Tempo
ausente
Eu
bem sei do tempo que esmaece as cores sem pedir licença
Nos
velhos retratos que mostram o rosto que foi nosso um dia
Desse
olhar de moço que embora há muito já não nos pertença
Gravado
ficou, banhado de sol, no eterno instante da fotografia
Percebo
a mudança quando algum espelho me devolve a imagem
De
um ser distinto ao que não mais que ontem habitava em mim
E
que, em silêncio grave, desaprova o gesto de prosseguir viagem
Sem
entender que a vida tem um só sentido que nos leva ao fim
A
alma que me move e que se manifesta cada vez mais viva
Não
detém o passo que muda a matéria como lhe convém...
O
tempo trabalha e - de vez em quando - ainda nos avisa
Aproveita
o hoje que está ficando tarde e a noite logo vem!
Penso,
muitas vezes, que eu trouxe comigo a casa da infância
Onde
dos seus quadros os meus ancestrais miravam da parede...
Quando
fecho os olhos, recordo velhas noites e vejo na distância
Um
guri com medo... que não se levantava, mesmo tendo sede
Esse
guri que eu fui e que fugiu do espelho sem dizer-me adeus
Não
sabe do adulto que chegou sem graça e lhe roubou o posto
O
mesmo que vê, em seus traços fundos, o quanto envelheceu
E
tampouco entende de onde vem as marcas que hoje traz no rosto
Martim
César
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