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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano." Isaac Newton

No lobisomem...
Qual dilema que impera:
Ser a fera ou ser o homem?
Ser o homem ou ser a fera?

Martim César

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Amor se llama el juego en el que un par de ciegos juegan a hacerse daño.J.Sabina

Lo que me ha quedado de ese amor

(un tango para Sabina)

¿Y lo que me ha quedado de ese amor
El humo del cigarro en mis pulmones,
Las palabras de nostalgia en las canciones,
Algún poema de un poeta sin valor?

¿Y lo que me ha quedado de ese amor
Una cuenta bancaria en color rojo
Una lágrima eternizada en mis ojos
Una imagen que va perdiendo su color?

Me ha quedado un calendario de mil noches trasnochadas
Un navegante ahogado en mar de vino
Un caminante sin estrella y sin camino
Una extraña sensación de ver que todo es casi nada

Me ha quedado un desierto sin oasis de agua pura
Una floresta apiñada de hojas muertas
Una llave que no abre más la puerta
Y un pasaje sin regreso al país de la locura

¿Y lo que me ha quedado de ese amor
Una carta olvidada en un cajón
Un loco timonel en un navío sin timón
Y los pétalos ya marchitos de una flor?

¿Y lo que me ha quedado de ese amor
Una mujer que se llevó todos mis sesos
Ese olvido que me duele hasta los huesos
Este suicida que no muere por temor?

Martim César

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Meu velho um dia falou, com seu jeito de avisar: olha, o mar não tem cabelos que a gente possa agarrar. Paulinho da Viola







O dia que a morte não veio

Estava acertado o final
Hora e lugar do combate
(Pois desde o berço o mortal
Espera a faca que o mate)

Mas ao chegar o arremate
O instante grave e fatal
A morte – num disparate –
Negou seu próprio ritual

O dia em que a morte não veio
Tenho pra sempre guardado
Pois ela inventou um meio
E faltou ao encontro marcado

O dia em que a morte não veio
É uma lição aprendida:
Pois ela - por ter receio -
Enfim rendeu-se pra vida

Não morreu quem deveria
Não chegou quem se esperava
A morte – estranha ironia! –
Fingiu que bem morta estava

Ah! Eu sei que ela volta um dia
Pois sempre vem, cedo ou tarde,
Mas vai me ver – quem diria?
Tendo ela por covarde

Martim César

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O que mata a sede não é o copo... e sim a água. Glenio Fagundes

Poema a ser reescrito

Quando me busco por dentro
No poço fundo de mim
Sem rumo e insone me perco
Preso num enredo sem fim

Quem saberá o segredo
Dos medos que eu já não nego?
(Qual luz que habita o silêncio
da imensa noite dos cegos)

Eu queria uma alma serena
(Que só na infância se tem!)
Um papel esperando um poema
Sem saber qual o verso que vem

Eu queria uma vida reescrita
E outra vez sentir a emoção
Da magia sem par dessa hora
Em que nasce uma nova canção

Mas quando, às vezes, no escuro
Em mil lembranças me acendo
- Madrugado e desperto -, descubro...
Jamais há um regresso no tempo!

Martim César

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida. Carl Seagan







Do universo que eu não sei

Talvez a visão insana dessas meninas sem rumo
Talvez os rastros de errante nas madrugadas insones
Talvez o viver boêmio por entre as copas e o fumo
Talvez os olhos mendigos da mais antiga das fomes

Talvez a saudade ainda viva de um querer que se foi
Talvez o andar vazio de quem não sabe aonde vai
Talvez o segundo urgente de quem não tem um depois
Talvez a vida perdida sem encontrar nenhum cais

Eu sei de corcéis alados cavalgando sobre a noite dos caídos
Sei das galés enfrentando o mare nostrum e da Roma milenar,
Eu sei dos persas, dos hebreus, sei da Atlântida submersa
Eu sei do Egito, da madre Grécia, dos seus deuses já vencidos
Eu sei da luta... sim...da eterna luta no covil de um mesmo ser
O bem e o mal, ser ou não ser, em vez de Abel... melhor Caim
E enfim cair, meu bem, pois eu não sei – ó!meu amor –
não sei de mim! Pois eu não sei – ó!meu amor – não sei de mim!

Talvez esse verso amargo de mais um poeta sem luz
Talvez o destino infame de queimar meus próprios navios
Talvez o peso inclemente de quem carrega a sua cruz
Talvez o ‘talvez’ que sempre fez um deserto de um rio

Martim César

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sinto uma dor esquisita das ruas de Porto Alegre, onde jamais passarei... Mario Quintana (o mapa)





Desde o cais de uma janela

Quando vejo nos teus olhos
O meu sol amanhecer
Uma saudade me invade
Que nem sei de onde vem

Feito a flor da corticeira
Anunciando a primavera
Tenho em ti todas as cores
Desde o cais de uma janela

Sou um pouco dessas ruas
Que bem sabem dos meus passos
Tantas noites no teu frio
Tantas tardes de mormaço

Na usina de mil noites
Quintaneei teu mapa em mim
No néon das tuas calçadas
Becos, bares, madrugadas
Vou buscando nos acordes
Dos poetas dos teus sonhos
Os motivos por que eu vim

Velho porto dos casais
Quanta vida em ti existe!
Meu pedaço no universo
Que me alegra se estou triste

Velho porto dos casais
Muito alegre não sou não!
Mas se ando assim sozinho
Mas tão só de não ter jeito
Sei que vertes no meu peito
Um rio grande de palavras

Nos versos de uma canção!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um dia voltei; voltei sem contar pra o moço, pra moça, pra o velho, pra todos, que o além do horizonte é apenas o dia que volta amanhã. Luiz Menezes




De barro e luz

Jeito de rio
Meu canto, como tantos
Tem em si

Navegador
Nos versos que o universo
Pôs em mim

O mesmo rio
Que embalou a minha infância
Ainda em flor

E hoje me vê
Em suas margens na idade
Do sol-pôr

Chegando ao fim
Vai minha vida como um barco
Rumo ao cais

De barro e luz
Na essência todo homem
Sempre será

De barro e luz
Depois só luz...(talvez só luz)
E nada mais!!!

Martim César

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

En la América la nuestra, de açúcar, cobre y café... no hay motivo para fiesta, quinientos años de qué? Belchior/L.Carrero




Olhos de índio

Sobre um rio de asfalto onde os carros navegam
Dois mundos se enxergam, frente a frente existindo
Nos olhos do branco brilham luzes que cegam
Nos olhos do índio só o passado perdido

Quem avista da estrada seu tristonho presente
Seu viver inclemente de abandono e amargura
Despreza o seu jeito por ser tão diferente
E nem ao menos pressente sua milenária cultura

Personagens estranhos desse novo cenário
Onde regras e horários encarceram os homens
Onde crescem cidades de milhões solitários
De prateleiras repletas e de tantos com fome

São olhares distantes nas margens da estrada
Histórias veladas que o tempo desfez
Nas cestas de vime a herança deixada
A planta arrancada não germina outra vez!

Martim César

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O livro é uma extensão da memória e da imaginação. Jorge Luís Borges

Luz Andaluz

O Pampa delira nos versos de Borges
Onde o tempo circula e o que foi voltará
Artigas traído cavalga ao exílio
E o brilho de Halley se faz lua no olhar

A carreta que cruza uma estrada sem fim
Vê o primeiro avião navegando no céu
Um visionário constrói seu castelo no campo
E Neruda povoa de magia o papel

Quintana caminha pelas ruas de um porto
E o Guaíba eterniza mais um pôr-de-sol
Atahualpa professa seu silêncio profundo
Nos bares do mundo Elis Regina solta sua voz

Garibaldi descobre a coragem de Anita
E nas missões jesuítas bate um sino outra vez
Uma rádio anuncia que Gardel já partiu
Mas seu quadro sorri desde “un viejo almacen”

Luz andaluz
Estrela cadente brilhando pra sempre
Nas noites do sul

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Até sei como tudo começou... mas não tenho a mínima idéia de onde isso vai parar!



De luz e sombras
(Era Borges o cego, ou cegos seremos nós?)

Quando o sol morreu no olhar
Ainda restaram as estrelas
Mas depois de o céu nublar
Já nunca mais pôde vê-las

No pátio imenso das casas
Envelheceram as meninas
O tempo que a tudo abrasa
Vestiu de luto as retinas

Quem tem a visão do mundo
Enxerga, ás vezes, sem ver
E passa a vida no fundo
Da escuridão do seu ser

Mas quem da dor fez o verso
E da tormenta fez calma
Descobriu outro universo
Na senda oculta da alma

Como fantasma entre vivos
Conhecedor de dois planos
O cego entre os seus livros
Riu dos limites humanos

Entre mortais, fez-se mago
Farol, nos mares da vida
Onde nós, pobres náufragos
Ainda estamos à deriva


Martim César

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tenho asas, mas não vôo. Minha alma está presa na gaiola do meu próprio corpo.

Quando estou longe de mim

Agora que a vida vem
Pintar geadas no meu cabelo
E que este céu de inverno
Já se esqueceu das estrelas
É que repenso a distância
Que me trouxe até aqui
É que estranhamente percebo
Que eu estou longe de mim

Quanto de mim se extraviou
Pelas curvas do caminho
Quantas flores perdi
Por medo dos seus espinhos
Quanto de mim silenciou
Do outro lado da porta
Quanta vida represada
Num rio de águas revoltas

Uma parte de mim quis ser mar
E saiu, qual navio à procura de um cais
Outra parte de mim quis voar
E foi chão...solidão... calmaria sem paz

Por sorte a vida renasce
No sol de cada manhã
E essa certeza é que embala
Os acordes desta canção
Senão seriam mais tristes
As noites que eu já vivi
E eu estaria, por certo
Bem mais distante de mim

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Minha vida é um quebra-cabeças, onde sempre está falatando alguma peça. Sempre que tento montá-lo a peça que falta já não é a mesma.

A cuatro manos

El peón avanzó a la quinta de Tertuliano
Pasos de tango en el centro de la cancha
Como un godo desafiando al rey romano
Cual molino frente al loco de La Mancha

Y en el tablero: tierra ajena y no tan ancha
Un negro alfil se le interpone mano a mano
Pero no teme a esa muerte que se ensancha
Y cuadro a cuadro gambeteando va el paisano

Se esquiva de una torre. Otra más. Y sigue el juego
El tiempo ya se agota... al instante todo es drama
Acercándose a la octava, arremete, pecho en fuego

Y grita: ¡Jaque¡ y ahí está por conquistar al fin la fama
¡Y pierde todo! Lleva un mate, un jaque mate el andariego
Y se va el gaucho sin caballo, sin honor y
sin la dama



Jorge Passos/Martim Cesar