www.martimcesar.com.br

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Si un día para mi mal viene a buscarme la parca. Empujad al mar mi barca con un levante otoñal y dejad que el temporal desguace sus alas blancas. Y a mí enterradme sin duelo entre la playa y el cielo... Joan Manoel Serrat




Sobre um tablado de barca... 
 

Minha vida é barca à deriva
Nos rios de cheias e enchentes
A alma sabendo o curso
Que o corpo apenas pressente
Um vai rumando ao final...
O outro... afinal, permanente!


Sou de um lado canto e vida
Aprendiz de sons e imagens
Buscando no giz da terra
Ser algo mais que a paisagem...
Sonhos vestidos de asas 
Mas passos presos à margem.


 O outro lado: quem sabe?
Princípio ou fim de uma saga?
Vontade que sabe seu norte
Ou se deixa levar pela vaga?
Uma luz que desvenda o rumo
Ou vela que em vão se apaga?


Visagem de espinhos e salsos, 
De mormaços, noites de frio... 
Por vezes terreno fértil 
                                 Em outras, deserto vazio 
                                 Mas sempre tocando em frente 
                                 Seguindo as voltas do rio


Duas margens... um destino...
Aonde o meu tempo embarca
Singrando o rio desta vida
Enquanto quiser a parca
De um lado ao outro, cruzando
Sobre um tablado de barca!!!


  Alex Cabral/Diego Muller/Martim César

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Hay os que cantam desditas de amores, por conveniência agradando senhores... mas os que vivem a cantar sem patrão, tocam nas cordas do seu coração. Cenair Maicá





No lado esquerdo do peito

De pouco vale o cantor
Se não entende o que canta
A voz só tem seu valor
Se nasce aquém da garganta

O canto que vem de dentro
Vai de uma alma a outra alma
Tem o sentido por centro
E o pagamento nas palmas

Todo cantar verdadeiro
Sempre terá o mesmo efeito
É como um tiro certeiro
No lado esquerdo do peito

Se falta ao cantor verdade
Não tem raiz essa planta
Quem canta só por que sabe
Não sabe aquilo que canta

Aos que cantam apenas
Botando a boca no mundo
Mais vale uma voz pequena
Se o seu cantar é profundo

Se o cantor não tem apreço
Pela mensagem semeada
Seu cantar terá um preço
Mas seu valor será nada

Martim César

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sou eu, paisano... este rio sou eu! Em sombra e luz, em morte e vida... destino de correr que Deus me deu; alma de quem está sempre de partida



Um certo jeito de rio

Tem vez que a vida nos leva
De roldão por seus mistérios
Aparta a gente do curso
Nos enche a alma de inverno

São tardezitas nubladas
Em que a solidão pede vaza
Nos pega soprando as cinzas
Que um dia já foram brasas

Há um certo jeito de rio
Que sempre trago comigo
E mesmo ainda tão moço
Herdei, talvez, dos antigos

São os mistérios do mundo
Que me fizeram cantor
Dos versos que vem do fundo
Do rio profundo em que vou

Pois não me explico, por certo
No dom que em vida me cabe
Porque o meu peito deserto
Em mil poemas se abre

Talvez somente a intuição
É que vem contar de onde eu vim
Que sou tão só continuação
Nos versos que trago em mim

Há um certo jeito de rio
Que irá comigo ao partir
Mas ficará nas canções
Que alguém um dia há de ouvir!

Martim César




sábado, 27 de agosto de 2011

A melhor parte de mim não quis vir quando eu vim... e ainda me espera, eu sei, na estação do lugar.

 Ver imagem em tamanho grande

 

 

Paisagem Interior: Uma obra-prima, nativa, pura e linda barbaridade!

Comparações sobre uma obra-prima e outra não são necessárias quando se encontra em um cd de festival nativista uma música que revela o sentimento puro de um compositor e a genialidade de um dos maiores cantores que o Rio Grande conhece e há de conviver com ele por muito tempo.
Quando ouvi pela primeira vez a música Paisagem Interior do compositor Martim César Gonçalves, melodia de Paulo Timm na voz inconfundível e belíssima de Marco Aurélio Vasconcellos, o sentimento foi de satisfação plena. Aquela sensação de que nem tudo está perdido, de que a verdadeira arte gaúcha, nativa, vive, se renova e se torna cada vez mais atual e impede, mesmo sem ter essa pretensão, que o mau gosto reine absoluto sobre nossos festivais e principalmente por algumas rádios cujo o único objetivo é comercial.

“Eu tenho em meu gesto o jeito sincero dos meus
A lida, a capina, o abraço apertado do adeus
No olhar a lembrança de um piá pelas tardes
Laranjeiras, saudade… feito um rio que passou”

A estrofe acima remete ao passado e traz um gosto à garganta de fruta madura, de um olhar de avô zeloso, de uma mão amiga do pai, enfim, remete ao melhor da infância, da adolescência e tudo aquilo que nos trouxe até aqui. Feliz daquele que tem essas lembranças.
O grande compositor é aquele que com simplicidade consegue nos emocionar e o grande cantor é aquele que além de nos emocionar faz com que lágrimas até então retidas, saiam em disparada e escorram pelo rosto. O compositor emociona, o cantor maximiza a emoção e os dois juntos tornam a música um momento único, imortal.
A obra Paisagem Interior tem a capacidade de nos prender a ela desde os primeiros acordes. Parece estarmos enredados e que dessa teia não conseguiremos mais sair. A razão é simples, toca o coração, acessa os arquivos mais profundos da memória e transforma emoção em alegria. Tem a capacidade de emocionar até aqueles onde o coração, já calejado pelo tempo, perdeu um pouco o compasso e hoje se vê recluso no dia a dia sem perceber toda a arte que vive e pulsa forte no Rio Grande.
Muito poderia dizer sobre essa obra, mas o que vem a cabeça é simplesmente agradecer pelos momentos que passei hoje ao ouvir Paisagem Interior. E, se os amigos me permitem, sugiro que ao amanhecer, logo depois de cevarem o mate, escutem quietos e serenos e se permitam que o Sr. Martim César, o Sr. Paulo Timm e o Sr. Marco Aurélio tornem o dia de cada um de vocês melhor.
Parabéns aos autores e muito obrigado.

Glaucio Lemos Vieira
Rádio Alma Nativa ( www.radioalmanativa.com.br)
Lagoa Vermelha – RS.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Texto sobre o CD 'Já se vieram!'



Acesse:

http://wenceslaugoncalves.blogspot.com/2011/07/ele-se-chama-martim-cesar-senhores.html

sexta-feira, 29 de julho de 2011

"ELE SE CHAMA MARTIM CÉSAR, SENHORES"

 Escrevo para os que não estavam presentes no lançamento do CD "Já se vieram", com as letras de autoria do jaguarense Martim César Gonçalves,  que ocorreu no dia 27 de julho, no Teatro Bruno Kiefer, em Porto Alegre. Os que estiveram pessoalmente naquela noite, por certo, vão concordar que o momento foi de grande emoção.

 Não cabe dúvida que a interpretação esmerada do intérprete das "poesias do Martim" - Marco Aurélio Vasconcelos -, assim como o acompanhamento musical coordenado por Marcelo Caminha, ficaram no mesmo nível do talento do letrista. Quero, no entanto, é chamar a atenção para as mensagens que transparecem nas letras apresentadas. Ouvir aquelas composições, para quem conhece a realidade campesina, é reviver, sem retoques românticos, um pouco da rotina quotidiana da vida na campanha. A história desse personagem, sem ser  um "mar de rosas", não é apenas de privações. Martim César consegue transferir para a literatura, com especial inspiração,  essa composição cultural própria do gáucho. Durante a apresentação, a platéia acompanha o cantor no sentimento que a canção expressa e não regateia aplausos, manifestando sua aprovação.

 A chamada para esta matéria está relacionada com uma das mais significativas composições do CD. A milonga-candombe "Torquato Flores, senhores", que mais agradou à assistência e, por sua solicitação, foi a que atendeu ao tradicional bis, consagrada pela preferência dos presentes. Vejam uma provinha da letra: "Meu nome é Torquato Flores/Guitarra buena e bom pingo/Fui feito para os amores/E pras pencas de domingo"...""Meu nome é Torquato Flores/Não tenho marca ou sinal/Pois não aceito senhores/Tampouco rédea ou buçal/...

 Quando, após o espetáculo, fui cumprimentar o autor, com meu abraço, só pude dizer-lhe que ele havia se superado. Não conheço tudo que ele já produziu até hoje, mas do que conheço, palpito que esse é um de seus melhores trabalhos. Quem sabe, ainda um dia tenha que desdizer o que estou afirmando agora?

 Cumprimentos ao Martim, ao Marco Aurélio e a sua equipe. Sucesso a todos! Jaguarão também está de parabéns!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mas é claro que o sol vai voltar amanhã... Renato Russo





Cão de estimação

Estou triste!
De uma tristeza muito estranha,
Pois eu não sei bem o que fazer com ela.
Não cabe em nenhum lugar...
Nem mesmo neste poema.

Escrever, eu já percebi que não serve,
Pois já tentei
E quando rabisquei a última palavra
A tristeza – fiel! - seguia ali
Como um desses cães de estimação
Só esperando que eu atentasse nele.

Chamar-te e dividir contigo essa tristeza
De nada adiantaria
Posto que uma tristeza infinita
Quando dividida
Certamente seguirá infinita.
(Ao menos a matemática garante isso).

Então sigo triste. Muito triste.
De uma tristeza estranha.
Muito estranha.

Tento fazer mil coisas para espantá-la.
Mas ela não se importa.
Parece que seguirá por aqui... por muito tempo
Mesmo depois de eu ralhar com ela...
Vai pra casa!!! Caminha!!! Já pra fora!!!

Que nada!... fazer o quê?
Ela seguirá por aqui,
Pois quando eu me acalmo um pouco
E, disfarçando, observo-a de relance
(meio assim como quem não quer nada)
Ela já me abana a cauda
E vem – e como é teimosa...! -
Outra vez estar comigo...
feito um cão de estimação!

Martim César

terça-feira, 23 de agosto de 2011

As mãos da tecelã forjam o tempo, a roca das manhãs em movimento na reta dessas lãs, rumos no vento... província de São Pedro - o continente!





Uma espada na parede

Uma espada dorme há muito na parede
Vida latente que se esconde no aço frio
E que por vezes se desperta tendo sede
E sonha o sangue escorrendo por seu fio.

Quem luta agora? Qual é o novo desafio?
Perguntas vãs! Afinal, pouco lhe importa
Se o que vale é o que brota, feito um rio,
No claro gume que à carne fere e corta.

É noite alta. A casa sonha e – adormecida -
Não vê o vulto de alguém que, suavemente,
Agarra a espada e outra vez lhe traz à vida.

A casa sonha, e quando acorda de repente
Estranha algo e, enfim, descobre estarrecida
Que está em guerra... tal e qual antigamente.


Martim César

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos . Pitágoras





O xadrez de Bergman
(Sétimo selo)

A foice e a ampulheta... (da morte
que espreita atrás de cada esquina)
São punhais ceifando a vida. Um corte
E o caminho - breve ato! - se termina

Se um cavaleiro, rei, peão?... O porte
Pouco importa! Pois de todos é a sina
Bergman frente a Deus, a finda sorte
Será humana ou, afinal, será divina?

Dois contendores e, entre ambos, o xadez
A morte joga: tem o tempo em sua mão
Depois o homem. Chegou, enfim, a sua vez!

Movendo a peça, dissimula a emoção...
O que virá agora que a sua chama se desfez?
Existe um Deus? Ou tudo... tudo... foi em vão?

Martim César

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Temos guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez...





Quando a palavra se ausenta


Tem vez que a palavra pesa
Bate asas... mas não voa!
Perde a hora de ser dita
E já o tempo dela se escoa

Sempre quem cala consente
Com a injustiça dos homens
É um prato vazio frente aos olhos
De tanta boca com fome

Quando a palavra se ausenta
Mesmo sabendo a verdade
Há um inocente esquecido
Do lado errado das grades

Quando a palavra se ausenta
Na voz que quer, mas não diz
Um grande amor não floresce
Pois nem passou da raiz!

Os pais, com suas urgências
Pouco sabem dos seus filhos
Procuram razões, porém tarde
Pra tantos fora dos trilhos

Porque a palavra não dita
No seu instante preciso
Tempos depois se faz tarde
Pois já não tem mais sentido!

Martim César


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O maravilhoso da fantasia é a nossa capacidade de torná-la realidade.


 Viva o cinema e a sua fantasia, que é a nossa. Reforço o convite da confraria para que assistam esse maravilhoso filme.



                   Branca! Branca! Branca!

Qual se fosse Brancaleone, e a sua fabulosa armada
Rumo à terra prometida, lança em riste, sempre avante
A caminho de Aurocastro – a sua cidade tão sonhada -
Se assim permite Deus e não se empaca o Aquilante

Por princesa uma donzela, pura e casta e intocada
Bem, digamos, quase pura... e intocada... quem garante?
Vai adiante o nosso herói, que se engajou numa cruzada
Disparando de uma peste; mas isso, claro, é irrelevante

Volta em busca do seu feudo - o seu destino derradeiro -
Mas há sempre um desafiante que insiste em derrotá-lo
Desta feita é um bizantino: falso, esnobe e encrenqueiro!

E Branca! Branca! - a mente branca, feito sino sem badalo
Avança para entrar na história como o eterno cavaleiro
Que jamais venceu algum embate, mas por culpa
                                                                     do cavalo!

Martim César

terça-feira, 16 de agosto de 2011




Um país além dos mapas

Um país além dos mapas
Em meio a terras sem fim
Que nasce no Amazonas
E morre dentro de mim

Nos fundões de um continente
Caipira e interiorano
No longe dessas urgências
Dos formigueiros urbanos

Sangue tupi-guarani
Raça mestiça e ameríndia
Seiva negra dos quilombos
Pantanal, pampa, caatinga...

Boi-bumbá, meu boi barroso
Só é minha essa boiada
Tanta terra para poucos
Para muitos só a estrada

Meu Rio grande é sul a norte
Minha sorte tenho não
Mas antes da minha morte
Quero plantar no meu chão

Um país que poucos veem
Mas que lutando resiste
Com mil sotaques distintos
E mesmo pobre não é triste

Um país além dos mapas
Que amanhece pouco a pouco
Para antes tarde que nunca
Ser essa pátria de todos

Martim César

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Porque la patria de uno es la infancia y el recuerdo... Pepe Guerra


 


Pedra de fogo, riso moleque

Vó na varanda da casa antiga
Contava histórias que ouviu contar
Sempre a certeza que o herói viria
Salvar a moça , bem no final

Luar lá fora, grilos cantando
Vida passando sem avisar
Sol na janela, quem poderia
Dizer que um dia ia terminar?

Pedra de fogo, riso moleque
Lembrança viva neste meu cantar
Sonho moleque de infância pobre
Riqueza é o riso que se pode dar

Lá no remanso lavei meu rosto
Bebi da fonte melhor que há
Cheiro de terra, se é sol e chuva
Casa viúva em algum lugar

Roda do tempo, gira em silêncio
Leva por diante tudo ao passar
Da casa antiga já nada existe
Só ainda resiste no meu olhar


Martim César

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Un barco frágil de papel parece a veces la amistad pero jamás puede con él la más violenta tempestad porque ese barco de papel tiene aferrado a su timón por capitán y timonel un corazón, un corazón, mi corazón. Alberto Cortez






Poema sobre a saudade

Frágil teia que se rompe sem se ver
Sem que ninguém saiba a hora e o lugar
De repente chega o anoitecer
E a manhã de sol que já não mais virá

Restam fotos de saudade nas paredes
E na rede só o vento a se embalar
Restam ruas sem o ressoar dos passos
E os abraços que não pode mais se dar

Uma voz que se erguia em rebeldia
Se rendeu às armadilhas do silêncio
Um sorriso em que cabia toda a paz
Não é mais do que lembrança de momento
Um olhar que incendiava o sol
É farol que se apagou em nosso tempo

Que fronteira que se cruza num segundo
E nos deixa sempre o mundo mais vazio
Que universo que o verso não alcança
Que distância que só vence quem partiu!

Há um rastro dessa ausência nas canções
E mil razões que não têm como explicar
Há um nome que a saudade sempre lembra
E um poema que ainda espera o seu final!


Martim César Gonçalves

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pois somos um... e sendo um... somos o mundo!


 

Nessa noite, além da curva...

O que nos espera, amada minha, além da curva
Nessa noite de tormenta que é a vida?
Vem!Aperta forte a minha mão, esta canção
É um caminho sem chegada e sem partida.

Amada minha, eu não sei nada deste mundo
Ando no escuro desde o dia em que eu cresci
Escrevo frases pra vencer o meu silêncio
E depois penso que não sei porque escrevi.

Difícil que entendas este ser que não se entende
Mas não te peço nada mais que o teu calor
Eu sou tão frágil como um sonho sem final
Como uma gota de sereno frente ao sol

E quando, às vezes, eu pareço ser mais forte
É porque busco enfrentar todos meus medos
Há muito tempo que aprendi que o universo
É bem maior que esse pouco que eu compreendo

O que se esconde, amada minha, atrás da porta
Dessa casa em escombros que é a vida?
Vem!Põe o teu braço no meu braço, esta canção
Busca aplacar esses fantasmas que me habitam.

Amada minha, eu só conheço este momento
Todo o meu tempo cabe inteiro num segundo
Mas não preciso nada mais que o teu sorriso
Pois somos um - e sendo um - somos o mundo!


Martim César


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Não me digas nada, só me encosta no teu peito e me beija como quem não vai voltar... e eu te busco aqui dentro do copo como um louco vagabundo... só eu sei como te amar. Basílio Conceição




Overdose

Suas asas se abriram no espaço
Em um vôo louco... impossível!
Bebeu fantasias
Fumou ilusões
Rumo a alturas cada vez maiores...

Suas asas se abriram no espaço
E de repente já não eram asas
E, sim, braços feitos para amar
Não para voar...
Inúteis ante à força da gravidade!

Seus braços se abriram no espaço
E - por um instante - o céu foi seu...
Depois a terra...
                             para sempre!



Martim César

(para o amigo Cléber Carvalho)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Música vencedora do Festival de Sapucaia do Sul

Olhando a curva da estrada

Quando saiu nesse dia
Prometeu que voltaria
Sem saber como nem quando
Ainda era um menino
E ia atrás desse destino
Que estava lhe esperando

Deixava atrás, na distância
A casa pobre da infância
Onde moravam os seus
Do pai levava os conselhos
Da mãe, os olhos vermelhos
De uma lágrima de adeus

Quando saiu nesse dia
Decerto que não sabia
Que o tempo passa ligeiro...
Quando se tem vinte anos
A vida é feito o oceano
Aos olhos do aventureiro

O mundo, então, se fez cargo
Lhe mostrando o lado amargo
Que a ilusão não mostrou
E os anos foram passando...
Sem saber como nem quando
Seu sonho se transformou

E hoje... aquele menino
Que foi buscar seu destino
Na distância, envelheceu
E olhando a curva da estrada
Brota em suas vistas cansadas
Uma lágrima de adeus


(Poema: Martim César -
Melodia: Alessandro Gonçalves -
Intérprete: Robledo Martins)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem um perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso. Darcy Ribeiro



Olhos de índio




Sobre um rio de asfalto onde os carros navegam

Dois mundos se enxergam, frente a frente existindo

Nos olhos do branco brilham luzes que cegam

Nos olhos do índio só o passado perdido



Quem avista da estrada seu tristonho presente

Seu viver inclemente de abandono e amargura

Despreza o seu jeito por ser tão diferente

E nem ao menos pressente sua antiga cultura



Personagens estranhos desse novo cenário

Onde regras e horários encarceram os homens

Onde crescem cidades de milhões solitários

De prateleiras repletas e de tantos com fome



São olhares distantes nas margens da estrada

Histórias veladas que o tempo desfez

Nas cestas de vime a herança deixada

A planta arrancada não germina outra vez!



Martim César

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves...




Um grande amigo: nesta foto está me apresentando na Manoca Poética de Santa Cruz.

Muitos foram os motivos que nos levaram a construir um projeto chamado Manoca do Canto Gaúcho e talvez o maior deles tenha sido o de fazer amigos e de aproximar pessoas. Com isso, proporcionamos que muitos caminhos se cruzassem, possibilitando que grandes amizades se formassem e se fortalecessem. Proporcionamos também a possibilidades de convivermos com amigos de muito valor, onde aprendemos a respeitar seus conceitos, seus sonhos e seus ideais.








Alguns não entendem o porquê se luta por uma causa, certamente por não conhecer os motivos que nos fazem lutar por elas ou por não terem causa nenhuma que os mova. E diante disso, não se pode julgar se este ou aquele está certo ou errado. Se é pela política, pela cultura, pelo esporte ou por qualquer diferença de opiniões. Cada um de nós tem o seu jeito de buscar conquistar seus objetivos, desde que seja de forma justa, lícita e sem pisar em ninguém.





Um dos grandes amigos lutadores por estas causas chama-se IRAN PAS. Desde que o conheci sempre foi um grande batalhador de causas nobres. Se era radical, de esquerda, polêmico, isso não importa, porque o que realmente importa eram os motivos que o levavam a lutar, a brigar e a querer mudar conceitos. Conceitos estes que primavam pela coletividade, pela igualdade e pela justiça.





O que será que levou este “revolucionário do bem” a tomar a decisão crucial que tomou? Nenhum de nós sabe ou pode julgar isso. O que fica é a certeza da contribuição dele em nossas vidas e neste caso em especial a Manoca do Canto Gaúcho. Festival este que amava, respeitava e que lutava pela sua continuidade.





Muitos foram os amigos e os momentos inesquecíveis, onde juntos pudemos aprender com este “Camarada”: Bastidores da Manoca, triagens, transmissões pela rádio, Programa Charla de Domingo, encontros na Confraria Nativista, churrascadas, reuniões, e tantos momentos impressos em nossa memória.

É desta forma que queremos lembrar e homenagear este amigo, porque é assim que ele merece ser reverenciado.





Sempre agradeci a ele a cada etapa que vencemos, pois, nos amadrinhava do seu jeito, mas com muito gosto. Agora, agradeço a Deus por ter nos dado o privilégio de termos tido ele entre nós. Também agradeço a seus familiares pela forma que sempre fomos recebidos em seu rancho e na suas vias.





Abraço irmão, que Deus te ilumine!





Rovani Morales, ASCUPR e demais amigos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A vida é uma peça de teatro, que não permite ensaios. Por isso, cante, dance,ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.




Enquanto a chama existir




Já vês, milonga, que a tarde

Deixou na ponta dos cerros

Um sol de inverno que arde

Mas não é mais que recuerdo



Deixou de ser meu esse tempo

Em que a alma abria suas asas

E voava nos galopes do vento

Bem além do horizonte das casas...



Mas enquanto a chama existir

E um brilho insistir no olhar

Vou fazer de uma gota o meu rio

E do rio vou fazer o meu mar



Mas enquanto viver de ilusão

- A harmonia do meu universo -

A morte buscará... mas em vão!

Pois saí à procura de um verso...



Sabes, milonga, que a vida

Sempre chega impondo o cansaço

E que a cada etapa vencida

Vai cobrando de nós um pedaço



Nalguns velhos retratos já gastos

Recordamos os sonhos de antes

Porém já não passam de rastros

De uma era já muito distante...




Mas enquanto a chama existir

E um brilho insistir no olhar

Vou fazer de uma gota o meu rio

E do rio vou fazer o meu mar



Mas enquanto viver de ilusão

- A harmonia do meu universo -

A morte buscará... mas em vão!

Pois saí à procura de um verso...






Martim César