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terça-feira, 5 de março de 2013

Que la tierra es tuya, es mía y de aquél... de Pedro y María, de Juan y José. Daniel Viglietti



Cercas e muros

Entre o lixo e o luxo, entre a fama e a fome
Há a infâmia do homem que só sabe ser não
Entre a guerra e a paz, a miséria e a farra
Uma rua separa o casebre e a mansão

Entre a pampa e a pompa, entre o campo e o campeiro
Há o cantar verdadeiro dos que vivem sem chão
Entre a vida e a morte, entre o céu e o inferno
Há o rigor do inverno em lençóis de cartão

De que lado da cerca nós estamos, parceiro...?
Se lutamos com ganas por um novo amanhã
Ou se porque ninguém faz, não fazemos também
Se gastamos em muros pra fugir do perigo
E negamos mendigos prá guardar um vintém?

Afinal, de que lado nós estamos, parceiro...
Se herdeiros de tudo, se posseiros do nada
Se cantores de um mundo que nunca existiu
Se louvamos a bênção dos campos floridos
E esquecemos a mesa dos pratos vazios?

Se, por sorte, nascemos do lado certo do muro
Não importa o futuro dos milhões que aí estão
Porque sofremos também, muito embora nem tanto
Já não causa espanto ver a dor de um irmão

Tão distantes de nós essas meninas nuas
Que se vendem nas ruas pela paga de um pão
Tão distante a criança que morreu sem viver
Dos que têm o poder de mudar a nação!

Martim César

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