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quinta-feira, 13 de março de 2014

Toda a arquitetura magnífica destas cidades sulinas foi criada pela arte branca, pelo suor e sangue negro, sobre território índio. Mestiços somos. Martim César



A mão que ergueu as cidades
(Martim César/Diego Müller)


Há um rio de sangue antigo que escorre por entre as mãos:
Uma outra vida sagrada – que como veio se foi!...
Porém na alma do escravo jamais se vê a ferida
Jorrando sonho em segredo – na sina igual a do boi!

Machuca a faina dos dias, mas ainda a noite dói mais...
A mãe-áfrica distante hoje é um lugar muito além!...
Quase não pode seguir, mas não lhe cabe esperar ...
Esse amanhã que virá, que sempre tarda e não vem!

A mão que ergueu as cidades – quem saberia o seu nome?
O sangue que uniu tijolos, alguém reparou sua cor?...
Nos casarios opulentos habitariam outros homens,
Ou todos seriam iguais... ante a alegria e a dor?!

Há um rio de dor muito antiga circulando entre as artérias:
Que o tempo esqueceu a alcunha e quis trocar, por herança...
Dos canaviais e senzalas, das capoeiras... quizombas...
Parindo as festas profanas... ninando a paz das crianças!

Mangueirões, cercas de pedra... mil taipas nos corredores!...
Telhas moldadas nas coxas... pro altar das ostentações!...
De dia o sangue brotando se transformando em cultura...
Nas noites tão só a esperança... no batucar das canções!

A mão que ergueu as cidades – quem saberia o seu dono?
Os dedos modelando a terra, criando ali nossa história!...
Sementeiras destas ruas que sustentaram as cidades...


Alguém lembrará os seus nomes na hora de cantar glória?!

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