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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Vida minha, vem comigo... (Par de doidos)

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Convite

Vida,
Vê se um dia me convida
A sair sem ter destino
Tu e eu... sós e mais nada
Noite alta ou madrugada
Ou manhã bem junto ao rio
E se acaso estiver frio
Um abraço nos aquece
Um carinho já nos basta
Que esse gesto anda em falta
Em meio a tanto desvario

Vida,
Vê se um dia me convida
A andar sem ter um rumo
A esquecer tanta rotina
Tanta pressa nas esquinas
Tanta urgência sem razão
Tu e eu... e uma ilusão
Outra vez voltar no tempo
Juventude solta ao vento
O universo é uma canção

Vida,
Sei... talvez tu não consigas
Não preciso que me digas
Tudo hoje é tão intenso
Não há tempo pra o silêncio
Quem dormir, não chega não

Mas vida...
Se só existe esse sentido
Por que há tantos tão perdidos
A correr sem direção?
Mas vida...
Se só existe esse caminho
Por que há tantos tão sozinhos
Mesmo em meio à multidão?


Martim César

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Quando eu voltar a ser criança...



Imaginação

Tarde, distância, pandorga
Menino pulando a janela
Meu sonho cruzando por ela
Imaginação
Campo, moleques correndo
O sol alumiando essa tarde
Tudo ainda não era saudade
Imaginação
Manhã, pai e mãe, casa pobre
Dia frio, a merenda da escola
Recreio, chuta logo essa bola
Imaginação

Tempo, outro tempo, meu tempo
Mil amigos, meus sonhos ao vento
Fecho os olhos e outra vez aqui estão
Tempo, que tempo!... esse tempo
Dias claros, eternos por dentro
Abro os olhos e posso ainda vê-los...
imaginação

Vida, amplidão, liberdade
Meu corpo parecia ter asas
Mas voar, só em volta das casas
Imaginação
Pátio, brinquedos, meu mundo
Para rir nos sobravam motivos
Os avós ainda estavam tão vivos
Imaginação
Noite, lembranças, refúgio
A infância não era memória
Não tinha um final essa história
Imaginação


Martim César

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Homenagem ao meu avô...




El parejero y mi abuelo

Mi abuelo tenía un caballo
Parejero de los buenos
Mi abuelo ya estaba viejo
Pero el caballo era nuevo

Cuando los dos se juntaban
Cruzando llanos y cerros
Era un centauro en el viento
Volando... había que verlos

Para mis ojos de niño
Mirando los dos así
Era encontrar el camino
Que yo debría seguir

Ya no tenía más fuerzas
Mi abuelo en su vejez
Pero monta'o, !si lo vieran!...
Era un gurí otra vez

Era un general en su moro
Un Artigas... San Martín...
Revoloteando su poncho
Haciendo patria y país

?Mi abuelo dónde estarás?
!Qué lejos fuíste esa vez!
Con tu parejero a volar
Llevando en tí mi niñez...

Qué pronto pasó el tiempo
Tu niño hoy es un viejo
Y pa' galopear los recuerdos
No hay ningún parejero

El parejero y mi abuelo
Dos flechas cortando el aire
Van cruzando mis recuerdos
Envueltos de eternidad



Martim César

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Quando a indesejável das gentes chegar... Manuel Bandeira



Um dia no calendário

Há um dia no calendário
Pelo qual sempre passamos
Que contém o exato horário
- só diferente no ano -
Do inverso do aniversário
Que jamais comemoramos

É a data em que partiremos
Cedo ou tarde dessa vida
Pois desde que nós nascemos
Esse final nos convida
E chegará... (já sabemos!)
Na inevitável partida

Cruzamos por nosso tempo
Como se fôssemos eternos
Nenhum arrependimento
Nenhum abraço fraterno
Jogamos folhas ao vento
E é só um... nosso caderno

Há um dia que é diferente
Mas que o vivemos igual
Que está ali, logo em frente
Em alguma curva fatal
E que escreverá inclemente
O nosso ponto final

Só então chegará o ano
- nele a data repetida -
Onde aquilo que sonhamos
Pesará na despedida
Bem ou mal... o que semeamos
É o que valeu nossa vida!


Martim César/Pedro Munhoz

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

La indiferencia ha triunfado en un mundo en donde la falta de compromiso es la posición más cómoda. Mientras el compromiso exige responsabilidad, la indiferencia sólo requiere del cinismo para olvidarse que el mundo está roto o a punto de romperse.Eduardo Galeano




CENA COTIDIANA

EU VI UM HOMEM CARREGANDO CAIXAS DE PAPEL
INSIGNIFICANTE E INDIFERENTE PELAS AVENIDAS
NINGUÉM SABE DE ONDE VEIO OU PRA ONDE VAI
NEM O MOTIVO DE DEIXAR PELAS CALÇADAS SUA VIDA
É MAIS UM SER HUMANO, MAIS UM RETIRANTE A SOBREVIVER

O MUNDO AO SEU REDOR NÃO LHE PERTENCE, NÃO LHE QUER
MARQUISES, VENDEDORES AMBULANTES NAS ESQUINAS
E O POVO CORRE, CADA UM SÓ PENSA EM SI
A VIDA PASSA NORMALMENTE SEM MUDANÇAS APARENTES
E CADA REALIDADE SEGUE O RUMO QUE LHE É MELHOR

EU VI UM SER HUMANO TÃO IGUAL E TÃO DIFERENTE...
UMA CENA COTIDIANA QUE NÃO CAUSA MAIS ESPANTO
OUTRA VIDA ALI PERDIDA JOGADA NA CALÇADA
ENQUANTO HÁ POUCOS TENDO TANTO
EXISTEM TANTOS TENDO NADA.

EU VI UM HOMEM PREPARANDO LENÇÓIS DE CARTÃO
PARA UMA NOITE QUE NASCIA SOB UM VIADUTO
E MUITO MAIS QUE O FRIO HAVIA EM SEU OLHAR
O VAZIO DOS DERROTADOS PELA INDIFERENÇA
NUM DESTINO SUBUMANO, CAMINHO DE QUEM SE PERDEU

O LUXO QUE LHE MOSTRAM OS LETREIROS É TÃO IRREAL
VITRINES DE UM MUNDO MUITO ALÉM DO SEU
A ROUPA QUE LHE COBRE, O PÃO QUE NUNCA TEM
O LIXO É QUE PROVEM, DA MESA DE QUEM SOBRA...
A QUEM É QUE HOJE IMPORTA A VIDA DE OUTRO ALGUÉM?


Chico Saratt/Martim César