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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso. Darcy Ribeiro





A flor e o furto

Sentiu a fome da mãe
Quando no ventre crescia
Do pai nem soube, no fundo,
Dizem que sumiu no mundo
Justo quando ele nascia

Cresceu assim com duas fomes
Uma de pão... outra de amor
Moldou-se então à primeira
Que por ser tão costumeira
Nem mais lhe causava dor

Mas um dia – de repente -
(E por que o amor não tem hora)
Chegou-lhe a segunda fome
Que entra no olhar dos homens
E assim no mais lhes devora

Estranha fome sem boca
Que a todos tira a razão
E enche a alma de cores
Pedindo à vida mil flores
Pra saciar um coração

Faminto pulou um muro
E colheu flores pra ela
Sem saber que a lei dos homens
Coloca preços e nomes
No que é só da primavera

Pelo furto foi julgado
Mas qual crime cometeu?
Talvez por ter numa flor
Enfim encontrado o amor
Que antes ninguém lhe deu

Flores não são coisas, senhores!
Que tamanho desatino!
Se elas, enfim, pudessem
Escolher quem as merece
Teriam melhor destino?

Maurício Raupp/Martim César

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