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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Temos a chave, mas onde estará a porta?




Tempo ausente

Eu bem sei do tempo que esmaece as cores sem pedir licença
Nos velhos retratos que mostram o rosto que foi nosso um dia
Desse olhar de moço que embora há muito já não nos pertença
Gravado ficou, banhado de sol, no eterno instante da fotografia


Percebo a mudança quando algum espelho me devolve a imagem
De um ser distinto ao que não mais que ontem habitava em mim
E que, em silêncio grave, desaprova o gesto de prosseguir viagem
Sem entender que a vida tem um só sentido que nos leva ao fim


A alma que me move e que se manifesta cada vez mais viva
Não detém o passo que muda a matéria como lhe convém...
O tempo trabalha e - de vez em quando - ainda nos avisa
Aproveita o hoje que está ficando tarde e a noite logo vem!


Penso, muitas vezes, que eu trouxe comigo a casa da infância
Onde dos seus quadros os meus ancestrais miravam da parede...
Quando fecho os olhos, recordo velhas noites e vejo na distância
Um guri com medo... que não se levantava, mesmo tendo sede


Esse guri que eu fui e que fugiu do espelho sem dizer-me adeus
Não sabe do adulto que chegou sem graça e lhe roubou o posto
O mesmo que vê, em seus traços fundos, o quanto envelheceu
E tampouco entende de onde vem as marcas que hoje traz no rosto



Martim César

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