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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um dia, homem, fita o oceano comovido, da mesma praia onde a infância em vão deixou... e já não entende o porquê de haver partido . Martim César



Memorial do chão

Mas como posso me esquecer desses lugares
Onde os meus sonhos se timbraram pelo chão
Se ainda resistem no lado oculto dos olhares
Se lá os meus passos de menino ainda estão?

Lembro um avô sempre a cuidar seus parelheiros
Rastros de um tempo que com ele se acabou
Bombacha e mango, voz altiva de uma raça...
De que penca de domingo seu cavalo não voltou?

Lembro que havia um jardim bem junto a casa
( dos seus cuidados minha avó fez a sua vida! )
Ainda tenho em minhas narinas seus aromas
Antes que o pátio fosse ausência e despedida

Seguir em frente é o que nos cabe por destino
Cada regresso nunca é mais que uma ilusão...
No entanto, às vezes, fecho os olhos e imagino
Que retorno à infância pelas mãos do coração!

E eu não preciso que me guiem... eu sei de cor!
Pois cada caminho que lá andei, conheço bem
Ao entardecer eu sempre ouvia a mesma voz
'Volta, meu filho... por que a noite logo vem...'

Lembro a cacimba e o frescor da àgua salobra
Que nos mormaços dava um fim à minha sede
Roldana e balde e esse rangido da saudade
Que hoje me invade nos retratos da parede

Por isso entendo que sou vida e sou memória
Que vem comigo e que a distância não dilui
Em cada linha que eu escrevo no presente
Vive o menino que há muito tempo eu fui.


Martim César

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