Premonição
Quando
eu tinha sete anos
Uma
carreira verdadeiramente promissora me esperava.
Mas
o destino tem seus mistérios...
Seus
desígnios insondáveis.
Uma
bola 'Dente de leite' envelhecida, ressecada,
Um
chute quase perfeito na trave esquerda,
No
cantinho esquerdo, indefensável,
Mas
que fez uma curva aberta, fugindo do goleiro,
Uma
curva que fez a bola pegar no poste,
Que
era, por sinal, o pé da prateleira
O
poste esquerdo da prateleira da sala de casa.
Minha
área improvisada nos dias de chuva.
A
prateleira que era o xodó da mãe,
E
que tinha taças e baixelas,
E
que tinha pratos e copos de todos os tipos,
E
alguma importância.
Foi
um chute seco, desferido a la Rivelino,
No
canto esquerdo. Bem no pé da trave. Perfeito.
Cheguei
a comemorar por antecipação.
Mas
a prateleira não achou o mesmo.
Cismou
de renguear, de se agachar de lado.
Em
câmera len-ta. Em câmera mui-to len-ta.
E,
em câmera mais len-ta a-in-da, foi caindo,
Assim
meio de lado, meio de frente.
Veio
abaixo. Es-pa-lha-fa-to-sa-men-te.
Não
preciso dizer que uma terceira guerra mundial,
Um
novo meteoro extinguindo os dinossauros,
Uma
bomba de hidrogènio caindo na calçada em frente,
Não
teria o efeito perigoso e negativo daquele impacto,
Muito
menos o ruído. O estrondo. O estardalhaço.
Quando
a mãe voou pela porta dos fundos, branca, aturdida,
Por
entre os cacos de vidro,
Decidida
a salvar cada pedaço que resumia, até ali,
A
história da sua vida.
Foi
somente aí que eu pude descobrir,
Como
em uma visagem premonitória,
Que
ali, justamente ali, após aquele lance quase genial,
Justamente
ali...
Havia
acabado definitavemente
A
minha promissora carreira
de
jogador de futebol.
Martim
César (em parceria com o confrade Daniel Moreira)
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