Náufragos Urbanos, de Martim César, Ro Bjerk e Ricardo Fragoso – Raríssimos letristas gaúchos navegam com naturalidade entre a música nativista e a MPB. Lembro dois grandes: Apparício Silva Rillo e Sergio Napp. Também poeta e escritor com cinco livros, e prêmios em muitos festivais, Martim César é um deles. Este sétimo álbum em 20 anos de carreira, segundo com temática urbana, comprova o talento para versos universais e ritmos como o samba, predominante no CD. São oito parcerias com Ricardo Fragoso e cinco com Paulo Timm, ambos da Zona Sul do Estado – como Martim, que é de Jaguarão. Ao lado da ótima cantora Ro Bjerk e de músicos da competência de Aluísio Rockembach (acordeão) e Daniel Zanotelli (sax), Fragoso (voz, violão, arranjos) afirma o caráter discursivo, incisivo, até político, das palavras de Martim e seu parentesco com Dylan, Vandré, Belchior. Mas tudo com sotaque gaúcho. Um disco surpreendente. Independente, R$ 20, contato em martices@bol.com.br
Aprendizagem
Se hoje o barco em que eu navego
Já não teme singrar águas revoltas
É porque as curvas misteriosas desse rio
(que há tempos já não nego)
Sabem há muito que estou pronto
E que vou assim ao seu encontro
Corpo leve, alma aberta, velas soltas
Mas confesso, se eu pudesse
Eu voltava pra esse tempo
De pandorga solta ao vento
Onde nem o tempo havia
Quando a alma tinha asas
Onde o mundo era as casas
A vida o sol de cada dia
Mas confesso, se eu pudesse
(só, talvez, por um segundo)
Eu voltava pra esse mundo
Onde iniciei meu destino
Quando a vida tinha asas
Onde ainda junto às casas
Estão meus passos de menino
Se hoje as pedras que eu enxergo
Já não podem desviar-me do caminho
É porque eu já sei do imenso desafio
De receber menos do que entrego
De ver que são complexos os amores
Pois só sabe dar valor ao mel das flores
Quem entende a razão dos seus espinhos.
Música: Zebeto Correa
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