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quinta-feira, 5 de abril de 2012

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã... pois se você parar pra pensar, na verdade não há. Renato Russo




Tempo ausente

Eu bem sei do tempo que esmaece as cores sem pedir licença
Nos velhos retratos que mostram o rosto que foi nosso um dia
Desse olhar de moço que embora há muito já não nos pertença
Gravado ficou, banhado de sol, no eterno instante da fotografia

Percebo a mudança quando algum espelho me devolve a imagem
De um ser distinto ao que não mais que ontem habitava em mim
E que, em silêncio grave, desaprova o gesto de prosseguir viagem
Sem entender que a vida tem um só sentido que nos leva ao fim

A alma que me move e que se manifesta cada vez mais viva
Não detém o passo que muda a matéria como lhe convém...
O tempo trabalha e - de vez em quando - ainda nos avisa
Aproveita o hoje que está ficando tarde e a noite logo vem!

Penso, muitas vezes, que eu trouxe comigo a casa da infância
Onde dos seus quadros os meus ancestrais miravam da parede...
Quando fecho os olhos, recordo velhas noites e vejo na distância
Um guri com medo... que não se levantava, mesmo tendo sede

Esse guri que eu fui e que fugiu do espelho sem dizer-me adeus
Não sabe do adulto que chegou sem graça e lhe roubou o posto
O mesmo que vê, em seus traços fundos, o quanto envelheceu
E tampouco entende de onde vem as marcas que hoje traz no rosto

Martim César


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