Hora
da siesta
Na
hora da siesta meu avô fechava a janela
da
casona
E
fazia que ia dormir.
Algumas
vezes dormia mesmo.
Meu
avô tinha um relho ainda do seu tempo
De
domador de cavalos.
Nunca
tivera muito, além da velha casona,
Algum
ou outro parelheiro
Para
as carreiras de domingo,
E
um relho.
Seu
relho era como se fosse o cetro de um rei.
A
hora da siesta era a nossa hora.
Pegávamos
a bola de meia, meus primos e eu,
E
íamos para baixo dos paraísos,
Ao
lado do galpão,
E
fazíamos o nosso gol a gol,
ou
dois contra um.
Sempre
era uma festa.
Até
que, algumas vezes, o avô abria a janela
E
gritava para pararmos com o barulho
Porque
se não iria fazer o relho estalar
no
nosso lombo.
No
lombo dos meus primos, eu sabia.
Eu era muito pequeno ainda,
Mas aquela hora era a melhor hora de todas.
Meu
avô já não tinha quase forças,
Mal
levantava da cama.
Eu
era muito pequeno ainda, mas lembro.
Um
dia, num desses jogos acirrados,
Acabou
acontecendo uma penalidade
para
o meu time.
Meu
primo quis chutar e eu disse que não.
Chorei,
afinal eu era pequeno.
E
me considerava o craque do time.
Meu
primo só disse que saísse da frente.
E
tudo ficou naquele 'eu chuto! Não, eu é que chuto!'
Choradeira
e gritos.
Gritos
e choradeira.
Até
que ouvimos a voz de sempre...
Só
que, dessa vez, muito mais perto de nós.
'Deixa
que eeeu chuto, gurizada de uma figa.'
Foi
um esparramo.
Eu
corri na direção das casas dos meus pais,
Que
moravam ao lado.
E
só tive tempo de ver o velho avô chutando a bola
Enquanto,
ao mesmo tempo,
Dava
um relhaço no primo menor.
O
primo mais velho tratava de fugir,
Arrodiando
o galpão.
O avô, com uma agilidade impensada,
Atirou
o relho e acertou o seu calcanhar,
derrubando-o.
Mas
os dois conseguiram fugir em direção ao fundo.
Foi
mesmo um esparramo.
Lindo
de ver, se não fosse conosco.
Depois
disso demos um tempo.
Não
foi muito, mas foi um tempo.
Na
verdade, creio que não durou uma semana
E
já seguimos com o nosso jogo de bola de meia.
Afinal,
era a hora da siesta dos adultos.
Só
que daí em diante, sempre ficava um de nós
de vigia.
Lógico:
para o caso de haver alguma penalidade.
Martim
César
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