Cantigas
de Rodamundo
Eu
vim aqui rodando o mundo de meu deus
De
muito longe, pés na areia, seu doutor
Trazendo
a voz (que não me falte logo agora)
Para
cantar sobre os espinhos de uma flor
Eu
tenho tanto pra contar desses caminhos
Pois
esses olhos que a terra há de comer
Já
viram gente que avoava sem ter asas
Já
viram coisas que o mais crente não vai crer
Sou
Rodamundo, sim senhor, sou Rodamundo
De
toda história deste chão sou contador
Todo
esse tempo eu carrego num segundo
Mas
me escute com paciência, sim senhor
Lembro
um messias que pregava no sertão
E
os milhares que seguiram seus conselhos
Que
preferiram mesmo a morte à escravidão
Morrer
de pé do que viver sempre de joelhos
Eu
vi um vaqueiro que perdeu-se nas veredas
E
um outro mais que se chamou Diadorim
E
essa história de um Brasil quase esquecido
Mas
que lateja em nosso sangue mesmo assim
Sou
Rodamundo, sim senhor, sou Rodamundo
De
toda história deste chão sou contador
Todo
esse tempo eu carrego num segundo
Mas
me escute com paciência, sim senhor
Bebi
das fontes que brotaram de Ana Terra
Em
um continente que lutou anos a fio
O
tempo e o vento já apagaram tantas guerras
Mas
um Fandango há de lembrá-las, tendo frio
Ouvi
um Sepé dizer que a terra tinha dono
E
vi Blau Nunes desafiando a Teiniaguá
E
outros causos que só os avós sabiam bem
Mas
que este tempo não tem tempo de escutar...
Martim
César
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