Olhar vago de mulher num quadro antigo
No olhar distante, a memória de um tempo que passou
Vida que ficou entre a moldura do retrato, eternizada
Retinas vagas que se assomam da janela de outro mundo
Imagem que diz tanto e, no entanto, para tantos não diz nada
A
história de um romance que morreu sem ter nascido
Tempo
esquecido em que o charque comandava este lugar
A
moça a sonhar, no seu balcão, com seu poeta preferido
E
ele – moço – ainda iludido com o poder do verbo amar
Na
casa grande, naquela noite de verão, houve uma festa
Onde
uma orquestra embalava a leveza de alguns pares
E
de repente o amor – que não conhece leis ou regras -
Revelou-se
nessa entrega que só percebem dois olhares
Porém
a distância invisível que separa os sobrenomes
Obra dos homens
por se crerem mais acima dos demais
Fez
com que a moça não pudesse escolher o seu destino
E o amor menino se perdeu, num adeus de nunca mais
Hoje quem olha essas paredes onde o passado ainda resiste
Sente
que existe algum segredo que em seu peito pede abrigo
E
não compreende o porquê de, sem querer, saber-se triste
Ao ver-se preso no olhar vago de mulher num quadro antigo
Martim
César
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