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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Amar é um deserto e seus temores... você deságua em mim e eu oceano'. Djavan

Feito chuva no deserto

Guardo na moldura das retinas
Essa imagem que me ensina
Que é possível ser feliz
Teus passos desbravando as fronteiras
Desfazendo as trincheiras
Que inventei pra o meu país

Eu vinha de andar léguas a fio
Nesses caminhos vazios
Sem a paz de algum remanso
Quando achei teu rumo certo
Feito sombra em campo aberto
Pra embalar o meu descanso

Mas depois que deste voz ao meu silêncio
Que me mostraste o mundo imenso
Onde eu era solidão
Um dia inventaste a despedida
Me deixando em tua partida
Para sempre na estação

Ah!Hoje sei que é em vão toda essa espera
Que já passou a primavera
E o nosso inverno já chegou
Mas também sei que é melhor minha ilusão
Do que não ter no coração
A lembrança de um amor

Eu vinha de andar sem mais destino
Que esse doido desatino
De viver só por viver
Quando descobri teu rumo certo...
Foste chuva no deserto
Que faz tudo florescer

Martim César

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A solidão de um amor é uma prisão pelo avesso...estamos fora, libertos!... sonhando em estarmos presos.



Duas metades

Não sei o que tem tua pele
Que quando toca meus dedos
Faz com que todo segredo
Que existe em mim se revele

Não sei o que tem teu beijo
Que arde mais do que o fogo
Magia estranha de um jogo
Que eu cada vez mais desejo

Não sei, menina, eu não sei
O que acontece comigo...
Meu coração de mendigo
Contigo se torna um rei

Não sei, menina, e talvez
Nem mesmo, vida, tu sabes
Que somos duas metades
Buscando unir-se outra vez

Não sei o que tem teu riso
Que sempre provoca o meu
Qual barco que se perdeu
Voltando ao rumo preciso

Não sei o que tem teu jeito
Que me atrai tanto assim
Que ao te ver bate em mim
Como um tambor no meu peito

Martim César

A solidão de um amor é uma prisão pelo avesso...estamos fiora, libertos!... sonhando em estarmos presos.



Duas metades

Não sei o que tem tua pele
Que quando toca meus dedos
Faz com que todo segredo
Que existe em mim se revele

Não sei o que tem teu beijo
Que arde mais do que o fogo
Magia estranha de um jogo
Que eu cada vez mais desejo

Não sei, menina, eu não sei
O que acontece comigo...
Meu coração de mendigo
Contigo se torna um rei

Não sei, menina, e talvez
Nem mesmo, vida, tu sabes
Que somos duas metades
Buscando unir-se outra vez

Não sei o que tem teu riso
Que sempre provoca o meu
Qual barco que se perdeu
Voltando ao rumo preciso

Não sei o que tem teu jeito
Que me atrai tanto assim
Que ao te ver bate em mim
Como um tambor no meu peito

Martim César

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

El tiempo es la sucesión. El tiempo... es la dádiva de la eternidad. Jorge Luís Borges (Willian Blake)


(Cielito cantado ante el balcón de Doña Serena Fontanarrosa en el segundo cerco de Montevideo, en la primavera de 1843)

Cielito del enamorado

Dicen que el diablo es valiente
Porque no teme al dolor
Valiente soy yo que sufro
Porque no tengo tu amor

Allá va cielito, mi cielo
Cielito de mi querer
Puedo vencer a diez hombres
Pero no a una mujer

Me dices que no me quieres
Pues no tengo rancho fijo
Pero mi hogar es el mundo
Y tu mirar, mi cobijo

Cielo, cielito y más cielo
Cielito de mi destino
Mi noche oscura es tu pelo
Mi claridad, tu camino

Quería que me quisieras
Pero no quieres quererme
Tus bellos ojos, matrera
A todos miran sin verme

Cielito, cielo, mi cielo
Que vida más despareja
Si tú te alejas, me acerco
Si yo me acerco, te alejas

Martim Cesar (Cuando de la Guerra Grande)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar. Atahualpa Yupanqui





Disse o poeta ao cantor

Disse o poeta ao cantor
Passe algum dia por casa
Dê um descanso pras asas
De Serafim voador
Visite este sonhador
Que sempre lhe teve apreço
Há coisas que só têm preço
E outras que têm valor


Neste mundo de excluídos
Cantores são aves raras
Que trazem auroras claras
Pra tantos céus poluídos
E quando às vezes perdidos
Buscando um fim no universo
Encontram no próprio verso
Sua direção e sentido


Há tanta alma carente
Por esse mundo de Deus
Crença na voz dos ateus
Descrença na voz dos crentes
Saudade de quem pressente
O que não pode entender
Que só se pode perder
O que jamais foi da gente


O cantor tem por destino
Ser a palavra do povo
Trazer o antigo pro novo
Trazer pro velho, o menino
Para o normal, desatino
Para o doido, coerência
E para todos, consciência
De um tempo mais cristalino


Há tanta ilusão perdida
No triste viver dos homens
Quem busca vencer a fome
Não tem mais outra saída
É água de rio contida
Na opressão da represa
Onde a maior correnteza
Se torna um poço sem vida !


Martim César

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Faziam planos e nem sabiam que eram felizes... olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho! S. Napp/M.Barbará





Do lado errado, compadre!

Foi numa cancha de tava
Em um domingo, por certo
O diabo andava por perto
Ou Deus é que longe andava


Como compondo o cenário
Em meio a tabaco e trago
Toparam dois índios vagos
Feito ginetes num páreo

‘Está copada a parada’!
Se ouve a voz do coimeiro:
E um tiro de carreteiro
Trançou o ar na largada


O outro ruge imponente:
‘Comigo é suerte clavada’
Mas foi balaca e mais nada
Pôs ‘güeso’ tão só o vivente

E já se enfeiou a contenda
Rumo a apostas mais altas
‘Tem vez que a guaiaca falta
E hay sempre quem se arrependa’


Um deles jogou o que tinha
Os avios, os ‘cobre’ , o cavalo...
E ficou chuleando o estalo
Pra ver o rumo da rinha

‘É macho, alumiou pra baixo!’
Cantou faceiro... o sortudo...
E zombou já levando tudo:
‘Não é só butiá que dá em cacho!’


Não se agradou o azarado
E quis vingar-se, o matreiro!
Mas o outro foi mais ligeiro...
E dever de jogo... é sagrado!

O resto, enfim, já se sabe
Pra um o osso deu suerte
Pro outro...? Gritou-lhe a muerte:
‘Do lado errado, compadre!’

Martim César

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

E o meu coração feito um potro, pelas carreiras do mundo...




Já se vieram!

Carreira de mucha plata
Parelheiros na largada
Um grito! Rumor de patas
E a sorte já está lançada

Dezoito em terra lavrada
Vem o ruano de luz
Já corre nessa arrancada
Tal qual o diabo da cruz

Mas um zaino malacara
Sem respeitar favorito
Parece correr por farra
Só pelo gosto dos gritos

Mal comparando são setas
Voando num descampado
Dois raios na cancha reta
Correndo em fios de alambrado

Já na chegada o ruano
Leva de frente o focinho
Mas o zaino atropelando
Não quer deixá-lo sozinho

Ninguém sabe o resultado
Não sabe o próprio juiz
O ruano?O zaino?Empatados?
Só Deus sabe... mas não diz!


Martim César

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Y cuando llegue el día del último viaje... me encontraréis a bordo ligero de equipaje,casi desnudo, como los hijos de la mar. Antonio Machado





Vinte léguas

Vinte léguas tem meu canto
Vinte léguas de saudade
Dezenove te sonhando
Uma vendo a tua imagem

De onde moro até a tua casa
São dez dias de caminho
Mas te juro... eu crio asas
Se é pra ter os teus carinhos

Vinte léguas tem meu canto
Vinte léguas de saudade
Dez mais dez, estou pensando
Pra juntar duas metades

Quando a flor da pitangueira
Madurar cá onde eu vivo
Saberá a várzea inteira
Que virás morar comigo

Vinte léguas vou cruzando
Só pra ver o teu sorriso
Mas por ti, morena, eu ando
Mais vinte se for preciso

Quando o arroio sai do leito
Nas ribanceiras crescido
Ainda assim arranjo um jeito
Meu amor, de estar contigo

Martim César

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Viva los locos que inventaron el amor. Astor Piazolla




Visagens

Galeões imaginários
Vão cruzando pelos ares
Assombrando a noite imensa
Cometas em revoada
Dão luzes à madrugada
De uma era em decadência

Um mendigo abre as asas
Bailando ao som de uma valsa
Que ninguém mais pode ouvir
Rende mesura a uma dama
Que num outdoor se derrama
Anunciando um souvenir

Um tigre corta a cidade
Tendo nos olhos a imagem
De entardeceres glaciais
E uma estátua de vidro
Devora as folhas de um livro
De mil milênios atrás

Mais um relógio de areia
Dentro do mar se incendeia
Lançando ondas ao céu
Enquanto ao sol de uma praça
Um saltimbanco faz graça
E depois recolhe o chapéu

Espelho vivo de um quadro
Que dia-a-dia é pintado
Mostrando de tudo um pouco
Tão só visagens normais
Brotando desde os vitrais
Dos olhos claros de um louco

Martim César

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A vasta noite não é agora outra coisa se não fragrância. Jorge Luís Borges






Noche de novecientos


Cuando dentró al almacén
Sin preguntar nada a nadie
La concurrencia antevió
La razón de aquel donaire

Un sombrero de ala ancha
Chambergo de muchas lunas
Un pucho preso a los labios
Mirada fiera y oscura


Había pasado mil veces
Y muchas más pasaría
Palermo del novecientos
De tantas noches sin día


Alguien se asoma a la puerta
Y pronto pasa de largo
Que a veces pierde el pellejo
El catriel por descuidado


El otro jugaba el truco
En una mano sin suerte
Cuando alcanzó a comprender
Que estaba frente a la muerte


Van y vienen dos puñales
Luciendo pasos de tango
Pero esta noche uno sólo
Habrá de seguir bailando


Y baila y baila la muerte
Como rindiendo homenaje
Brindando copas de sangre
Al ritual del coraje


Por fin la vida, en silencio
Se limpia el filo en su brazo
Y Palermo del novecientos
Se aleja solo y despacio


Martim César

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Não importa o quanto passe o tempo, as verdadeiras vitórias ficam em nós... para sempre.







Tudo o que te ofereço

Eu te ofereço todo um universo
que deixei em versos no chão das estradas...
e alguma saudade que levo comigo
e que em poemas digo pelas madrugadas...

Eu te ofereço um sol que eu procuro,
mais além do escuro das noites vazias...
um galope a dois sob a luz da lua,
e uma lembrança tua em todos meus dias...

Eu te ofereço pouco mais que nada...
o que aprendi na estrada que me trouxe aqui ,
um destino incerto... mas sempre ao teu lado!
Um coração marcado pra viver por ti

Eu te ofereço uma canção pra sempre ,
que seja a vertente de um sonhar sem fim
e uns poemas tortos que componho às vezes
pra nunca esqueceres de lembrar de mim...

Eu te ofereço o que pintei num sonho,
com lábios risonhos que eram tão meus...
uma palavra amiga que sirva de alento
pra não mais o tempo se vestir de adeus...

Eu te ofereço o que não se vende
o que não tem preço pois me vale a vida...
minha alma inteira em cada segundo
até que um dia o mundo me cobre a partida...!

Martim César/Diego Müller

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Por una mirada, un mundo; por una sonrisa, un cielo; por un beso... ¡Yo no sé que te diera por un beso! Gustavo Adolfo Bécquer - poeta español





En el silencio de una lágrima

A veces el amor llega muy tarde
A veces ni parece ser amor
Y uno solo entiende cuando parte
Que parte de su vida se acabó

¿Y cómo olvidarse de esa flor
Que vive en el recuerdo de los días?
Si antes era tuya como el sol
Y ahora es nada más que lejanía

Seguimos caminando por la vida
Con una sombra anocheciendo la mirada
Un recuerdo que siempre calla las sonrisas
Dejándonos en el silencio de una lágrima

A veces el amor llega muy tarde
A veces ni parece ser amor
Y uno solo entiende cuando parte
Que parte de su vida se acabó

¿Y cómo refugiarse de la lluvia
Que insiste en tus ojos en caer
En noches que han llegado sin la luna
En días sin el sol de nuestro ayer

Martim César

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

São necessários dois anos para aprender a falar ... e sessenta para aprender a calar. E. Hemingway




Los dos ríos

Los dos ríos que habitaban en tus ojos
Corrían como si fueran el Paraná
Mojándome en sus aguas claras
Reflejaban, al mirarme así,
Dos lunas llenas sobre mi oscuridad

La vida aún niña jugaba en las callecitas de mi pueblo
Chicharras cantaban en las tardes de los veranos correntinos
Pero un día llegaron tus ojos desde tierras muy lejanas
Y para siempre cambiaron de mi alma su destino

Hoy que lejos ya estás... que ni te acuerdas de mí
Te recuerdo y quizás ni sabrás, amor mío,
Que en esta canción tu mirada siempre vuelve
Y en mi voz se eterniza en la luz de dos ríos

Y en esos dos ríos,
En tu pecho y en el mío vi nacer una flor
Y yo que andaba sin buscar otra luz que el sol
Comprendí que en tus ojos yo había
Por fin encontrado el amor!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quando ele vier, porque é certo que vem, como vou chegar ao balcão sem juventude? Amélia Prado




Sob a luz da tua janela

Ontem sonhei que sob a luz da tua janela
Eu te ofertava a mais dolente serenata
Nenhuma estrela - nem a lua - era mais bela
Que o teu sorriso...céu luzindo em cor de prata

Flor renascida nas manhãs de algum setembro
Por entre os cardos de um caminho, então deserto
Como esquecer-te, se, afinal, sempre me lembro
Que estás distante, mas em mim estás tão perto?...

Bem sei que o amor é uma flor que tem espinhos
E os teus carinhos já não podem mais ser meus
Que após meu sonho voltarei a estar sozinho
Bebendo o vinho que ficou do teu adeus

Ontem sonhei que tu eras minha , novamente
E que sonhavas que eu sonhava estar contigo...
Teus olhos claros me buscavam, ternamente
Meus braços quentes te serviam como abrigo

Que sabe a vida para querer-nos separados
Se somos um - em duas almas, repartidos - ?
Se em cada passo eu estarei sempre ao teu lado
E em cada sonho tu estarás sempre comigo???

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A chuva põe-me grades na janela, um vôo de andorinha restitui-me o espaço. R. Martins




O espelho das sangas

Um sol maragato
Se timbrou na tarde
Brasa se apagando
Mas que ainda arde

Bombeio a paisagem
Lembrando nós dois
Mas várzeas de saudade
Não engordam bois

Desde que partiste
Chegou a estiagem
Minha alma triste
É como a paisagem...

E alguma lágrima
Me molhando às vezes
Lembra que nos campos
Já não chove há meses

Mas se tu voltares
Minha linda, eu juro
Choverá a cântaros
Neste fim de mundo

E as sangas que secaram
De sede e saudade
Ganharão os pastos
Só pra ver tua imagem

E as sangas que secaram
Romperão suas margens
Espelhando a volta
Da felicidade.


Martim César

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tenho andado mal dormido... com paixões demais pra um. Antônio Augusto Ferreira








Nos olhos da madrugada

Já são tantas madrugadas
ponteadas
Nessas milongas que escrevo,
enlevos
De alguma charla de amigos,
abrigos
Pra estima que não tem preço.

Desfaço assim da saudade
que invade
Minha alma escrava dos versos,
converso
Com a solidão nos meus mates
e no catre
Repenso o meu universo.

Na várzea dos meus amores
as flores
Resistem, desafiando o silêncio,
luzeiros
Fazendo a noite mais bela,
pra ela
Razão de tudo o que penso.

Se a vida vai-se a lo largo, que importa?
Se guardo em mim tantas brasas...
Nas asas da melodia a poesia
Vai me encontrar, algum dia,
De volta ao rumo das casas.

Não tenho mais que algum sonho
que exponho
Pelas aguadas do canto,
enquanto
Lá fora o tempo que passa
acha graça
Dessas quimeras que planto.

Mas com bem pouco me basto,
meus rastros
Hão de ficar pela estrada,
trilhada
Pelos confins desse pago
que eu trago
Bem vivo em cada palavra.

Martim César

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Somos o que fazemos e principalmente o que fazemos para mudar o que somos. Eduardo Galeano





No outono dos calendários

No outono dos calendários
O menino se torna um velho
Sem entender em que horários
Nasceram rugas no espelho

Os retratos nas gavetas
Relembram velhas histórias
Que vão sumindo na poeira
Dos caminhos da memória

Partem amigos e amores
Deixando atrás o silêncio
Vamos ganhando de ausência
O que perdemos de apreço

No outono dos calendários
Caem as folhas dos dias
Os homens abrem suas asas
Deixando as casas vazias

Seguimos sempre a corrente
De um rio que acaba no mar
Que passa tão velozmente
Que nem parece passar!

O tempo não passa a esmo
E nos cobra ao passar seu preço
A vida que segue em frente
Nos traz a morte do avesso

Quem sabe seja o final
Somente um outro começo???