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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Solito, perto do fogo, como um bugre imaginando, escuto o Tempo rodando sem descobrir o seu jogo.Aureliano de Figueiredo Pinto




De uma tarde na distância



O fim de tarde se achegou numa tormenta
Daquelas brabas que aparecem nos janeiros
A escuridão impondo à várzea o seu silêncio
Poncho lobuno sobre as casas e os potreiros

Num antigo gesto, como herança dos avós
Pôs-se uma cruz feita a machado no terreiro
No velho ofício de espantar trovões e raios
E mudar de pronto o temporal num aguaceiro


Foi quando o vento assobiou por sob a quincha
E a polvadeira se alvorotou por um segundo
Meus olhos piás, bombeando tudo, assombrados
Tinham o tamanho dos sentidos deste mundo

Hoje ao lembrar-me dessas tardes que ficaram
Entre os galpões e a velha casa de uma estância
Vejo que o tempo trouxe nuvens bem mais densas
E tenho saudade dos temporais da minha infância


Depois a fúria calou-se assim... num de repente!
E mesmo a vida parou também por um instante
Como pousando para eternizar-se em um retrato
Até que um raio por fim tocasse tudo adiante

Quando o trovão encheu de som a imensidão
Clareando a tarde, da mangueira até a estrada
Pariu o céu - como em um regalo à natureza -
E nasceu a chuva a chorar em mangas d'água.


Martim César


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