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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Prefiro ser essa metamorfose ambulante... do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Raulito









Sentença

O juiz sentenciou: Não vingarás!
Poderás ter alguns momentos de alegria.
Algo assim como pequenas ilhas dispersas
sobre um oceano de melancolia.
Mas, fundamentalmente, serás triste.
Não vingarás!
Já não havia apelação possível. Resignei-me.
Saí do tribunal como um condenado que se dirige ao cadafalso. Crianças brincavam na rua.
Pensei que também eu fora uma criança como aquelas.
E não era triste.
Ao menos não lembrava ter sido uma criança triste.
Recordei as bolas de meia....
As meias que sempre causavam a zanga da mãe
com o contínuo desaparecimento das gavetas.
Sorri dessa lembrança... acho que eu não era triste.
Porém ponderei que, naquele então,
eu não possuía o conceito de tristeza.
O primeiro sinal do que viria depois aconteceu
quando a minha avó partiu
(lembro muito bem que não levava malas para a viagem).
O segundo sinal quando... Deixa pra lá! Mudei de pensamentos. Pensei na sentença novamente.
Não era a perda, tão comum a toda a gente.
Não eram as agruras do mundo.
Não era a minha sempre mal resolvida parte sentimental.
Havia algo mais. Talvez anterior a mim.
Havia? Eu não tinha essa resposta.
Virei-me e olhei para o tribunal.
Fiquei surpreso. Em vez do tribunal havia um templo.
No templo: um altar. No altar: velas e santos.
Velas e santos? Xi...
O juiz, todo vestido de branco, repetiu a fatídica sentença:
Não vingarás!
Martim César

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