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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Falhamos ao traduzir exatamente o que se sente na nossa alma: o pensamento continua a não poder medir-se com a linguagem. Henri Bergson




Aquário


Penso que existe um menino agora brincando,
correndo dentre tantos outros,
Chutando uma bola em direção a uma goleira improvisada. 
E isso ocorre neste exato instante em que trato 
de gastar meus olhos
trabalhando em um escritório.
 
Penso que é inevitável que isso ocorra.
Algo assim como causa e efeito:
o menino corre, logo eu trabalho.
Ou o inverso (que vem a dar no mesmo):
eu trabalho, logo o menino corre.
Mas também penso que – de certa forma – 
eu sou aquele menino que enxergo
através da janela do escritório.
Infelizmente - para ambos - 
ele também é este adulto que
(enquanto olha a rua, de soslaio, pela vidraça)
trata de carimbar mais um documento.

Tchumck! Carimbado. 
 
Mais um... igual a todos os documentos de todos os dias.

(desses dias vividos - desde há muito -
deste lado da janela).






Martim César


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Carreira de mucha plata... parelheiros na largada... um grito! Rumor de patas... e a sorte já está lançada.





CD - Já se vieram!


Marco Aurélio Vasconcellos – Martim César Gonçalves


Arranjos: Marcello Caminha


Lançamento – Dia 08 de Outubro – Jaguarão – Cine Regente – 21 hs


Canções que registram as imagens desse povo que ainda vive nos fundos de corredor, ou nos ranchos de beira de estrada. Tropeiros, alambradores, posteiros, esquiladores, bolicheiros, peões de estância, domadores. Personagens reais que o tempo insiste em apagar, mas não consegue. Basta um domingo de carreiras e lá estão eles. Nas margens das canchas retas, improvisando um jogo de tava e soltando seus versos onde a balaca de cada paisano é pura poesia pampeana. 'Não é só butiá que dá em cacho', 'Água que se queima o rancho' e por aí afora. E – de repente – já está na hora de mais uma penca... ainda hoje posso divisar nos caminhos da memória um Dom Segundo (já no fim da vida) mal e mal se segurando em riba do seu pingo e apostando os pilas, que trazia dobrados na guaiaca, com um 'gaucho' chamado Torquato Flores, mui conhecido por pajador e calavera. O coimeiro, finalmente dá por terminadas as apostas. O tempo parece que para nesse momento... os parelheiros aparecem no partidor... e – como acontece há mais de dois séculos nessas lonjuras da fronteira – ouve-se a frase famosa, que parece haver nascido com o primeiro campeiro, mescla de índio, negro e branco, que povoou estas bandas: 'Já se vieram!'.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Dia 08 de outubro... uma penca na cinacina... um guitarreiro dos buenos deste nosso pampa... e um cantor lendário no antigo Cine Regente.


  


Canção de ninar meu mundo

       Nessas tardes de invernia
       Meu coração abre as asas
       E voa de volta às casas
       Atrás de tantas lembranças
       Lá onde a minha infância
       Ainda queima suas brasas

Lembro meu pai junto ao fogo
Mateando nas madrugadas
Lembro das sestas passadas
Jogando bola de meia
         Qual é o guri que sesteia
Se a vida ainda é tão clara?

         Céu pedrento, chuva ou vento
         Nos diziam os avós
         Lembranças vivas na voz
         Que aponta rumos e trilhos
A mesma que um dia os filhos
Por certo ouvirão de nós

         Cruz de sal contra a tormenta
         Contra os males... benzedura
Luz no campo em noite escura
Seguro que é boitatá
Menino não chora mais
Que a reza nos assegura!