Cercas e muros
Entre
o lixo e o luxo, entre a fama e a fome
Há
a infâmia do homem que só sabe ser não
Entre
a guerra e a paz, a miséria e a farra
Uma
rua separa o casebre e a mansão
Entre
a pampa e a pompa, entre o campo e o campeiro
Há
o cantar verdadeiro dos que vivem sem chão
Entre
a vida e a morte, entre o céu e o inferno
Há
o rigor do inverno em lençóis de cartão
De que lado da
cerca nós estamos, parceiro...?
Se
lutamos com ganas por um novo amanhã
Ou
se porque ninguém faz, não fazemos também
Se
gastamos em muros pra fugir do perigo
E
negamos mendigos prá guardar um vintém?
Se
herdeiros de tudo, se posseiros do nada
Se
cantores de um mundo que nunca existiu
Se
louvamos a bênção dos campos floridos
E
esquecemos a mesa dos pratos vazios?
Se,
por sorte, nascemos do lado certo do muro
Não
importa o futuro dos milhões que aí estão
Porque
sofremos também, muito embora nem tanto
Já
não causa espanto ver a dor de um irmão
Tão
distantes de nós essas meninas nuas
Que
se vendem nas ruas pela paga de um pão
Tão
distante a criança que morreu sem viver
Dos
que têm o poder de mudar a nação!
Martim César
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