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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo… Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.” Guimarães Rosa in Grande Sertão Veredas





Cantigas de Rodamundo

Eu vim aqui rodando o mundo de meu deus
De muito longe, pés na areia, seu doutor
Trazendo a voz (que não me falte logo agora)
Para cantar sobre os espinhos de uma flor

Eu tenho tanto pra contar desses caminhos
Pois esses olhos que a terra há de comer
Já viram gente que avoava sem ter asas
Já viram coisas que o mais crente não vai crer

Sou Rodamundo, sim senhor, sou Rodamundo
De toda história deste chão sou contador
Todo esse tempo eu carrego num segundo
Mas me escute com paciência, sim senhor

Lembro um messias que pregava no sertão
E os milhares que seguiram seus conselhos
Que preferiram mesmo a morte à escravidão
Morrer de pé do que viver sempre de joelhos

Eu vi um vaqueiro que perdeu-se nas veredas
E um outro mais que se chamou Diadorim
E essa história de um Brasil quase esquecido
Mas que lateja em nosso sangue mesmo assim

Sou Rodamundo, sim senhor, sou Rodamundo
De toda história deste chão sou contador
Todo esse tempo eu carrego num segundo
Mas me escute com paciência, sim senhor

Bebi das fontes que brotaram de Ana Terra
Em um continente que lutou anos a fio
O tempo e o vento já apagaram tantas guerras
Mas um Fandango há de lembrá-las, tendo frio

Ouvi um Sepé dizer que a terra tinha dono
E vi Blau Nunes desafiando a Teiniaguá
E outros causos que só os avós sabiam bem
Mas que este tempo não tem tempo de escutar...



Martim César

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