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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Mas quanto vale a poesia?



Náufragos urbanos

Nós somos náufragos urbanos
Somos a parte dessa arte
Que ficou fora dos planos
Nós na verdade sempre estamos
Fora das leis de mercado
Longe dos padrões mundanos

Mas quanto vale a poesia?
E, afinal, quem pagaria
Por uma canção urgente...
Que seja como a juventude
Quando surge a inquietude
De um caminho diferente?

Nós somos náufragos urbanos
Somos o avesso, o pé esquerdo
O desespero dos tiranos
Nós na verdade sempre estamos
A nadar contra a corrente
E nem à força nos calamos

Mas quanto vale a poesia?...

Nós somos, sim, o passo errado
O descompasso, a imprecisão
A perdição dos bem criados
Mas mesmo assim, o engraçado
É que pensamos que ser livre
Não nos parece ser pecado




Martim César

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O tempo que corre fora, não é o que corre por dentro. Caminhos de Si



O meu relógio às avessas (Diego Müller/Martim César)


Fiz um relógio às avessas
Pra o tempo voltar, por si...
Como a buscar, tendo pressa
Os dias que eu já vivi...
Girando pelo anti-horário,
Contar dois depois do três...
Ir atrás... no calendário
Rever meu mundo outra vez!


Sendo igual a engrenagem
Os mesmos são os ponteiros!
Mas nessa estranha viagem
O fim começa primeiro
Tudo igual... mas diferente
Porque é inverso o sentido
Cada passo dado em frente
É menos um dia vivido!


Fiz um relógio às avessas
Pra regressar a esse mundo
Até onde tudo começa
Desde o primeiro segundo
Mas descobri, na jornada
Indo ao revés no caminho
Que quanto mais eu andava
Mais eu ficava sozinho.


O tempo só anda em frente
- É a regra mais que sabida! -
Vamos todos na corrente
De um rio que se chama vida
Mas se chegasse essa hora
De andar no tempo às avessas
Será que a nossa escolha
Seria – de fato – essa???


Melhor seguir esse rumo
Igual aos nossos iguais
Sempre adiante, todos juntos
Os filhos depois dos pais
Por algo somos humanos
E à humanidade seguimos...
Vida a fora, ano a ano
Cumprindo o nosso destino!



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Há coisas que têm valor, outras que só têm preço. Martim César



Náufragos urbanos

Nós somos náufragos urbanos
Somos a parte dessa arte
Que ficou fora dos planos
Nós na verdade sempre estamos
Fora das leis de mercado
Longe dos padrões mundanos

Mas quanto vale a poesia?
E, afinal, quem pagaria
Por uma canção urgente...
Que seja como a juventude
Quando surge a inquietude
De um caminho diferente?

Nós somos náufragos urbanos
Somos o avesso, o pé esquerdo
O desespero dos tiranos
Nós na verdade sempre estamos
A nadar contra a corrente
E nem à força nos calamos

Nós somos, sim, o passo errado
O descompasso, a imprecisão
A perdição dos bem criados
Mas mesmo assim, o engraçado
É que pensamos que ser livre
Não nos parece ser pecado

Mas quanto vale a poesia?
E, afinal, quem pagaria
Por uma canção urgente...
Que seja como a juventude
Quando surge a inquietude
De um caminho diferente?




Martim César

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Um segundo antes do fim...



Um segundo antes do fim

Foram tantas madrugadas pela vida
Feito um barco à deriva
Navegando, meu amor, sem ter um cais

Tinha em mim tantos acenos de partida
No olhar a nostalgia
      De quem tem o seu destino preso ao mar
      Se eu sonhasse a primavera
E pintasse o chão de flores

      Nem assim eu tinha as cores

Que eu só vi nos olhos dela.

Nem assim...

      Se eu tivesse o dom em mim
De expressar-me em poesia

      Nem assim eu poderia

Explicar o que eu senti.

      Um segundo antes do fim... o Armageddon!
Supernova em distensão... o som
Da explosão dentro de mim.

       Quando tu me encontraste um dia,
 A tormenta de repente se desfez
 E as velas sempre abertas pro adeus
 Se renderam, enfim, ao sabor da calmaria.
        Alma em flor...

        Descobri que não tem como, nem porquê...
 Meu amor, eu só sei que já não posso
 Mais viver sem você.

         Eu que andava na imensidão do mar,
       Eu queria somente ser teu cais,
        Encontrei em teu porto a minha paz!
       Ser teu chão... ser tua casa... ser teu par!

Martim César



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A flor vencendo canhões... Geraldo Vandré



Além da sombra dos muros

Além da sombra dos muros
Mas cada vez bem mais perto
O homem muda seu mundo
Transforma a mata em deserto
Sai em busca de outros planos
- como sonhando ter asas -
(Talvez porque em sua volta
Já não terá mais sua casa)
Somente pensa no lucro
Envenenando o plantio
Pouco lhe importa o ar puro
E a sede no olhar dos rios

Porém aqui deste lado
Aos poucos que ainda somos
A Terra faz um chamado
Dizendo que não tem dono
E tendo a canção por bandeira
Vamos cavando trincheiras
Tentando deter em versos
Os que só creem no progresso
Para sua própria riqueza
Destruindo a natureza
Nessa loucura incontida
Sem entender que a vida
É o maior valor do universo.

Além da sombra dos muros
O homem só vive em guerras
Para vender armamentos
Para cada vez ter mais terra
Expulsam os seus nativos
Cultivando a intolerância
Mas esquecem que seus filhos
Não se alimentarão de ganância
E que o futuro está à frente
Mas se decide no agora
Se não seremos somente
Não mais que poeira na História!


Martim César

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Navegar é preciso, viver não é preciso. Petrarca/ (Fernando Pessoa)



Um lugar longe daqui

Eu vou sair sem rumo dia desses
E nada mau se aparecesses
Pra fugir junto comigo
Vamos pro Alaska ou pro Caribe
Lá onde nada nos proíbe
De fazer o mundo ter sentido

Vida é andar longe da estrada
Uma velha calça desbotada
Tão só a mochila pra levar
Vida é nos perdermos pelo mundo
É mergulhar no mar profundo
E ter o céu dentro do olhar

Quero uma canção que seja livre
Pra dizer que o que eu já tive
É bem menor do que eu serei
Quero é dizer aos quatro ventos
Que de hoje em diante todo o tempo
A minha lei é não ter lei

Eu sonho esse dia libertário
Sem mais papéis, sem mais horários
Nós dois e a vida, nada mais
Nós, uma canção e uma guitarra
Soltando ao vento as amarras
Que a terra já ficou pra trás.

Nós, soltando ao vento as amarras
Que o resto já ficou no cais.



Martim César

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Vuela en el viento mi canción....



Camino del recuerdo


Caminaré
Por esas calles que hace tiempo fueron mías
                        Y buscaré
El sol clarito que alumbraba aquellos días
                        de mi infancia
Pequeña flor que se durmió
En el recodo de un jardín

                        Recordaré
Los mediodías en la sombra de una higuera
                        Y aquél abuelo
Que cuidaba parejeros pa’ las pencas
                        de domingo
Lejana voz que se grabó
En mi vivir de cunumí

Yo volveré...
Más temprano que tarde volveré
A reconocerme en la mirada de mi gente
Y en la nostalgia de algún paisano trovador

Yo volveré...
Más temprano que tarde volveré
Y aunque tanto tiempo estuve ausente

Verá mi pueblo que lo llevo en mi canción

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Si piensas volver al pago no tardes mucho...



Cuando el Sur no es tan solo una palabra

Cuando el Sur no es tan solo una palabra
Es tu voz y tu canción, es tu mano y tu guitarra
Es la calle de tu infancia y es el patio de tu casa
Es tu madre que te acuna y es un canto de cigarras

Cuando el Sur no es tan solo un rumbo más
Es un poco de alegría frente a tanta soledad
Es un tiempo de muñecas y castillos de cristal
Es un río que no sabía si era río o si era mar

Porque allá se ha quedado la charla de tus viejos
Los vecinos preguntando: "Hola, nena,¿Cómo estás?"
Las huellas de tus pasos, la historia de tus muertos
Y ese sueño que es más fuerte que cualquier realidad

Porque el Sur hoy es un tiempo 
                                        más que un pueblo o un lugar
Es la casa que no olvidas y que nunca olvidarás...
Porque el Sur hoy es la vida que ya nunca volverá
Es un río que no sabía si era río o si era mar

Cuando el Sur no es tan solo una palabra
Es el sol en tu ventana y el lucero en el alba
Las mañanas del colegio y las tardes de algazarra
El recuerdo de tu abuela y el dulzor de su mirada

Cuando el Sur no es tan solo un rumbo más
Es el barrio en que creciste y las horas de jugar
Es el beso de tu padre, su presencia y su amistad
Es un río que no sabía si era río o si era mar.


Martim César 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Carpe Diem


Pelas fronteiras do tempo

Se sou um rio de águas mansas
Embora em meio a corredeiras
Por que me amargam as distâncias
Por que me doem as fronteiras?

Mesmo as fronteiras do tempo
O que eu serei e o que eu fui
Não mais que poeira no vento
Gota que no mar se dilui

Quem sabe por que o passado
Não passa, às vezes, pra sempre
E transmite, enfim, seu legado
Invadindo o chão do presente

Casarios antigos, ruas empedradas
Museus de Sacramento, seculares templos
Reduções jesuitas resistindo ao tempo
Pegadas de outras eras cruzando nossa alma

Por isso o sentimento que a imagem provoca
Do mundo que existiu num dia antes de nós
E se acaso silenciarmos ouviremos sua voz
Aproveitem este dia! Eis o tempo que nos toca!

Se a essas águas tão ligeiras
Ninguém pode deter jamais
Por que me agarro às ribeiras
Mesmo ainda distante do cais?

Talvez por que a cada passo
Um tanto de sonhos perdemos
Vai ficando a ilusão nos retratos
Vai seguindo o real nos espelhos

Porque somos carne e memória
- tendo uma vida por centro -
Vamos nos modificando por fora
Ainda que os mesmos por dentro.



Martim César

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

La única que se pierde es la que se abandona. Madres de la Plaa de Mayo





Cuando una plaza llora

A Juan Gelman, por su lucha


Las madres siguen caminando
En la Plaza de Mayo
Hace mucho que son abuelas
De niños casi olvidados

Pero no habrá nunca olvido
Para quién fue sangre y memoria
Porque una vida nace y muere
Pero no se apaga su historia

Hoy los tiempos ya son otros
Pero quizás sean los mismos...
Los condores solo están disfrazados
Esperando en la paz de sus nidos

Una llovizna cae sobre Buenos Aires
Y es el llanto de las madres
Con sus lágrimas de memoria
Más bien es el llanto del mundo
Recordando un tiempo oscuro
Cuando una plaza llora...
Cuando una plaza llora.

Los días siguen avanzando
Hacia el futuro, siempre más
Y ellas ahí están.. todos los jueves
¡Ni un paso atrás!... ¡Ni un paso atrás!

Son golondrinas con pañuelos blancos
Que levantan la bandera de sus hijos
Con su ejemplo van mostrando al mundo
Que ellos son mucho más que desaparecidos

¡Aparición con vida!... siguen resistiendo
Marchan en la plaza, son como palomas
Sólo hay una lucha que al fin se pierde...
Aquella, compañero, que un día se abandona


Alan Otto/Martim César

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Temos nosso próprio tempo... Renato Russo



O calendário

Quando chegamos ao mundo
O tempo não nos importa
É só um distante futuro
Muito além da nossa porta

Na parede, o calendário
(Sem ter pressa) nos espera
Pois sabe o dia e o horário
Em que parte a primavera

Depois o sol sobre as casas
Enfim à estrada convida
Já é hora de abrir as asas
Para a primeira partida

Assim, por livres, corremos
Quase sem tocar o chão
Enquanto o tempo - sereno -
Esmaece a luz do verão

Um dia, sem mais porquê,
Ao diminuir nosso passo
Começamos a entender
Que somos tempo e espaço

E o calendário nos mostra
Que tudo aquilo que fomos
É vida que não tem volta
Tal como folhas no outono

O que adiantou tanta pressa?
Tanto correr contra o tempo?
Se toda a verdade é essa:
Só o que existe é o momento!

Somos peças - nada mais -
De um ciclo que não é eterno
Chama de um brilho fugaz
Que sempre acaba no inverno


Martim César