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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manuel Flores va a morir, eso es moneda corriente... morir es una costumbre que suele tener la gente. Jorge Luis Borges



Na sombra de um cinamomo

Chegou num baio ruano
Apeou na porta da venda
Deu um buenas tardes paisano
O resto é causo e legenda

Havia um tobiano gateado
No cinamomo de em frente
Amarrou o baio ao seu lado
Mirou-lhe a marca somente

Lá dentro um jogo de truco
Corria frouxo nas vazas...
Mas a chegada do intruso
Foi como azeite nas brasas

Um maleva na campanha
Se conhece pelo cheiro...
Pediu uma dose de canha
E disse pra o bolicheiro:

Hoje minha adaga convida
A jogar de mano e à morte...
É que na vaza da vida
Nem todo mundo tem sorte!

Se ouviu o retruco de pronto
Trovão no oco da tarde!
'Já esperava este encontro
Veremos quem é covarde!'

O outro não era um maula
Mas não era bueno tampouco
Dois tigres numa só jaula...
Se mesmo o campo era pouco!

Restou um pingo solito
Na sombra do cinamomo
Por certo já estava escrito...
Que um ficaria sem dono!


Martim César

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sapatos são seres estranhos...



Se meus sapatos saírem por aí

Meus sapatos se escaparam por aí
Talvez buscando esses lugares
Onde um dia eu vivi
Saíram sem me consultar
Feito quem vai pra não voltar
Sem sequer no adeus se despedir

Mas, meu amor, repare não
Pois na verdade só estão
Talvez demais sentimentais
Longe de mim ficam assim
Flor sem jardim, vazios demais

Sapatos têm modos estranhos
Vários tamanhos e só uma condição
Levarem sempre tanta gente
De lá pra cá, rumando em frente
Sem nem saberem aonde vão

Mas, meu amor, se meus sapatos
- talvez assim, sem mais porquê -
Se recordarem dos teus passos
E chegarem um dia até você

Não corra não, que só estão
Gastos de poeira e abandono
Iguais a um cão que não tem dono
Feito sapatos... sem ter chão!


Martim César

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ladran, Sancho... señal que avanzamos... Cervantes



Lutas inglórias


Hoje eu venho te falar de muitas guerras
De outras terras que estão bem mais além
Mas não quero relembrar todo esse sangue
E sim dizer de um tempo novo que já vem

Pois tudo o que passou abriu caminho
Entre os espinhos para o aroma de uma flor
É a própria vida nos mostrando que o amanhã
Nasce da escolha desse dia que se foi

É o rumo claro, o que não tem preço que pague
A nossa verdade que nos vale aonde for
É o compromisso de fazer valer o tempo
Seguir em frente defendendo o nosso dom

É a nossa parte na estranha arte de sonhar
Não se deixar levar na força da corrente
Porque mais vale é cantar, mesmo pra poucos
Com a liberdade de dizer o que se sente

Lutas inglórias como as muitas que perdemos
Lutas inglórias como tantas que já tive
Mas que não pesam na consciência, são memórias
Que hoje bem sabem o valor de sermos livres!!!



Martim César

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Han volteao hasta el recuerdo... ?entonces a qué volver? Marta Mendicate/Eduardo Falú - Los Chalchaleros






La tapera y el recuerdo

Había allí unos ranchos
Me acuerdo sí... ?como no?
Hoy se ve tan solo campo
Pero era casa y galpón

Se fueron yendo los dueños
Siempre es así, sí señor
Tuitos se van pa'l pueblo
Jamás alguno volvió

Cuando yo miro esa tierra
Donde mi gente vivió
También me vuelvo tapera
Que con los años cayó...

Yo soy igualito a ella
Solo recuerdo y canción.

¡Qué pronto pasó el tiempo!
Llevó mi mundo con él
Ya no están mis abuelos
Se fue apagando el jagüel

En ese rancho olvidado
Que existe hoy solo en mí
Sigue jugando en el patio

El chiquilín que yo fuí.


Martim César

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Quando uma estrela cai no escurão da noite... Almir Sater




Viola em beira de rio

Eu vejo pela janela
Um céu de estrelas lá no pesqueiro,
Feito um costeiro à espera
Da primavera que ainda não veio.

A lua, sempre tão bela,
Segue em silêncio atrás do luzeiro,
E eu, com saudades dela,
Cantei ausências o ano inteiro!

Sigo tocando canções,
Olhando as águas que lá se vão
Talvez pedindo passagem
Só deixo nas margens minha solidão.

Uma canoa navega
A noite inteira em seu passo lento,
Atada na corticeira,
Sair da beira é ilusão do vento.

O rio que corre lá fora
Levou embora o amor primeiro
Um salso por ela chora
Ouvindo as mágoas de um violeiro!


Martim César


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Madre mía - Pelotas - dia 14/set - 18 horas


Música: Ro Bjerk e Ricardo Fragoso


Participações especiais:

Marco Aurélio Vasconcellos
Paulo Timm
Maurício Barcellos
Leonardo Oxley



terça-feira, 10 de setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito. Manoel de Barros



Desensinando a última flor do Lácio

Quando ouvi dizerem 'menas', não corrigi.

Que me perdoem os professores de Português,
Mas a palavra 'menas' não significa menos.

Não é o mesmo, definitivamente.

Quando um desses literatos insiste em corrigir
uma criança ou algum poeta popular
recém-descoberto,
eu, humildemente, digo para mim mesmo:
'Menas, né'.

Pois para mim 'menas' é menos que menos.

Bem menos.

'Menas'.

Mas sempre é possível que alguém me diga:

'Menas, né... menas!'


Martim César


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ora direis ouvir estrelas!Certo, perdeste o senso... Olavo Bilac




A flor do aguapezal

Eu vi uma flor amarela
No meio do aguapezal
Cismei de levar pra ela
(Florzita não leve a mal!)

Arribinha da canela
Me arremanguei com cuidado
Mas resbalei no barranco...
E mergulhei no banhado

Pensei que era 'bem feito'
Por fazer essa maldade
A flor não me pertencia
Pois era da imensidade

Fui apartando aguapés
Até chegar junto à flor
Mas na hora do delito
Minha coragem faltou

Tanto trabalho passado
Pra desistir logo agora...
Senti até o seu aroma
Mas devoltei... fui embora!

Porém depois de três dias
Eu trouxe ali o meu amor
Falei com toda alegria
Que lhe ofertava essa flor

Na terra a flor do meu mundo!
Na água a flor amarela!
Pensei pra mim (num segundo)
'Eu não sei qual a mais bela'

Mas me lembrei do barranco
Fiquei meio envergonhado...
No amor e no aguapezal
Há que ter muito cuidado!...



Martim César

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Depois da curva da estrada tem um pé de araçá... Renato Teixeira




Cinco léguas de saudade

Ao longe... na polvadeira
Vem um sulky pela estrada
Vou esperar lá na porteira
Pois vem nele a minha amada

Minha amada vem chegando
Cruzando várzea e coxilha
O seu pai vem no pescante
Pra entregar-me a sua filha

São cinco léguas de estrada
Do meu rancho até a sua casa
Se uma légua já é distante
Mais quatro?... só tendo asas!

Daqui nós dois vamos juntos
No rumo da capelinha
Pra fazermos juramento
De eu ser só seu e ela minha

Depois voltamos voando
Num trotezito apurado
Que foi dez 'mês' de namoro
E muitos mais de noivado


Martim César

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Concórdia - SC - Final de agosto

Agradecimento

Posso dizer que foi um dia realmente especial. A nossa trupe de artistas mambembes e afins saiu de Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, cruzou por Pelotas e Porto Alegre, atravessou o Rio Grande do Sul, até a cidade de Concórdia-SC, apropriando-se provisoriamente da República Juliana, em uma invasão cultural em que até o Dom Quixote fazia parte (na verdade, era mais uma das suas saídas Cervantinas sobre as terras de La Mancha). Primeiramente ministramos uma oficina de Poesia onde Manoel de Barros, Neruda, Quintana, Pessoa - e outros da mesma estirpe - nos visitaram e, após, realizamos um recital do Caminhos de Si, para mais de 300 pessoas, com direito a uma saída apoteótica do Sancho Pança pelo meio do teatro local. Por fim, o encerramento com as apresentações das duas maiores vozes do RS (na minha não tão modesta opinião): Maria Conceição e Marco Aurélio Vasconcellos, em um fecho digno dos maiores espetáculos que já presenciei. Foi realmente uma noite mágica.
Quero, portanto, agradecer aos que nos deram essa oportunidade de viajar pelo mundo da arte, da cultura e da fantasia. A literatura esteve presente e em grande estilo. A música, a poesia, o teatro também. Obrigado ao grupo Parceria, irmãos Schneider e ao povo de Concórdia e das cidades vizinhas (Joaçaba, Chapecó, etc.). Muito bom, também, é ler a frase que os organizadores enviaram: 'em 8 anos de eventos este foi o que mais nos impressionou'. A nós também, pela acolhida do público e pelo tratamento recebido dos organizadores dessa jornada quixotesca.
Gracias a todos.



Caminhos de Si

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

E o futuro.. é uma astronave que tentamos pilotar... Toquinho



A máquina de preparar o futuro

Na minha rua havia um senhor
que preparava o futuro.

Sempre que eu passava, ele estava ali
Montando uma estranha máquina.

Para que serve, perguntei.

Para preparar o futuro, contestou.

Num lado se coloca moedas de presente,
No outro colhe-se tesouros de futuro.

Ah!Entendi...

(Mas na verdade eu não entendia não)

E funciona?

Ainda não, mas vai funcionar um dia.

Legal!

Um dia, depois de muito tempo,
Eu voltei a passar em frente àquela casa.

Ele não estava mais.
Nem ele, nem aquela estranha engenhoca.

Fiquei pensando...

Será que ele já estava no futuro?

Ou será que de tanto se preocupar com o futuro
Havia se esquecido de viver no presente?

Nunca saberei.

Apertei com força a moeda que eu tinha no meu bolso.



Martim César

Entrevista - Marco Aurélio Vasconcellos - Lançamento Califórnia 2013

É muito antigo meu canto
Bem mais antigo que eu 
Pois todo verso que planto
Veio em mim, mas não é meu.




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