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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ainda és capital do amor em Portugal... (José Galhardo / Raul Ferrão / José Dos Santos)


Foto:Jose  Santos


Velhas casas de Coimbra


Quando penso em tuas ruas
Não preciso que me contem
Há um céu feito de luas
Há um barco no horizonte

Há guitarras portuguesas
Reclamando um desamor
E outro amor há, com certeza
A esperar por seu cantor

Velhas casas de Coimbra
Onde a noite jamais finda
Onde a lua clara e linda
Se debruça nos balcões...

Velho reduto do fado
Deixo um verso em teu costado
E te levo em mim guardado
Para sempre nas canções...


Quando às vezes te imagino
Singro as águas do Mondego
O teu fado é o meu destino
Me espera que eu já chego

Há guitarras portuguesas
Junto à voz de algum cantor
E já sabemos, com certeza
Isto é um fado... sim, senhor!



Martim César

quarta-feira, 28 de maio de 2014

De mãe índia e pai ibero.



Antes de ser marinheiro

Vim de uma terra distante
Mas que é tão perto de mim
Onde eu sei... já vivi antes!
Foi meu princípio e meu fim

Rios que dividem dois mundos
Pedras que viram meus passos
Cantos de um tempo profundo
Razões dos versos que eu faço

Rio Ebro, Padre Ibero... eternamente
Deste um nome/ aos caminhos dessa terra
De mãe índia... mas também teu afluente
No meu sangue/ há um rio chamado Ibéria


Sei de vales e montanhas
Lugares perdidos no tempo
Ainda nem eras Espanha
Só reinos de pedra e vento

E quando – às vezes - te penso
Cruzo outra vez teus sendeiros
Fui pastor dos teus silêncios
Só bem depois... marinheiro!


Martim César

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Os cruzados carregam suas bandeiras cristãs e entre a cruz e o Islã só quem perde é a paz - Caminhos do Tempo Infindo - Caminhos de Si




Céus de Castilla y León

Há um mundo dentro do mundo
Quando se cruza essas terras
Distância em sangue gravada
Séculos de amor e de guerra

Céus de Castilla y León
Que viste El Cid nascer...
Me conta daqueles dias
Meu coração quer saber

Por trás de tantas muralhas
Parece que o tempo não passa
Ou - ao passar - descompassa
Ao recordar mil batalhas

Espanha, por teus caminhos
Pareço ver Sancho Panza
E um D. Quixote que avança
Frente aos temíveis moinhos

Reinos lendários da Ibéria
Fronteiras da cristandade
Se eu não vivi nesse tempo
Como é que eu sinto saudade?

Ah! Calles de Salamanca
Piedras sagradas de Burgos
Não sabe os rumos da História
Quem não cruzou por teus muros


Martim César

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Como no estás experimentado en las cosas del mundo, todas las cosas que tienen algo de dificultad te parecen imposibles. Cervantes (por boca del Quijote)




Céus de Castilla y León

Há um mundo dentro do mundo
Quando se cruza essas terras
Distância em sangue gravada
Séculos de amor e de guerra

Céus de Castilla y León
Que viste El Cid nascer...
Me conta daqueles dias
Meu coração quer saber

Por trás de tantas muralhas
Parece que o tempo não passa
Ou - ao passar - descompassa
Ao recordar mil batalhas

Espanha, por teus caminhos
Pareço ver Sancho Panza
E um D. Quixote que avança
Frente aos temíveis moinhos

Reinos lendários da Ibéria
Fronteiras da cristandade
Se eu não vivi nesse tempo
Como é que eu sinto saudade?

Ah! Calles de Salamanca
Piedras sagradas de Burgos
Não sabe os rumos da História
Quem não cruzou em teus muros

Martim César


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Finsterre, ou o farol do fim do mundo.



Onde o vento faz a curva

Galícia...
Onde o mar nunca termina
Onde o vento canta e gira
Sempre em volta dos faróis

Galícia...
Fim da terra conhecida
Começo de outra nascida
Aonde vão dormir teus sóis

Galícia...
Em teus portos marinheiros
Em teus povoados pesqueiros
És princípio e és final

Galícia...
Faro de Hércules romano
Dando adeus ao oceano
Numa lágrima de sal...

A bênção, senhora minha
Que eu parto de manhazinha
Pra o novo mundo, além-mar

Senhora, eu juro por San Tiago
Pelo amor que é mais sagrado
Que eu - um dia - hei de voltar!!



Martim César

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Meu coração hoje é como um fado...


Ave estranha

Demora em mim
Essa dor que não mostra a sua face
Num disfarce de andar sempre assim
Só por dentro é que a vida anda rasa
Como se o coração fosse casa
Sem janela, sem porta ou jardim

Demora em mim
Vida a fora como fosse cicatriz
Como marca de guerra na pele
Mostrando o que o lábio não diz
Estranha ave que o amor não encerra
Pois se está livre se sente infeliz

Demora em mim
Uma saudade que me invade
Cada vez que não te vejo
Uma vontade que não sabe
Ir mais além deste desejo
De estar contigo, em teu abrigo
No doce perigo que eu preciso...
No paraíso do teu beijo.

Demora em mim
Esse amor que na flor se consome
Esse nome que sangra em carmim
Como se o meu querer fosse asa
Como se o teu olhar fosse brasa
Ardendo, queimando até o fim

Demora em mim
Vida a fora como fosse cicatriz
Como marca de guerra na pele
Mostrando o que o lábio não diz
Estranha ave que o amor não encerra
Pois se está livre se sente infeliz

Martim César


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa



Pelos caminhos do norte

Pelos caminos do norte
Sempre vão os peregrinos
Pois não há maior destino
Por entre a vida e a morte

Água e vento, bruma e areia
Pedras perdidas no mar
Onde a lua, quando cheia
Despeja prata no olhar

Em cada porto um segredo
Em cada monte um farol
São guardiões dum outro tempo
Mas sob este mesmo sol

Velhas lendas marinheiras
De amores não permitidos
Hoje perdidos na poeira
De um mundo já esquecido

Há uma Guernica queimando
Na alma de todos nós
Um quadro em sangue mostrando
É o homem seu próprio algoz

Nos rumos de Santiago
Ao fim da terra conhecida
Milagre é o caminho andado
O que muitos chamam... de vida!




Martim César

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Todavía cantamos, todavía esperamos.... Víctor Heredia



O velho e seus canários

Existem muitas formas de gritar
Mesmo quando se parece estar calado
Ainda que os jornais sigam mentindo
E não importe a vida de quem vive ao lado

Um dia roubaram daquele velho
De todos os seus relógios os horários
Levaram todos os sóis conhecidos, salvo
O dormido no amarelo de seus canários.

Ninguém sabe quanto lhe dói a dúvida
O peso dessa cruz que ainda suporta
De sempre perguntar pelo de sempre
Batendo sempre nessas mesmas portas

Noite à noite voltava a ler os jornais
Cumprindo, com paciência, seu itinerário
Escolhendo as fotos de velhos generais
Para forrar a gaiola de seus canários

Se cada um aparece ao mundo quando nasce
E no dia em que morre então desaparece
O que, enfim, parece ser um desaparecido
Nome sem corpo, tumba que só tem a prece?

Quanto mais se presume que chegou o fim
Mais seu renascimento costuma ser diário
Pois o contrário da morte não é a vida
E sim essa dúvida da morte ao contrário

Tinha corpo o filho que um dia viu nascer
E que - sem adeus - sumiu do seu olhar
Ninguém nunca se parece a um desaparecido
Alguém que não se foi, mas nunca mais irá voltar.



Mauricio Raupp/Martim César

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Vida minha vem comigo, hoje sou eu que convido a dançarmos esta valsa. Par de doidos



Para o tempo de nós dois

Vim de longe... de outras terras!
E andei muito pra chegar
Tendo a viola por abrigo
Contra o gume dos perigos
Contra os desmandos do mar

Mas depois que vi teus olhos
Pousando em cima dos meus
Perdi a pose e o tino
Troquei de ponta o destino
E encomendei-me pra Deus

Canção de menina moça... me ouça!
Que eu preciso lhe contar
Dessa cantiga que eu fiz
Pra quem só fez mais feliz
Os rumos do meu olhar

Canção de menina moça... me ouça!
Um instante sim, por favor!
Pra dizer nesta cantiga
Que serei por toda a vida
Tão somente o teu cantor!

Vim de longe... e já faz tempo!
Trazendo flores e espinhos
Descobrindo pela estrada
Que é bem mais longa a jornada
Pra quem caminha sozinho.

Por isso... de vez em quando
Quando lembro o que se foi
Agradeço a este mundo
Por viver cada segundo
Deste tempo de nós dois.


Martim César

sexta-feira, 28 de março de 2014

Hoje é sempre... amanhã é nunca mais!



Pandora é simultaneamente a introdutora dos males mas também da
força, da dignidade e da beleza, e a partir da abertura da sua
caixa o ser humano não pode melhorar a sua condição sem
enfrentar adversidades.
A história conta que após Pandora receber o jarro, ela recebeu uma ordem de Zeus dizendo para jamais abri-la. Dia pós dia, Pandora ficava cada vez mais curiosa, e um certo dia, decidiu que iria abri-la para ver o que havia dentro. Quando a abriu todos os males foram libertados, exceto um, que ali dentro permaneceu: a esperança.


Pandora

Uma silhueta de mulher, bela e fugaz
Que a pupila abrange, dilata e acostuma
Tão clara no olhar, etérea como a bruma
Que só existe sem tocar e ao tocar-se se desfaz

Uma silhueta de mulher, tão leve como a pluma
Que de todos os desejos, me desperta o mais voraz
Inflamando os meus sentidos, tão serena como audaz
E que depois por livre, se desmancha como a espuma

Uma mulher igual a todas, qual se todas fossem uma 

Com sua caixa de Pandora frente a todos os mortais 

Aromada nas manhãs (que à luz da aurora se perfuma)



Uma mulher à flor da pele, com seus gestos sensuais

Uma mulher igual a todas - todas elas e nenhuma -

Me provando que hoje é sempre e amanhã
é nunca mais!


Martim César

segunda-feira, 24 de março de 2014

Lá em riba estão as estrelas... cá embaixo... o cantar dos galos! Aureliano de Figueiredo Pinto




Olhos do Pampa

Nas noites claras do Pampa, bem acima dos galpões
Há olhos que nos vigiam e são mais que apenas clarões
São, talvez, visões de um tempo vindo de outras gerações
Dos que escreveram a história que hoje eu trago comigo
Responso, sangue e memória - razões dos rumos que eu sigo.

Pois somos o elo da corrente que chega desde o passado
Guardiões de velhas taperas, cuidando o solo sagrado
Nas veias trazendo a seiva e o gosto do mate amargo
Um rio antigo que nos une já desde a ronda primeira
Quando não havia alambrados, nem países, nem fronteiras.

Por isso ao cair da noite... bombeando a luz das estrelas
Me pego cismando, às vezes, que todo gaúcho ao vê-las
Enxerga o lume de um tempo que se timbrou no seu peito
Outras eras... outra idade que moldou pra sempre seu jeito
Pois foi ao redor dos fogões que nasceu a nossa identidade!

Cada fogueira do Pampa com sua misteriosa claridade
Alumiou a tez desses homens que há muito já não estão
Mas que forjaram essa pátria que trago em cada canção
Lugar onde sei que um dia também teria minha campa
Sob o clarão das estrelas... os sagrados olhos do Pampa!




Martim César