A segunda
morte de D. Quixote
Enfim, termina o sonho...
voltaste a ser Quijano
E a morte que te ronda é a de
todo ser humano
E a sorte que te espera é a de
todos os mortais...
Enfim, tudo se acaba... e
assim, também, a aventura
Daquele heroico cavaleiro nem
recordas a figura...
- Aqueles dias memoráveis não
regressarão jamais
Mas, no entanto, o que importa
a tua tardia lucidez?
Se o mundo sempre vai lembrar a
altiva insensatez
De um louco que sonhou ser um
sonho a realidade...
Teu nome: Dom Alonso... será
apagado pelo vento
Mas Dom Quixote viverá muito
além do esquecimento
Além de ti, além de
mim...enquanto houver humanidade!
Epílogo
Como no I Ato,
uma empregada doméstica entra com vassoura e bacia. Vai até a biblioteca e destapa
os livros. (muda a luz) Renasce a leitura.
Depois de uma breve limpeza, sai deixando num canto seus instrumentos de
trabalho. Entra o leitor moderno. É o mesmo ator que encarnava Dom Quixote.
Leitor:
(lendo as últimas linhas do Quixote de Cervantes)
_ “... pois não há sido outro o meu
desejo de pôr no aborrecimento dos homens, as fingidas e disparatadas histórias
dos livros de cavalaria, que pelos do meu verdadeiro Dom Quixote vão já
tropeçando, e hão de cair de todo, sem dúvida alguma.”
Vale!!!
Fecha
o livro e o deixa sobre a mesa. Ao voltar-se, olha a vassoura e a bacia e diz
meneando a cabeça:
_ Extremada loucura é pensar que
alguém poderia cometer semelhante loucura!
O olhar do
leitor se desloca pela plateia e depois para a vassoura e a bacia, se aproxima,
olha para todos os lados cuidadosamente e as empunha como Dom Quixote, vai até
em frente à plateia, ergue a vassoura como se fosse uma espada e exclama:
_ ¡Vale!
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