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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Por alguns dias o blog ficará com os poemas esperando para criarem vida... (para manutenção... do blogueiro!)

Feira do livro - Musicanto - Califórnia - e o festival dos campos neutrais (Jerra) nos esperam.

Dia 01 de dezembro estaremos de volta.

Ass.: Os poemas

'Um pedaço de presente, e um pedaço de passado... tudo isso enraizado no subsolo da gente. Jayme Caetano Braun (Ruy Ramos)

Imagem: Leandro Barrios



Temporal de Santa Rosa

Lá fora se apruma o tempo
Temporal de chuva e vento
Carregando a escuridão
Cá dentro o mesmo alvoroço
O mesmo ar de retoço
De saudade e solidão

Minha vó cortava em cruz
Com machado e fé em Deus
Os perigos da tormenta
Minha vó - doce lembrança
Dos meus tempos de criança
Do jardim e da água benta

Os antigos professavam
Fim de agosto : “Santa Rosa”
Vem tropeando seus trovões
Não se cruza os alambrados
Que neles brincam os raios
Partindo ao meio os moirões

Lá fora o céu veio abaixo
E o vento reponta ao tranco
A tropilha do aguaceiro
Cá dentro o peito se acalma
Talvez prá forjar a lágrima
Que vai vir de sinuelo

Naqueles dias - me lembro
Minha mãe tapava espelhos
Com medo desses mandados
Trancava portas e janelas
Pois sendo chuva de pedra
O estrago vinha dobrado

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Canta a tua aldeia e serás universal. Tolstoi

Leandro Barrios

Baixada das lavadeiras

Rumo do centro pras vilas
Bem antes da Ponte Preta
Na rua detrás do asilo
No altar comum das piletas...

Enxugavam ali a pobreza
Entre o sabão e o suor
Lutando pra ter na mesa
O pão de um dia melhor

Bate-que-bate nas tábuas
Espumando os empedrados
Dos banhadais de arrabalde...
Em ti volto a ser menino
Pra enxugar meu destino
De ser cantor de saudades

Baixada das lavadeiras
Memória viva da infância
Hoje tuas vozes me chegam
Cruzando tempo e distância

Baixada das lavadeiras
Tuas águas já não estão
Se foram nas corredeiras
Da história de Jaguarão

No Cerro das Irmandades
Paisano, tire o chapéu
Pois ali mora a saudade
De quem já se foi pro céu

E logo embaixo, nas sangas
Na mormaceira ou no frio
Lavadeiras se arremangam
Nas águas que vão pro rio

Martim César

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer dividir um planeta e uma época com você." Carl Sagan






Alquimia

Pela lei dos corpos em movimento
Forças centrífuga e centrípeta
Teu corpo, meu corpo
Exata sincronia

Pela lei da vibração molecular
Dilatação dos líquidos
Meu sangue, teu suor
Alquimia perfeita

Pela lei da gravitação universal
Meteoro no teu mar
Meus olhos, tuas órbitas
Explosão de supernova

Pela lei da relatividade
Espaço-tempo indivisível
Eu em ti, tu em mim
Átimo infinito

Pela lei quântica dos átomos
Indecifrável conceber
Eu contigo, tu comigo
Minha única lei.

Martim César

terça-feira, 16 de novembro de 2010

As falhas dos homens eternizam-se no bronze, / As suas virtudes escrevemos na água. William Shakespeare


Sertão das águas

Arrepare n’água, seu moço
Parece ser tão igual
Mas o seu jeito de poço
Dá bem a cor do seu mal

Eu vô fiando essas rede
Tentando sobrevivê
Olhando o rio, que de sede
Já não faz mais que morrê

Meu pai contava, seu moço
Que em tempos do meu avô
Havia festa... alvoroço
Na volta dos pescadô

Agora as rede se some
Pelas fundeza do rio
E quando voltam os home
Só barco e olhos vazios

Não sei vivê doutro jeito
Sou pescadô de pequeno
De quando as água do leito
Não conheciam veneno

Vejo no olhar do meu filho
A mesma interrogação
Pra quê as rede que eu fio
Se a vida volta mais não?

Martim César

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Corrientes, tres,cuatro, ocho... Y todo a media luz... crepúsculo interior... a media luz los besos,a media luz los dos... (Carlos Lenzi/Carlos Gardel



Bajo aquel farol

Bajo aquel farol
De la vieja esquina
Tus labios de niña
Callaron mi voz
Allí nació el amor
Ese Dios cruel
Que solo una vez
(Tan solo una vez)
Quizás por compasión
Regala su dulzor.

Y fueron tantos días
De ensueño y de ilusión
Y después...
Después se fue la vida
Llegadas y partidas
Mezclando lluvia y sol
Y así perdió el amor
En una despedida
Bajo un farol de esquina
Y ya no fuimos dos.

¡Cómo pasa el tiempo!
Me dijiste ayer
Al volverme a ver
En un casual encuentro
¡Qué fuerte es la corriente!
Después de tantos años
Hoy solo dos extraños
Se miran frente a frente.

Y por última vez
Nos dimos un adiós
Y me alejé de ti...
Mi alma estaba gris
Más gris mi corazón
Y bajo aquel farol
Al fin yo comprendí
Las trampas del amor
Y dije para mi:
(Tan solo para mí)
¡Yo nunca te olvidé!
Martim César


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Espere sentado, ou você se cansa... está provado: quem espera nunca alcança! Chico Buarque

Artista: Leandro Barrios




Para os que semeiam futuro

É preciso semear a insensata alegria
Quando a dor nos devia amargar a emoção
É preciso a coragem de afirmar o destino
E enfrentar os abismos que nos impõe a razão

É preciso cuidado, que a mão boa não falte
Que a estiagem não mate a colheita do pão
É preciso cuidado, ademais da experiência
É preciso a ciência de saber a estação

Mas acima de tudo é preciso esperança
Esse olhar de criança a pedir nossa mão
E é preciso cuidado... sim!
É preciso cuidado que este tempo nos pede
E a vida é mais breve do que esta canção

Porque somos raiz
Razão da terra nos frutos que vingarão no futuro
Porque somos país
Nação a buscar outros rumos para um tempo mais justo

Seguimos, alma livre e libertária
Nem a morte nos separa desse dia que há de vir
Seguimos, coração feito guitarra
Mãos abertas que preparam um amanhã menos servil.

Martim César

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vamos celebrar o instante... que o abraço dos amantes justifica o universo.

A balsa

Naquele ônibus
Há muitos anos atrás,
Cruzando pela balsa que cortava caminho
Entre Jaguarão e Rio Grande,
Eu pensava:
Nesse ir e vir eu já havia feito mais de três vezes
a volta no planeta.
Era muita distância percorrida.
Muita...
Mas isso não era o que me impressionava.
O que me admirava,
O que me causava verdadeiro espanto
Era que,
Com todo aquele caminho e tempo já vencidos,
Eu ainda não havia conseguido
me encontrar.



Martim César

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ah!A poesia... se não me perguntam o que é, eu sei. Se me perguntam: já não sei!

Pontuação

Tenho tudo
(ou quase tudo)
Para ser feliz
Ponto

Quase sou feliz
Reticências

Portanto
Dois pontos

Não sou feliz
Ponto final

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É essa emoção fundamental que está na raíz de toda ciência e toda arte. Albert Einstein






Para os dias que virão...

Não me peças que eu seja um rio sereno
Desses que eternizam tardes calmas
Minha vida é mar revolto, sol a pleno
Nunca pude dar silêncio à minha alma!

Desde o dia em que abri as minhas asas
Compreendi que buscar rastros era em vão
Quem partiu e depois quis voltar às casas
Só encontrou em seu regresso a solidão

Mas, companheira, quando chegas de mansinho
Nesse rancho onde eu guardei meu coração
Em teus olhos eu encontro o meu caminho
E já não temo mais o frio dos dias que virão

Mas, companheira, no calor do teu carinho
O meu inverno se aconchega em teu verão
E enfim entendo que já não quero ser sozinho
E arrumo o rancho para os dias que virão

Não me peças que eu seja um rio sereno
Igual a esses que enfeitam as paisagens
Minha vida é mar revolto, sol a pleno
Águas rebeldes alargando as suas margens

Quando se tem no coração noites escuras
Vale bem mais a frágil luz de cada estrela
Pequeno ser que a cada passo se pergunta
Que vale a vida... se a vivermos sem vivê-la?


Martim César

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Si piensas volver al pago, no tardes mucho...que el tiempo cambia la vida de tu lugar.




Olhar de pueblo

Cai a tarde sobre as coisas do lugar
Deixa brasas sobre o cerro e sombreia o casario
Segue ao largo o rio menino, a cumprir o seu destino
De eterno peregrino que jamais pode parar
A cidade dorme o seu sono interiorano
Recordando o lume antigo de outras luas
De antes mesmo do seu tempo...
Vai sonhando com jaguares e Charruas
Com guerreiros e índias nuas
Os primeiros habitantes destas matas e aguadas

A cidade dorme o seu sono centenário
Sob o olhar do campanário que embala os casarões
Vai sonhando com a pompa de outras eras
Com metais e com brazões
Com suas damas, seus barões
Seus senhores de escravos e charqueadas
Poucos sabem que a sua história é bem maior
Que essa que ficou nos livros
Ou nos tão pobres motivos dos nobres ricos de agora
Poucos sabem que a sua história é bem maior
E ainda vive nos arquivos
Quase mortos mas tão vivos
Da memória dos avós!

Seu silêncio tem a voz do cantar das lavadeiras
Ou de uma praça de carretas que já não existe mais
Seus rumores são aboios no corredor dos tropeiros
Ou o lamento dos barqueiros na fúria dos temporais
Suas sombras têm fantasmas que ainda guardam ruínas
De uma velha enfermaria, herança dos ancestrais
Que lembra um tempo de guerra
O sangue por sobre a terra
E o alto preço da paz.

A cidade dorme o seu sono quase eterno
Lembra as missas de domingo e suas moças na janela
Seu sotaque fronteiriço traz recuerdos de Castela
Seus portais e suas fachadas, seus adornos e arabescos
Sabe a Mouros na Ibéria e a princesas encantadas
A cidade dorme o seu sono provinciano
Seu futuro previsível independe dos profetas
Mas sua alma adolescente se revela todo dia
No pensar dos seus boêmios, seus cantores e poetas
E o seu povo verdadeiro
dorme num banco de praça.



Martim César

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A solidão de um amor é uma prisão pelo avesso...estamos fora, libertos, sonhando em estarmos presos.

A una lágrima de rocío

Sé que te irás
Por el camino que una vez
Te trajo a mí
Dejándome
Sólo una lágrima de adiós
En tu partir
Gotas de sal, mi soledad

Te olvidarás
De aquellas tardes de promesa
Y sol de abril
Lejos demás
Aquel pueblito y los paseos
Por su río
Tiempos de sol... nuestro soñar

Pero por más lejos que vayas,
Amor mío,
Jamás te olvides
Que como las aguas
De aquel río
El tiempo pasa

Quizás mañana sea invierno
Y tengas frío
Y al recordarme
Una gota de rocío
Se anide para siempre
En tu mirada


Martim César