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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Não sou eu. São as músicas. Eu sou só o carteiro. Eu entrego as músicas.Bob Dylan

Os poetas estão mortos

Reunião de cúpula dos senhores da guerra.

O generalíssimo fala:
“ - Finalmente os poetas estão mortos.
Não restou nenhum habitante desse reino de ilusões.
Podemos seguir para a segunda fase da nossa conquista.
Reitero: - Os poetas estão mortos... todos eles.”

Porém, no final da mesa (aquelas mesas gigantescas) alguém grita:
“- Mas e a poesia, como haveremos de matar a poesia?”

O generalíssimo olha com furor para o seu inquiridor
(um reles general de divisão, recém promovido)

E contesta:
“- Se os poetas estão mortos, logicamente a poesia também está morta.

- Mas senhor... eu ainda recordo várias poesias... isso não quer dizer que a poesia não morreu?

- Já trataremos disso.”

Olha para os outros comandantes. Alguns graduados com medalhas adornando suas fardas militares.
“- Fuzilem-no”.

Sob protestos o infeliz general é carregado, vendado e fuzilado.

“Agora sim a poesia está morta.”

Ninguém se atreve a contestar.

Contudo, misteriosamente, nos dias que se seguem, todos os presentes àquela reunião de cúpula começam a se suicidar.


O generalíssimo não se suicida, mas enlouquece. Também ele acaba tentando o ato extremo, mas lhe falta a coragem necessária.
Assim perde o mando e é, por fim, internado em um manicômio.

Dizem os cronistas que ele anda hoje em dia pelos corredores a recitar incansavelmente alguns versos de Neruda.

Martim César

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso...
    Qualquer coisa que disser depois disso vai ser redundante. Apenas acrescento que sou fã de teu talento, admiro tua obra e sinto-me orgulhoso por poder te chamar de amigo.
    Sucessso
    Paulo de Freitas Mendonça

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