? Para nós, tudo estava repleto. O mundo nos pertencia.
Lembro que ainda não tínhamos noção de tempo. O futuro não existia. Tudo era como se fosse naquele momento, para sempre.
Lembro do teu sorriso. Mais do que nos retratos, ele ficou dentro de mim. Em alguma gaveta dentro
do meu corpo. (Enquanto eu viver, ele ali estará).
Lembro que mesmo no silêncio havia música. Suave. Como nesses filmes em preto e branco que passam nas madrugadas.
Lembro de ti. A minha memória sempre foi pouca. Mas lembro de ti.
No entanto, não sei se por ser diferente do que sou agora, ou se por não haver espelhos na casa, eu - por mais estranho que possa parecer -
não lembro de mim.
Simplesmente, não lembro de mim.


Martim César

Nenhum comentário:

Postar um comentário