Sentença
O
juiz sentenciou: Não vingarás!
Poderás
ter alguns momentos de alegria.
Algo
assim como pequenas ilhas dispersas
sobre um oceano de
melancolia.
Mas,
fundamentalmente, serás triste.
Não vingarás!
Já
não havia apelação possível. Resignei-me.
Saí
do tribunal como um condenado que se dirige ao cadafalso. Crianças
brincavam na rua.
Pensei
que também eu fora uma criança como aquelas.
E
não era triste.
Ao
menos não lembrava ter sido uma criança triste.
Recordei
as bolas de meia....
As
meias que sempre causavam a zanga da mãe
com o contínuo
desaparecimento das gavetas.
Sorri
dessa lembrança... acho que eu não era triste.
Porém
ponderei que, naquele então,
eu
não possuía o conceito de tristeza.
O
primeiro sinal do que viria depois aconteceu
quando a minha avó
partiu
(lembro
muito bem que não levava malas para a viagem).
O
segundo sinal quando... Deixa pra lá! Mudei de pensamentos. Pensei
na sentença novamente.
Não
era a perda, tão comum a toda a gente.
Não
eram as agruras do mundo.
Não
era a minha sempre mal resolvida parte sentimental.
Havia
algo mais. Talvez anterior a mim.
Havia?
Eu não tinha essa resposta.
Virei-me
e olhei para o tribunal.
Fiquei
surpreso. Em vez do tribunal havia um templo.
No
templo: um altar. No altar: velas e santos.
Velas
e santos? Xi...
O
juiz, todo vestido de branco, repetiu a fatídica sentença:
Não
vingarás!
Martim César
Nenhum comentário:
Postar um comentário