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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Meus versos é como semente que nasce arriba do chão; Não tenho estudo nem arte, a minha rima faz parte das obras da criação. Patativa do Assaré




 No cantar de Patativa

 
Quando aluou-se Patativa do Assaré
Toda a caatinga num repente ficou triste
O sertão, seu moço, que alegre nunca é
Mas que na fé e na canção sempre arresiste

Todo poeta popular traz por destino
Desde menino, cantar as coisas do seu chão
É ave livre... a alma inteira na garganta
Que se levanta contra as vozes da opressão

Quando chove lá nas bandas do Agreste
A terra se veste com a beleza de uma flor
Mas a chuva de hoje, seu moço, me parece
Uma lágrima a correr no olhar de um cantador

Tua palavra, Patativa, é como o sol ou o luar
Alumiando na cantiga, não morrerá nunca mais não
O teu verso é a voz do povo, é a semente que arresiste
O teu canto não é triste, nem alegre... é o sertão!

O teu canto, Patativa, é como a vida deste chão
O teu canto, Patativa, é o sertão... é o sertão!


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Que dirá el santo padre allá en Roma? Violeta Parra



Tempos e templos

Ó mãe... 

Eu vi uma criança carregando outra
E juro não entendo tanta vida solta
É tanta religião e tá faltando Deus

Ó mãe...

Imaginei a vida um pouco diferente
A gente era, enfim, igual a toda gente
A fome uma palavra que o mundo esqueceu.

Ó mãe...

Me explica o que não cabe no meu pensamento
Pessoas mais pessoas rezando nos templos
Mas fora, na calçada, lavam suas mãos.

Ó mãe...

Eu sei que talvez seja só um desvario 
Mas já não me emocionam discursos vazios
Que mostrem em seus atos se são mesmo cristãos


Ó mãe...

Não venhma que é mais fácil seguir a corrente
Por algo o ser humano tem na sua mente
A força de escolher o destino a seguir.

Ó mãe...

Despertar não é o mesmo que estar desperto
Há tantos que não veem de olhos abertos
Que pode somar mais quem sabe dividir.

Ó mãe...
Eu vi uma criança carregando outra
E juro não entendo tanta vida solta
É tanta religião e tá faltando Deus





Martim César

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas.... Zé Ramalho



O homem dentro do espelho

O homem dentro do espelho
É tão parecido ao de fora
Nos traços graves de velho
Nas mesmas rugas de agora

Porém o velho de dentro
É só o inevitável destino
Esperando a roda do tempo
Mudar o olhar do menino

Antes era o avô que morava
Nessa imagem refletida
Depois partiu, criou asas
Sem volta e sem despedida

Um dia o pai, feito um quadro,
Dentro do espelho fez casa
Até, também, ser levado
No tempo que a tudo abrasa 
 
Ficou o menino, distante
De sonhos claros, repleto
No outro mundo de antes
No alegre rosto dos netos

Nunca pude compreendê-lo
Aceitá-lo é o meu destino
O velho dentro do espelho
Já se esqueceu do menino

Martim César

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A velha mão segue traçando versos para o esquecimento. Jorge Luis Borges




Além do olhar dos homens


Quando o sol morreu no olhar
Ainda restaram as estrelas
Mas depois de o céu nublar
Já nunca mais pôde vê-las

No pátio imenso das casas
Envelheceram as meninas
O tempo que a tudo abrasa
Vestiu de luto as retinas

Quem tem a visão do mundo
Enxerga, ás vezes, sem ver
E passa a vida no fundo
Da escuridão do seu ser

Mas quem da dor fez o verso
E da tormenta fez calma
Descobriu o outro universo
Que existe dentro da alma

Como fantasma entre vivos
Conhecedor de dois planos
O cego entre os seus livros
Riu dos limites humanos

Entre mortais, fez-se mago
Farol, nos mares da vida
Onde nós, pobres náufragos
Ainda estamos à deriva



Martim César

terça-feira, 23 de abril de 2013

Homenagem ao dia mundial do livro...



Revelia

Ao papel em branco, contraponho o meu desafio.
Mas não se fiem demais nas minhas palavras.
Ou melhor, fiem-se nelas, mas não em mim.
Não queiram atrelá-las ao que eu sinto.
Não digam que me entendem por que leram
Algo que eu, algum dia, escrevi.
Não levantem comparações entre o criador e a criatura.

Como se o filho tivesse que seguir os mesmos passos do pai.
Digo que isso não é verdade. Não necessariamente verdade.
Os filhos criam asas e depois descobrem o seu próprio céu.
As palavras também possuem asas. E voam. Para o lugar que bem entenderem.
Posso estar triste e as palavras saírem festejando, como saltimbancos, pelas ruas de um poema.
Posso estar alegre e elas, talvez por pirraça, colocarem uma lágrima no meu texto.
À minha inteira revelia. 
 
As palavras são rebeldes. Prisioneiras que estão dos cárceres da gramática, quando se libertam, saem por aí, feito doidas, levantando suas bandeiras.
As palavras têm vida própria, muito embora pareçam mortas nos dicionários.
Elas, por exemplo, podem dizer que tudo o que escrevi é uma mentira. Inclusive que é mentira o que eu acabo de escrever. E eu terei que aceitar.
Porque as palavras possuem asas.

Não me acreditam?
Sim, eu sei. Eu pedi que não se fiassem em mim.
Porém, ainda assim, repito: as palavras possuem asas.
Procurem nos dicionários. Qualquer um.
Por certo lá estará escrito em algum lugar: “asas”.
E não se admirem se, ao abri-los, os livros
Feito pássaros, naturalmente saírem voando.




Martim César

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Vuelvo al Sur, como se vuelve siempre al amor.... Fernado Solanas/Astor Piazzolla

 

La esquina Sur

En la esquina Sur de este continente
Ahí está mi gente, la voz de mi canción


Y si me pierdo algún día

Que sepan ya donde fui

Me encontrarán ¡eso es cierto!

Soñando... en la esquina Sur


Veo un Sabalero corriendo
Tras su pelota de media
Mientras Don Ata en el Cerro
Nos canta una chacarera

Desde un café tempranero
Oliendo a Montevideo
Hay un Benedetti que mira
Y no sabe que yo lo veo


En la esquina Sur de este continente
Ahí está mi gente, la voz de mi canción


Y si me pierdo algún día

Que sepan ya donde fui

Me encontrarán ¡eso es cierto!

Soñando... en la esquina Sur


Porque el Sur... también existe
Y Mercedes Sosa lo sabe
Pues Porto Alegre camina
En las calles de Buenos Aires

Y hoy Borges dice a Quintana
Y Galeano a Aldyr Schlee
Que esa Parodi cantando
Es Dios en un chamamé! 


 Martim César

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Se vem 'da', crase há... se vem 'de' crase pra quê?



A navalha do censor

Em princípio parecia ser somente um acento inofensivo 
Um mero traço no papel, meio inclinado e um tanto fino
Quiçá uma mesura ofertada a algum vocábulo feminino
Ou uma lágrima escorrendo sobre um amor substantivo

Porém era grave o tal acento, e bem mais grave seu motivo
(e esse ser ‘grave’ me dá medo desde os tempos de menino)
Se fosse agudo feito um dente, cortando a carne, incisivo
Não seria tão daninho, nem tão crucial ao meu destino
 
Porém um acento assim inverso, em uma avessa trajetória
Tal qual navalha de censor, que sem pudor, a tudo arrase
Chegou assim ceifando tudo e mudou o rumo desta história
 
Fazendo naufragar o meu poema - vejam só - que triste fase!
E era um poema que eu sonhei ver florescer, cheio de glória
Mas sucumbiu a ver navios (pobre de mim!)... maldita crase!

Martim César

quarta-feira, 17 de abril de 2013

La tierra sangra y reclama por las heridas, ella que es nuestra casa, que es nuestra vida... la tierra sangra y avisa que no hay más tiempo , es hoy que se cambia todo o nos lleva el viento



Sertão das águas


Arrepare n’água, seu moço
Parece ser tão igual
Mas o seu jeito de poço
Dá bem a cor do seu mal

Eu vô fiando essas rede
Tentando sobrevivê
Olhando o rio, que de sede
Já não faz mais que morrê

Meu pai contava, seu moço
Que em tempos do meu avô
Havia festa... alvoroço
Na volta dos pescadô

Agora as rede se some
Pelas fundeza do rio
E quando voltam os home
Só barco e olhos vazios

Não sei vivê doutro jeito
Sou pescadô de pequeno
De quando as água do leito
Não conheciam veneno

Vejo no olhar do meu filho
A mesma interrogação
Pra quê as rede que eu fio
Se a vida volta mais não?


Martim César

segunda-feira, 15 de abril de 2013

?Cómo no hablar de amor en una noche cómo esta?



Mirarme en tus ojos

Mirarme en tus ojos
Fue como dibujar islas en mares tan lejanos
Que aún no hacen parte
de los mapas de mi mundo...
Donde la civilización todavía no ha llegado
Y me esperas en la playa,
como una sirena,
Mientras las olas te alcanzan y te mojan
Y van y vienen besando tu piel.

Mirarme en tus ojos
Fue como sentir el aroma de esas flores
Que sin que nadie las siembre
Nacen en los campos en cada primavera
Y llenan la tierra de aromas y colores,
Sin necesitar nada más
Que el agua de la lluvia
para esparcir su belleza.

Mirarme en tus ojos, vida mía,
Fue como encontrar una estrella
En esas noches de llovizna y oscuridad...
Fue como si un rayo de luna llena
Cruzase las ventanas cerradas
De lo que era entonces
mi desierto corazón.

Ahora, dime... ¿Cómo puedo olvidarte?
Si cuando cierro mis ojos veo los tuyos
Y si ellos son para mí
dos islas de quimera y espejismo
Donde quizás yo jamás voy a llegar,
Porque hoy ya sé... tan sólo soy
más un náufrago de tu mar.


Martim César