De
uma tarde na distância
O
fim de tarde se achegou numa tormenta
Daquelas
brabas que aparecem nos janeiros
A
escuridão impondo à várzea o seu silêncio
Poncho
lobuno sobre as casas e os potreiros
Num
antigo gesto, como herança dos avós
Pôs-se
uma cruz feita a machado no terreiro
No
velho ofício de espantar trovões e raios
E
mudar de pronto o temporal num aguaceiro
Foi
quando o vento assobiou por sob a quincha
E
a polvadeira se alvorotou por um segundo
Meus
olhos piás, bombeando tudo, assombrados
Tinham
o tamanho dos sentidos deste mundo
Hoje
ao lembrar-me dessas tardes que ficaram
Entre
os galpões e a velha casa de uma estância
Vejo
que o tempo trouxe nuvens bem mais densas
E
tenho saudade dos temporais da minha infância
Depois
a fúria calou-se assim... num de repente!
E
mesmo a vida parou também por um instante
Como
pousando para eternizar-se em um retrato
Até
que um raio por fim tocasse tudo adiante
Quando
o trovão encheu de som a imensidão
Clareando
a tarde, da mangueira até a estrada
Pariu
o céu - como em um regalo à natureza -
E
nasceu a chuva a chorar em mangas d'água.
Martim
César
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