Pintura em quadro de ausência
Tenho a ausência estradeira das taperas
Onde
ainda os pomares dão seus frutos
Caudal
do tempo que no vento tudo leva
Gente
que partiu, olhar vazio, vestindo luto
Ainda
ontem havia chama no pavio
Velas
pelo rancho e riso solto de criança
Uma
gamela esperando junto à porta
E
uma roseira florescendo de esperança
Mas
o inverno desses fundos de campanha
É
bem mais frio do que as geadas manhaneiras
E
essa gente se cansou - igual à terra -
Se
fez estrada, céu de néon, nuvem de poeira
Tenho
o silêncio desses tristes corredores
De
casas velhas como quadros de abandono
Portas
abertas apontando para a estrada
Na
voz do vento perguntando por seus donos
Templos
vazios onde a vida teve um fim
Embora
o tempo – por ser tempo – não esquece
E
ainda se mostra na roseira envelhecida
Que
a cada ano, sem porquê, ainda floresce!...
Martim
César
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