A
navalha do censor
Em
princípio parecia ser somente um acento inofensivo
Um mero traço no papel, meio inclinado e um tanto fino
Quiçá
uma mesura ofertada a algum vocábulo feminino
Ou
uma lágrima escorrendo sobre um amor substantivo
Porém era grave o tal acento e bem mais grave seu motivo
(e
esse ser ‘grave’ me dá medo desde os tempos de menino)
Se
fosse agudo feito um dente, cortando a carne e incisivo
Não seria tão daninho, nem tão crucial ao meu destino
Mas um acento assim inverso, em uma avessa trajetória
Tal qual navalha de censor que, sem pudor, a tudo arrase
Chegou assim ceifando tudo e mudou o rumo desta história
Fez
naufragar o meu poema – e vejam só - que triste fase!
Era um poema que eu sonhei ver florescer cheio de glória
E que sucumbiu a ver navios (pobre de mim!)... maldita crase!
Martim
César
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