A
mão que ergueu as cidades
(Martim
César/Diego Müller)
Há
um rio de sangue antigo que escorre por entre as mãos:
Uma
outra vida sagrada – que como veio se foi!...
Porém
na alma do escravo jamais se vê a ferida
Jorrando
sonho em segredo – na sina igual a do boi!
Machuca
a faina dos dias, mas ainda a noite dói mais...
A
mãe-áfrica distante hoje é um lugar muito além!...
Quase
não pode seguir, mas não lhe cabe esperar ...
Esse
amanhã que virá, que sempre tarda e não vem!
A
mão que ergueu as cidades – quem saberia o seu nome?
O
sangue que uniu tijolos, alguém reparou sua cor?...
Nos
casarios opulentos habitariam outros homens,
Ou
todos seriam iguais... ante a alegria e a dor?!
Há
um rio de dor muito antiga circulando entre as artérias:
Que
o tempo esqueceu a alcunha e quis trocar, por herança...
Dos
canaviais e senzalas, das capoeiras... quizombas...
Parindo
as festas profanas... ninando a paz das crianças!
Mangueirões,
cercas de pedra... mil taipas nos corredores!...
Telhas
moldadas nas coxas... pro altar das ostentações!...
De
dia o sangue brotando se transformando em cultura...
Nas
noites tão só a esperança... no batucar das canções!
A
mão que ergueu as cidades – quem saberia o seu dono?
Os
dedos modelando a terra, criando ali nossa história!...
Sementeiras
destas ruas que sustentaram as cidades...
Alguém lembrará os
seus nomes na hora de cantar glória?!
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