O
velho e seus canários
Existem
muitas formas de gritar
Mesmo
quando se parece estar calado
Ainda
que os jornais sigam mentindo
E
não importe a vida de quem vive ao lado
Um
dia roubaram daquele velho
De
todos os seus relógios os horários
Levaram
todos os sóis conhecidos, salvo
O
dormido no amarelo de seus canários.
Ninguém
sabe quanto lhe dói a dúvida
O
peso dessa cruz que ainda suporta
De
sempre perguntar pelo de sempre
Batendo
sempre nessas mesmas portas
Noite
à noite voltava a ler os jornais
Cumprindo,
com paciência, seu itinerário
Escolhendo
as fotos de velhos generais
Para
forrar a gaiola de seus canários
Se
cada um aparece ao mundo quando nasce
E
no dia em que morre então desaparece
O
que, enfim, parece ser um desaparecido
Nome
sem corpo, tumba que só tem a prece?
Quanto
mais se presume que chegou o fim
Mais
seu renascimento costuma ser diário
Pois
o contrário da morte não é a vida
E
sim essa dúvida da morte ao contrário
Tinha
corpo o filho que um dia viu nascer
E
que - sem adeus - sumiu do seu olhar
Ninguém
nunca se parece a um desaparecido
Alguém
que não se foi, mas nunca mais irá voltar.
Mauricio
Raupp/Martim César
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